Tudo O Que Eu Vi Não é Tudo o Que Eu Preciso Aprender

Débora Otoni
Debora Otoni
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3 min readSep 6, 2018

Eu tinha 15 anos e tivemos uma ideia genial. Eu e meu pai como sempre, tentando desafiar as leis da física e de qualquer outra coisa que exista como absoluta e impossível na vida.

A ideia mirabolante foi: pular o ensino médio. Isso mesmo amigos. Long story short, eu fiz vestibular em dia faculdades particulares, passei ópfio, entrei com uma liminar na justiça, enquanto eu cursava o primeiro período faria as provas do Supletivo para ter meu diploma do ensino médio.

Meu pai achou que isso era uma ótima solução porque ensino médio era “perda de tempo”. Eu ia gastar minha adolescência aprendendo coisas que eu não ia usar mesmo. E, realmente, não me fizeram falta na faculdade. Passei de todos os períodos com facilidade e meu TCC foi aprovado com 10 é muito louvor (com muito louvoooooooor!!!)

O que a gente não colocou no cálculo foi que, apesar do ensino no Brasil realmente não criar cidadãos e sim robôs, escravos das contas e posses; tinha alguma coisa ali que eu precisar aprender para vida. Eu deixei de conviver com meus amigos, da minha idade, que podiam ser lá mais imaturos ou menos isso ou aquilo que eu, mas eram as pessoas da minha idade.

Eu pulei o fim da minha adolescência e posso estar até hoje nesse ciclo sem fim e interminável. Aos 31 não me sinto adulta, não entendo certos padrões adultos e acho certas coisas uma chatice.

Essa ideia e essa nossa decisão não foi de toda ruim. Aos 18 anos eu já estava formada. Claro que eu não sabia o que eu queria e talvez eu tivesse descoberto isso lá se tivesse feito as coisa no tempo certo. Mas, não tudo o que eu vivi não foi um desperdício de tempo.

Há pouco tempo eu finalmente, assumi/descobri que quero escrever for a living. Se alguém pergunta meu emprego/trabalho hoje eu falo com a cara da sem vergonha que sou escritora. Acho que estou trazendo a existência algo que ainda não é completamente.

Estou correndo atrás, porque com 31 anos né a gente já tinha que estar um pouco mais estabelecido na vida PORÉM tudo bem estar fora do padrão e da “timeline” do sucesso.

Eu poderia sentar e estacionar na vida e justificar minhas frustrações e insucessos em cima disso tudo. Mas eu escolhi surpreender as frustrações!! Preferi, no entando, olhar as coisas que aconteceram e me atrapalharam de alguma forma com olhar de graça e esperança.

“Já passou”; “já perdoei”; “já esqueci”; “espero que não aconteça de novo” são mantras que carregamos para sobreviver a essas experiências vividas. A gente vive tentando fechar ciclos, reprocessar e/ou enterrar traumas para ver se dói menos; para tentar respirar com menos dificuldade. O que a gente sofreu realmente nunca vai ter um lado bom. Sofrer é sempre ruim. Mas pode ter um fim proveitoso.

O que a nossa pele sofreu e nossa alma sentiu (e vice e versa) podem e vão ser parte da gente pra sempre. Descobri que melhor é redirecionar essas coisas ruins ou que nos fizeram perder tempo e emoção na vida, entendendo que elas podem ser úteis para alguma coisa.

Não é porque algo foi ruim que ela será inútil. E pra que a gente entenda que até o ruim coopera para o bem da nossa formação enquanto seres humanos, a gente precisa de um coração novo.

Um coração que tem sede mas que não é uma demanda. Um coração que encontrou-se com a Fonte que ressignifica tudo. E que, por causa disso, mata a sede dos outros também.

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