Com “ciúmes”, MBL se infiltra em atos do Passe Livre

eDemocratize
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4 min readJan 15, 2016
Foto: Fernando DK/Democratize

Nas últimas manifestações contra o aumento da tarifa, o Movimento Brasil Livre — um dos organizadores dos atos contra Dilma Rousseff — infiltraram ativistas na tentativa de deslegitimar a mobilização do Passe Livre em São Paulo. Com uma cobertura negativa, parece que o MBL já sente ciúmes da atenção que o movimento contra a tarifa tem tido da grande mídia.

Parece até piada, mas não é.

O Movimento Brasil Livre, aquele que colocou centenas de milhares de pessoas nas ruas em 2015 pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, sente-se tão incomodado com as manifestações do Movimento Passe Livre a ponto de enviar ativistas para realizar uma cobertura negativa dos atos.

Na última manifestação contra o aumento da tarifa do transporte público, nesta quinta-feira (14), o MBL postou um vídeo em sua página no Facebook onde mostra um dos ativistas do movimento com um capacete de imprensa, relatando possíveis casos de vandalismo no metrô Consolação.

No vídeo, o ativista fala sobre “bombas de fabricação caseira” que teriam sido estouradas em direção ao metrô por “black blocs”, e ainda fizeram questão de ligar os anarquistas com militantes do MPL — uma clara tentativa de criminalizar e responsabilizar o Passe Livre pelos confrontos com a Polícia Militar nas manifestações.

Mas por que o MBL sentiria como ameaça a presença das manifestações do MPL na mídia e nas ruas?

A ameaça foi tanta que o movimento, que se diz libertário, chegou a defender a atitude da Polícia Militar contra os manifestantes na terça-feira, onde ocorreu um verdadeiro massacre que deixou mais de 20 inocentes feridos, inclusive profissionais da imprensa e uma mulher grávida. Uma verdadeira contradição: dizem lutar por menos Estado, mas quando o Estado aplica seus instrumentos de repressão contra manifestantes pacíficos, fazem questão de aplaudir apenas pelo fato de que a manifestação seja de esquerda.

Os ativistas liderados por Kim Kataguiri sentem medo de que as manifestações do MPL acabem desencadeando uma onda de revolta popular parecida com as Jornadas de Junho de 2013, onde as bandeiras mais levantadas nas ruas seguiram um padrão de políticas de esquerda: uma saúde e educação PÚBLICA de qualidade, com mais investimentos do Estado, além da redução da tarifa no transporte público, afetando diretamente as máfias representadas pelas empresas de ônibus ao redor do país.

Vale lembrar também que um dos afetados pelos protestos do MPL neste ano é o governador tucano Geraldo Alckmin, aliado do movimento. Neste ponto, fazem questão de ignorar as críticas do MPL ao prefeito petista Fernando Haddad — é claro, só eles podem apontar os defeitos do PT, por uma via de direita.

O temor é que uma nova onda de manifestações encabeçadas contra a tarifa acabe deixando o impeachment de Dilma Rousseff como segundo plano. Mas ao mesmo tempo, a própria presidenta já diz estar preocupada com uma nova onda de manifestações — mesmo que seja “pela esquerda” através do MPL.

Para muitos especialistas, as manifestações “carnavalescas” do MBL não representam ameaça ao poder, ao contrário dos atos do MPL | Foto: Felipe Malavasi/Democratize

Por isso, o MBL surge com uma nova tática na tentativa de criminalizar e esvaziar as manifestações do MPL — que, aliás, nunca precisou infiltrar ou até mesmo citar as manifestações promovidas pelo MBL, o que mostra o verdadeiro jogo sujo dos ditos “libertários” contra as manifestações contra a tarifa.

Na última manifestação desta quinta-feira, o MBL mente ao afirmar sobre as bombas de fabricação caseira. Apenas uma bomba caseira estourou durante toda a manifestação do Centro até o Masp, na região da Brigadeiro, resultando em um pequeno clima de tensão — mas que foi resolvido em poucos minutos, sem confronto. A bomba teria saído das mãos de um policial infiltrado, sendo que ela foi jogada em direção a uma praça onde vivem moradores de rua.

A polícia reprimiu o final da manifestação não por conta de “bombas caseiras” e sim pela tentativa de catracaço feita por alguns manifestantes na estação Consolação. Vale lembrar que o MBL chegou a PEDIR catraca livre ao governador Geraldo Alckmin em uma de suas manifestações. E ainda mais: em um dos atos de 2015, o metrô chegou a liberar a catraca para aqueles que participavam da manifestação anti-Dilma na Avenida Paulista. Portanto, criticar ou tornar “justificável” a ação da PM contra manifestantes que tentavam pular catraca, é no mínimo hipócrita.

O massacre de terça: segundo o MBL, foi justo | Foto: Alice V/Democratize

Para a próxima manifestação, o MBL deve enviar novamente ativistas para distorcer informações — já que eles não aparecem mais na mídia, algo que eles adoram.

Cabe aos manifestantes recebe-los bem, para demonstrar que não somos iguais a eles — já que nas manifestações pelo impeachment vários colegas de veículos como a Carta Capital foram agredidos e ameaçados.

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