Vida Fácil.

Débora Otoni
Debora Otoni
3 min readApr 6, 2018

--

ou "em busca da facilidade"

"Mãe, o choro é salgado!", anunciou Joaquim enquanto voltávamos para casa. Foram 6 dias na casa da vó, na nossa antiga cidade. A volta nunca é fácil. Literalmente, sentar na fileira 31, com duas crianças, uma cadeira quebrada, é para poucos. Vencer a disputa pelo assento da janela e remediar Isabel, que dessa vez teve que sentar no meio, é um nó que demorei quase 1 hora e 20 para desatar. Enquanto tudo isso acontecia, a aeromoça brigava comigo, minha cadeira estava reclinada!! Na verdade ela estava quebrada tive que manter uma postura desconfortável durante todo o vôo para não ser chamada atenção. Oh fun!

Joaquim é emotivo. Mas na hora que ele descobriu que a lágrima tinha um sabor, o rosto se ilumou de novo enquanto ele discorria sobre sua nova descoberta — o choro tem gosto de água do mar.

Muitas vezes buscamos meios, caminhos, formas de tornar a vida mais fácil. Acho até que a busca pela felicidade é confundida de tempo em tempo por busca por facilidade.

Procuramos o que (ou quem) pode fazer a vida mais "carregável". Queremos o topo da montanha sem passar pelas trilhas inexploradas ou aqueles caminhos cheio de obstáculos. Nosso alvo é sempre "chegar lá" o mais rápido e ilesos possível.

Só que fácil demais é sem graça, sem gosto, sem sal. A vida precisa ser temperada, e, o que dá sabor ao caminhar, na maioria das vezes, são as lágrimas. De repente chorar é constatar que se está vivo e progredindo. Você anda, você chora. Suor corre na sua pele, VIDA corre nas suas veias. Dói porque ainda é vivo e sensível. As dificuldades não te mataram ou te endureceram o suficiente.

Precisamos parar de procurar o que ou quem vai fazer as coisas mais fáceis e começarmos a olhar o que (ou quem) pode nos inspirar e nos fazer passar por essa travessia muitas vezes tida como insuportável para nós.

Sim, life sucks sometimes, mas é ali no meio do suor e do choro que a gente se recompõe para dar mais passos. Que a gente escolhe focar no que importa. Que a gente escolhe nossas guerras.

Só quem chora pode ser consolado. Só quem suou bastante pode sentir o alívio de uma ducha gelada! Só quem cai e levanta tem graça para levantar quem passa pela sua caminhada.

Então, cata seus caco, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima, meia volta, volta e meia e vamos lá! Não importa a volta que você tenha que dar lembre-se há graça — que é igual força e ânimo — disponíveis na e para a jornada.

"No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo…", anunciou Jesus enquanto dava suas instruções finais aos seus discípulos. Ele lembra que muita gente quer o filho (progresso) mas não quer a dor do parto (processo). Na verdade, Ele pede para que essa seja a nossa imagem mental quando a vida apertar — algo está para nascer, só que pra nascer, vai doer.

A razão de existir não é encontrar felicidade, nem facilidade. Vivemos para caminhar, nosso ir faz a estrada, nossa luta faz a alegria, nossa dor faz a leveza. E assim vamos, caminhando, plantando, chorando, colhendo, repete.

--

--