O corpo e o afeto

Declama, Mulher!
declamamulher
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1 min readFeb 7, 2023

Muitas das limitações que fazem parte de mim se originaram pelo corpo. Pelas escolhas que fiz envolvendo meu corpo. Pelo olhar vazio do mundo diante dos rumos que tomei. Pela palavra suja direcionada a algo unicamente meu. As palavras escorrem de mim quando a lembrança é essa. E a única lágrima que os anos não conseguem secar. Às vezes, me pego chorando como aquela menina de quinze anos ao ouvir os deboches e xingamentos pela janela do quarto. Ao ouvir expressões que não consegue mencionar ao enfrentar os cochichos de parentes e vizinhos a respeito de seus caminhos. Falta enxergar a singularidade do corpo alheio. Algo que só pertence ao outro saber. Sentir. Escolher. Já desejei me despedir deste corpo e fazer morada em outro que carregasse menos fendas e mais afeto. Meu corpo já foi sujo em mesas cobertas de julgamento. Meu corpo já foi protagonista de uma humilhante exposição. Amar este corpo é um desafio todos os dias. Ele é quente. Macio. Tem cicatrizes. Manchas. Feridas. Memórias bonitas. Ele me mantém atenta e não desiste nunca de mim.

Texto enviado por Flávia Santos | insta: @escritadoavesso

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