3 práticas internacionais para inspirar os Núcleos de Inovação Tecnológica do Brasil.

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DEEP Wylinka
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5 min readMay 17, 2017

Recentemente, um excelente estudo sobre os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) brasileiros da Universidade de Cambridge (Inglaterra) apontou as principais características e desafios de tais organizações no nosso país. O estudo - que levantou dados de dezenas de NITs do país - apontou que, em média (com grande variância), os NITs estão ligados a universidades com mais de 1000 funcionários, possuindo 7 pessoas em seu corpo de funcionamento, sendo 2 pessoas com alta titulação acadêmica, 1 pessoa especializada em propriedade intelectual e com alto índice de rotatividade de pessoas. Nesse contexto, alguns dos principais desafios identificados pela pesquisa:

  1. Desafios quanto à comercialização das tecnologias: na comercialização, foram identificados os problemas de bypass (tecnologias sendo transferidas sem intermediação institucional, gerando problemas na propriedade intelectual) e uma baixa demanda de mercado nacional e internacional para as tecnologias desenvolvidas nos centros de pesquisa.
  2. Desafios institucionais: especialmente relativos ao apoio recebido pelas universidades(ou similares) em que os NITs se inserem — além de problemas de relacionamento específicos com tais instituições.
  3. Desafios na estrutura de recursos humanos: além de não haver muitos recursos financeiros disponíveis, é apontado o desafio dos NITs em (a) possuir pessoas suficientes para cuidar dos processos de transferência, (b) ter equipe capacitada para apoiar as negociações e (c) manter uma baixa rotatividade garantindo motivação no ambiente de trabalho.

Diante desse diagnóstico, nós, da Wylinka, temos desenvolvido diversos trabalhos de aperfeiçoamento de ferramentas para apoiar os NITs brasileiros — especialmente frente ao cenário econômico conturbado atual. No meio dos nossos estudos e trabalhos com NITs de todo o país (FIOCRUZ, Rede NIT Ceará, Rede de NITS da Amazônia Oriental, NIT do Instituto Agronômico de Campinas etc.), descobrimos algumas boas práticas internacionais que se mostraram bastante úteis, e esse post é para compartilhar um pouquinho com vocês que nos acompanham.

Boa prática 1: o Design Thinking como elemento de facilitação para comercialização de tecnologias.

Sendo uma das maiores preciosidades que identificamos para melhoria dos nossos trabalhos com os NITs, encontramos um excelente trabalho apoiado pelo governo do Reino Unido para a aplicação de Design Thinking em seus TTOs (Technology Transfer Offices, como são conhecidos os NITs em muitos lugares do mundo). Além de termos feito contato com alguns dos líderes desse programa no Reino Unido, trouxemos a discussão para estudos internos da Wylinka sobre processos de transferência e percebemos muita riqueza no processo. É uma ferramenta excelente para otimizar os resultados de identificação de mercado, além de gerar um nível de engajamento com o público envolvido que torna a prática atrativa para diversos agentes (instituição, pesquisadores e outros). A inspiração principal está nos processos de pensamento convergente e divergente (para alguns autores chamado de processo de diamante duplo):

O material que levantamos você pode baixar aqui. Nossa equipe inclusive produziu um paper (a ser publicado) sobre a adaptação do modelo britânico a um contexto nacional utilizando um dos serviços que a Wylinka mais presta para os NITs, a Diligência de Inovação. Querendo conhecer mais, é só nos procurar!

Boa prática 2: orientar-se sob a perspectiva de um modelo de maturidade.

É muito fácil apontar para os NITs internacionais e reclamar da realidade brasileira, assim como é muito fácil desenhar cenários ideais no qual tudo funcionaria perfeitamente em um NIT. Mas como diversos pesquisadores ligados aos ambientes de empreendedorismo e inovação do mundo inteiro tem apontado: não é somente vislumbrar o cenário ideal, o importante é refletir sobre os processos de transformação dos ambientes. Compreender que organizações passam por um processo de amadurecimento é fundamental, e nós conseguimos encontrar um estudo bastante recente de pesquisadoras da Itália que apontam um Modelo de Maturidade para NITs em economias emergentes. A compreensão das etapas é de extrema valia para nós aqui da Wylinka na hora de refletir sobre as necessidades de um NIT, fazer um diagnóstico sério e planejar etapas de desenvolvimento para conquistar objetivos interessantes na transferência de tecnologia. O estudo você pode conferir clicando aqui.

Boa prática 3: compreender as competências necessárias para gerar inovação em um contexto acadêmico.

Há muita atenção para as questões institucionais e burocráticas relativas ao papel de um NIT em uma instituição de pesquisa, porém — e isso também ocorre em outros braços de fomento a empreendedorismo e inovação nesses espaços — pouco se fala sobre os aspectos humanos envolvidos na formação de empreendedores/inovadores acadêmicos. Um dos maiores diagnósticos que se tem sobre NITs — e universidades em geral — no que se refere a empreendedorismo são os diversos esforços realizados, mas comportamentos humanos por parte dos envolvidos que impossibilitam o desenrolar das inovações. Esse acaba sendo um aspecto cultural de ambientes acadêmicos do mundo inteiro, e o estudo "How can universities facilitate academic spin-offs? An entrepreneurial competency perspective" de pesquisadores da Noruega e da Inglaterra traz um bom framework de competências ligadas ao processo de transferência de tecnologia, além de práticas concretas em todos os níveis de uma instituição acadêmica. Os autores apontam três grandes competências: (i) capacidade de identificar e explorar oportunidades; (ii) capacidade de se conectar com um propósito e engajar outras pessoas para o mesmo; (iii) capacidade de captar e organizar recursos em torno de uma oportunidade. O estudo tem se tornado uma referência para as pesquisas em empreendedorismo acadêmico — e aponta atividades específicas para os NITs nesse sentido, como criar espaços para exploração/identificação de oportunidades, acesso a contatos do mercado, suporte à construção de um time de fundação e relacionamentos para financiamentos externos. Por ser bastante profundo, recomendamos a leitura do paper completo clicando aqui neste link do Journal of Technology Transfer.

Considerações finais

Consideramos muito importante esse diagnóstico feito pelo pessoal de Cambridge, e em cima disso temos desenhado diversas estratégias para melhor desempenho dos NITs no país. Essas três boas práticas trazem muitos benefícios positivos — muitas delas ajudam o NIT a melhor se posicionar dentro das instituições acadêmicas (evitando o bypass e se tornando maior referência para os gestores institucionais), garantem melhor atmosfera de trabalho devido aos trabalhos mais motivadores e bem direcionados (minimizando turnover e atraindo pessoas mais qualificadas) e otimizam os resultados comerciais por melhor identificar e explorar as oportunidades de mercado a partir das tecnologias vindas da pesquisa acadêmica. Nós realmente acreditamos no papel dos NITs, e esperamos que com esses materiais vocês possam amplificar o impacto do seu trabalho nesse importante órgão acadêmico!

Because when you rock, #wyrock!

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Somos uma organização sem fins lucrativos que tem como propósito mobilizar e desenvolver instituições e ecossistemas para a inovação e o empreendedorismo.