Além dos cortes em benefícios sociais, Temer deve usar repressão no campo

eDemocratize
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3 min readApr 26, 2016
Foto: Fernando DK/Democratize

A “Bancada do Boi” no Congresso já deixou claro para o vice-presidente Michel Temer que o apoio ao futuro governo depende de “mediações” das Forças Armadas nos conflitos agrários.

O governo de Michel Temer nem começou, mas parece que o vice-presidente já começa a ceder posições e pactos com grupos políticos para manter uma estabilidade não encontrada pela atual presidenta, Dilma Rousseff.

Primeiro com o mercado: Temer se reuniu nesta semana com o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf. O objetivo da reunião foi traçar uma aliança de apoio ao futuro governo do PMDB, com a condição de Temer não aumentar impostos e muito menos bancar a CPMF. Ainda na economia, o vice-presidente traçou acordos com a oposição tucana para acelerar processos de privatizações pelo país, focando na infra-estrutura — aeroportos, rodovias e portos. Outro grupo é o Movimento Brasil Livre: Temer prometeu cortar gastos do governo federal para conciliar um ambiente estável nas ruas, evitando manifestações. Programas sociais devem sofrer ajustes — o que não significa acabar, mas sim dificultar o acesso.

Mas a nova vítima da vez são os sem-terra.

Segundo informações do jornalista do UOL, André Shalders, a chamada “Bancada do Boi” solicitou ao vice-presidente que a partir do momento em que ele assuma o cargo, coloque as Forças Armadas para mediar conflitos por terras no país.

Assim como os demais grupos, essa é uma das exigências que Temer deve enfrentar no caminho para conseguir um governo estável no Congresso.

A Frente Parlamentar da Agropecuária deve lançar um documento público nos próximos dias, com essa e outras demandas. As propostas serão entregues ao vice-presidente.

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Atualmente, a violência no campo ainda é uma realidade no Brasil, por conta do uso de força da Polícia Militar nos estados onde ocorrem, e também de criminosos que são geralmente contratados por fazendeiros para “resolver conflitos” e evitar invasões. Só em 2014, mais de 36 pessoas morreram em conflitos agrários no Brasil. O estado do Pará contabiliza o maior número de assassinatos, com 9 vítimas.

Para José Batista Afonso, advogado do CPT (Comissão Pastoral da Terra) Marabá, “isso é resultado de um processo de violência permanente no Pará”, por conta principalmente da “expansão do agronegócio na Amazônia”.

“A raiz do problema está na falta de democratização do acesso à terra. Enquanto não houver a reforma agrária, esses conflitos tendem a aumentar”, argumenta Alberto Pimentel, coordenador da Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH).

Neste mês, dois integrantes do MST morreram e ao menos seis ficaram feridos durante confronto com a Polícia Militar no Paraná. Os sem-terra acusam a Polícia Militar de efetuar uma emboscada contra os militantes. A ação teria ocorrido com a ajuda de “jagunços”, homens pagos por fazendeiros. O terreno ocupado pelo MST na região é da empresa Araupel, de reflorestamento e beneficiamento em madeira, e está ocupado desde julho de 2014.

Organizações e entidades como a Anistia Internacional, a Comissão Pastoral da Terra, o PSOL e o Movimento Passe Livre prestaram apoio e solidariedade aos sem-terra por conta do caso, que virou notícia internacional. Nos últimos dias, o Ministério Público solicitou novas diligências sobre a morte dos sem-terra no Paraná.

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