A exótica “Por Trás de Seus Olhos”

Rodrigo Alves
DELÍRIO POP
Published in
3 min readMar 28, 2021

O mais recente sucesso da Netflix, “Por Trás de Seus Olhos” (ou Behind Her Eyes), é uma minissérie de seis episódios baseada no livro homônimo escrito por Sarah Pinborough. Contando com bastante suspense psicológico, a série se equilibra para segurar o telespectador e mantém um ritmo lento.

Capa promocional da minissérie na Netflix

A história acompanha a rotina de Louise (Simona Brown), uma mãe solteira que trabalha como secretária em uma clínica e começa a ter um caso com seu mais novo chefe, David (Tom Bateman). Logo em seguida, ela inicia uma estranha amizade com Adele (Eve Hewson), a esposa de seu affair. A partir daí, o público é conduzido por uma série de jogos mentais, com revelações e reviravoltas surpreendentes e um “quê” sobrenatural ao final.

Olhando a fundo

Porém, para atingir seu ápice do suspense e das revelações, a minissérie se arrasta durante os seus quatro primeiro episódios, sendo segurada pela excelente atuação dos três protagonistas e seus jogos de olhares, momentos de tensão e um clima passivo-agressivo no ar. Como telespectadores, nós somos guiados pelo ponto de vista de Louise, que acaba sendo jogada para a vida do casal, transformando-a em um triângulo improvável. Tudo isso acaba deixando aquela curiosidade em querer descobrir, junto à ela, o que está acontecendo naquela relação tóxica.

Enquanto Louise administra as duas relações, ficamos pensando: será que David é abusivo? Ou Adele é controladora? Quem está certo ou errado? Louise, sai dessa, menina! Essas dúvidas ajudam a sustentar os episódios iniciais até a ação chegar de fato. Confesso que, se você não for envolto pela série até o fim do segundo capítulo, vai acabar abandonando. Então, é preciso estar bastante atento para que o suspense no ar consiga atiçar a sua curiosidade e o faça chegar até o final.

Adele, David e Louise formam o trio principal

Como comentado acima, um ponto alto é a atuação de Simona, Tom e Eve. Simona entrega uma Louise carismática e fácil de se apegar, apresentando também seus desafios como uma mãe solteira, que precisa cuidar da educação do filho e, também, manter seu trabalho na clínica. Além disso, ela possui algumas questões pessoais como o desejo de se envolver romanticamente com alguém, após relações furadas no passado e, o mais importante, os pesadelos noturnos, que acabam sendo uma chave para a reviravolta da história.

Tom e Eve apresentam personagens igualmente interessantes e misteriosos. Conseguimos ficar divididos por David e Adele da mesma forma. Ao passo em que sentimos pena, podemos sentir raiva e desconhecer aquele personagem completamente com uma nova revelação. Além disso, Adele lembra muito a Amy Dunne, personagem de Rosamund Pike em “Garota Exemplar”. E essa semelhança é a cereja do bolo, pois ela consegue entregar algo muito parecido e atrativo.

Louise e seu filho em mais um pesadelo noturno

A partir do fim do quarto capítulo já conseguimos prever um pouco do que está por vir, mas não literalmente. Quando o segredo final é revelado, a virada é tão inesperada, que parece não ter a ver com nada que vinha sendo apresentado antes. O roteiro encaixa uma pegada sobrenatural ou esotérica, que parece surgir sem mais nem menos e decepciona a quem esperava uma conclusão mais “física” e chocante da narrativa, pois a série tinha potencial para muito mais.

Será que a espera vale a pena?

A minissérie não é de se jogar fora, pois é uma produção bem feita, com uma ótima atuação e uma ambientação bastante atual, além de guardar os segredos necessários com cautela antes de apresentá-los. Mas talvez tenha sido cautelosa demais. Aguardar quatro de seis episódios para uma reviravolta sobrenatural e, até mesmo ofensiva, pode ser decepcionante para a maioria, como foi para mim. Mas não contarei spoilers. Em resumo, é uma trama exótica, que pode ser assistida em um final de semana e delirar quando não houverem outras opções na frente.

Delirômetro: 👻👻👻/5

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