A terrível beleza de “WandaVision”

Carol Lima
DELÍRIO POP
Published in
3 min readJan 20, 2021
Novas camadas de velhos conhecidos

Quando anunciado em 2019, no evento D23 Expo, WandaVision parecia um projeto um tanto… diferenciado. Afinal, uma sitcom envolvendo a Feiticeira Escarlate e o Visão certamente não fazia parte de quaisquer apostas sobre o futuro do MCU. O material promocional que se seguiu investiu cada vez mais no formato, mostrando-o através das décadas, mas agora era possível ver toques de mistério. Há algo de muito estranho ocorrendo, e é essa grande inquietação que serve de força motriz ao seriado produzido pelo Marvel Studios e disponível no serviço de streaming Disney+.

Situada após os eventos de “Vingadores: Ultimato” (2019), a série acompanha a vida de Wanda Maximoff e Visão, um casal incomum vivendo num clássico subúrbio americano televisivo através das décadas. Essa breve passagem já é o suficiente para causar certa confusão, decerto, e pode até afastar algumas pessoas de investirem seu tempo na obra. Uma pena, porque isso que resumi é apenas a superfície de algo surreal, desconfortável e até mesmo triste.

Agnes (Kathryn Hahn) é presença constante nos dois episódios. Mas quem exatamente é essa pessoa?

É com uma fluidez absurda que, mesmo assim, compramos essa ideia já nos momentos iniciais. Aceitamos que Wanda e Visão vivem numa espécie de mundo de sitcom das décadas de 50 e 60 (abordadas nesses dois primeiros episódios). Das aberturas de seriado (com jingles e animações), ângulos de câmera (o uso de muitos planos abertos), proporção de tela (4:3, evocando televisores de tubo), design de produção (figurino impecável e atmosfera digna de clássicos como “Jeannie é um Gênio” e “A Feiticeira”), atuações (Elizabeth Olsen e Paul Bettany exploram lados totalmente distintos de seus respectivos personagens até então) até, claro, a filmagem em preto e branco.

Monica Rambeau (Teyonah Parris) se apresenta como Geraldine, mas com incerteza. Por que será?

E justamente por nos fazer comprar essa adorável realidade com tanta astúcia que as puxadas de tapete nos fazem retornar à realidade de toda a situação, seja com um ângulo holandês, uma voz no rádio ou um item colorido. A construção de tensão para momentos desconfortáveis ou surreais é tamanha que paramos para pensar que, é mesmo, tudo isso não passa de uma mentira. Estaria Wanda se sujeitando a viver num mundo de fantasia para lidar com os traumas? Alguém a está usando? Alguém a está auxiliando? Quem quer tanto resgatá-la, ou assim parece ser? Quem é essa suposta nova agência? Quem são essas pessoas, construtos da mente dilacerada da heroína ou cobaias de sua dor? Visão está vivo apenas nesse mundo ou fora dele, graças aos poderes de Wanda?

Meus parabéns! São reais?

As perguntas continuam até quando a audiência volta a rir de alguma piada que fora proferida de forma natural até por demais. A sensação de estranheza te acompanha, enquanto os personagens seguem seus papéis. Mais uma situação engraçada ocorre. Você sorri, agora com certo desconforto. Nada disso está certo, mas você não consegue parar de acompanhar essa loucura. Ninguém está realmente feliz. Não passa de uma ilusão.

Restam 7 episódios, que serão lançados semanalmente. 7 belas farsas. Tudo isso culminará em eventos catastróficos para o resto da Fase 4 do MCU. A realidade será alterada de forma que o Dr. Estranho precisará intervir. Mas você não para de assistir essa pessoa se torturando com uma felicidade vã. Isso vai acabar. Apenas em março, mas irá acabar. Ou não. Continuará assistindo essa jovem em pedaços?

Afinal de contas, quem é você?

Delirômetro de primeiras impressões: 👻👻👻👻👻/5

--

--

Carol Lima
DELÍRIO POP

Um cérebro conectado a uma rede vasta e infinita que faz uns textos sobre a cultura pop e cria uns contos