Candidaturas separadas de PT e PSOL abrem espaço para crescimento da direita

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4 min readSep 21, 2016
Foto: Wesley Passos/Democratize

Em Porto Alegre, a então favorita Luciana Genro (PSOL) perdeu espaço e ocupa hoje a 3º posição nas pesquisas, com 11,5% atrás do petista Raul Pont com 11,8%. Já em São Paulo, Haddad (PT) ocupa a 4º posição com 8,5% das intenções de voto, na frente de Erundina (PSOL) com 4,9%. O cenário é parecido com o do Rio de Janeiro.

Por Francisco Toledo

Diferente dos anos anteriores, hoje o PT divide o protagonismo eleitoral com outros partidos de esquerda, como PCdoB e principalmente o PSOL.

Algo que poderia ser visto inicialmente como positivo, por conta do crescimento de outras siglas, tirando do foco a imagem do PT como principal representante da esquerda brasileira.

Porém, ambos os partidos lançaram candidatos em pelo menos três importantes capitais do país nas eleições deste ano, abrindo espaço para um possível crescimento de partidos de centro e direita na disputa eleitoral.

É o caso de Porto Alegre, capital gaúcha.

Se Luciana Genro (PSOL) antes era vista como favorita para o cargo, a situação mudou completamente nos últimos dias. Ao lado do candidato petista Raul Pont, a esquerda em Porto Alegre perde para o novo favorito, Sebastião Melo (PMDB), que segundo pesquisa divulgada recentemente conta com 21% das intenções de voto. O levantamento foi feito pelo Instituto Methodus.

O cenário é parecido com o de São Paulo, onde Fernando Haddad (PT) e Luiza Erundina (PSOL) perderam posições e se encontram em situação delicada. O petista e atual prefeito ocupa apenas a 4º posição nas pesquisas, com 8,5% das intencões de voto, ainda na frente da deputada federal do PSOL, que conta com 4,9%. Os favoritos? O deputado Celso Russomanno (PRB) com 27,7% das intenções, seguido de João Doria (PSDB) com 21,2% e de Marta Suplicy (PMDB), com 19,5%.

Já no Rio de Janeiro, o PT dá lugar ao PCdoB, que disputa os votos da esquerda contra o PSOL e a Rede. Em primeiro lugar nas pesquisas, se encontra o senador e bispo da Universal, Marcelo Crivella (PRB) com 31% das intenções de voto. Em segundo lugar, Marcelo Freixo (PSOL) divide a posição com Pedro Paulo (PMDB), ambos com 9%. Já em terceiro lugar, a deputada Jandira Feghali (PCdoB) também divide a posição com outro candidato, no caso Flávio Bolsonaro (PSC) com 8%. O candidato da Rede, Alessandro Molon, não conseguiu emplacar sua candidatura, contando com apenas 1% das intenções de voto.

Foto: Wesley Passos/Democratize

A divisão da esquerda favorece a direita?

Podemos afirmar que sim.

Por exemplo: em São Paulo, o PT consegue tradicionalmente na capital garantir pelo menos 20% dos votos. Trata-se de um eleitorado fiel, que segue as políticas de linha progressista que eram defendidas pelo partido. Mas com o atual cenário pós-impeachment, a situação mudou.

A candidatura de Luiza Erundina pelo PSOL também acarretou na “transferência” de votos do atual prefeito para a deputada federal.

Mesmo assim ainda não é o suficiente para explicar a baixa adesão popular em ambas as candidaturas.

Já em Porto Alegre, o cenário é o mesmo — mas oposto. O grande favorito era justamente o PSOL, que apresentou o nome de Luciana Genro para a prefeitura. Porém, com pouco tempo de propaganda eleitoral na TV, ela acabou dividindo a intenção de votos com Raul Pont, do PT, abrindo brechas para o crescimento do candidato do PMDB.

No Rio de Janeiro, pode-se dizer o mesmo.

Até então, Marcelo Freixo era visto como figura garantida em um eventual segundo turno, provavelmente contra Crivella. Agora, perdeu votos para a candidata do PCdoB, Jandira Feghali, permitindo o crescimento de Pedro Paulo e até mesmo do filho de Jair Bolsonaro.

O tempo de TV também desfavorece as candidaturas

Porém, é um erro afirmar que o crescimento da direita tem como culpado exclusivamente a divisão entre a esquerda.

Por exemplo, PCdoB e PSOL possuem pouco tempo de propaganda eleitoral na televisão, se comparados com os candidatos do PMDB, PSDB e PRB. Isso acabou favorecendo Celso Russomanno em São Paulo, além do crescimento de Pedro Paulo no Rio de Janeiro e de Sebastião Melo em Porto Alegre.

Nem mesmo Fernando Haddad conseguiu tempo suficiente, se comparado com os demais candidatos favoritos em São Paulo, como João Doria e Marta Suplicy.

Foto: Gabriel Soares/Democratize

A direita saiu do armário

As candidaturas de Russomanno e Crivella, em São Paulo e Rio, são vistas como favoritas pelas pesquisas, e devem seguir até o segundo turno.

Ambos fazem parte do mesmo partido, o PRB, um dos maiores representantes da Bancada Evangélica no Congresso Nacional. Com discursos religiosos, que apelam para a moralidade contra avanços progressistas na sociedade, o crescimento dessas candidaturas mostra claramente que a direita saiu do armário.

Muito disso se deve ao próprio processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que abriu espaço para a queda do PT e das esquerdas na política institucional, permitindo a ascenção de políticos populistas e extremistas na direita.

Outro exemplo também acontece no Rio de Janeiro, onde Flávio Bolsonaro já ocupa a terceira posição nas pesquisas, ao lado de Jandira Feghali. Candidato pelo PSC, um dos partidos mais conservadores do país, Flávio é filho do deputado federal Jair Bolsonaro, visto como a maior figura da extrema-direita brasileira na atualidade.

Francisco Toledo é co-fundador e escritor pela Agência Democratize em São Paulo

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