Você gostava de brincar de quê?

Declama, Mulher!
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2 min readJan 22, 2023

Fiz essa pergunta aos meus pais. a primeira resposta que eu tive foi: não tinha tempo de brincar não, brincava com a enxada. escutar isso foi doloroso.

Então insisti mais um pouco e eles começaram a contar. Fiquei com vontade de abraçar a criança dos meus pais.

Nesses últimos dias li também o livro da @jaridarraes corpo desfeito, que tem uma narrativa brutal sobre os traumas e as marcas da infância contada no corpo de 12 anos da personagem Amanda.

Tudo isso pra justificar as linhas abaixo. tudo isso porque as vezes o abraço vem em forma de texto.

Poema enviado por Camila Inácio | Instagram: @camiinacio_

|| Memórias do brincar ||

Um planeta chamado infância.
Lá o tempo é atemporal só pela graça de existir.

Maria do Espírito Santo era a filha mais velha da dona Rosa.

Quando cresceu, mudou de nome, virou Silvia.
Apesar de não ter nenhuma fotografia,
lembra da sua boneca de sabugo de milho e de brincar de comida de verdade embaixo do pé de cajueiro.

Raimundo não era o filho mais velho da dona Isabel.

Quando cresceu, mudou de rosto, deixou o bigode crescer.
Apesar de não ter nenhuma fotografia,
lembra do seu pião feito de pinhão,
lembra do cercadinho de jatobá que na sua imaginação eram as vacas,
e de brincar de cavalinho com pau de carnaúba.

A brincadeira tem memória, afeto e brilho nos olhos.

Às vezes ela vem em forma de carinho e com cheiro de pitomba.

Quando brincamos, sentimos fantasia, poesia.

Brincar é um estado de ser,
uma linguagem.
Nasce com a gente ou da gente.

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Declama, Mulher!
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Mulheres que escrevem Mulheres que declamam Mulheres que têm voz e não se calarão