Você gostava de brincar de quê?
Fiz essa pergunta aos meus pais. a primeira resposta que eu tive foi: não tinha tempo de brincar não, brincava com a enxada. escutar isso foi doloroso.
Então insisti mais um pouco e eles começaram a contar. Fiquei com vontade de abraçar a criança dos meus pais.
Nesses últimos dias li também o livro da @jaridarraes corpo desfeito, que tem uma narrativa brutal sobre os traumas e as marcas da infância contada no corpo de 12 anos da personagem Amanda.
Tudo isso pra justificar as linhas abaixo. tudo isso porque as vezes o abraço vem em forma de texto.
|| Memórias do brincar ||
Um planeta chamado infância.
Lá o tempo é atemporal só pela graça de existir.
Maria do Espírito Santo era a filha mais velha da dona Rosa.
Quando cresceu, mudou de nome, virou Silvia.
Apesar de não ter nenhuma fotografia,
lembra da sua boneca de sabugo de milho e de brincar de comida de verdade embaixo do pé de cajueiro.
Raimundo não era o filho mais velho da dona Isabel.
Quando cresceu, mudou de rosto, deixou o bigode crescer.
Apesar de não ter nenhuma fotografia,
lembra do seu pião feito de pinhão,
lembra do cercadinho de jatobá que na sua imaginação eram as vacas,
e de brincar de cavalinho com pau de carnaúba.
A brincadeira tem memória, afeto e brilho nos olhos.
Às vezes ela vem em forma de carinho e com cheiro de pitomba.
Quando brincamos, sentimos fantasia, poesia.
Brincar é um estado de ser,
uma linguagem.
Nasce com a gente ou da gente.