Com solidariedade entre alunos de escolas diferentes, ocupações continuam

eDemocratize
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6 min readNov 17, 2015
Foto: Francisco Toledo/Democratize

Na manhã desta segunda-feira (16), mais uma escola foi ocupada na cidade de Osasco. Alunos da E.E. Heloisa de Assumpção, ocupada na semana passada, ajudaram os estudantes da E.E. Coronel Antônio Paiva, que fica a poucos quarteirões de distância. Com solidariedade entre os alunos, as ocupações seguem crescendo contra o projeto de reorganização do ensino.

Chegamos na E.E. Heloisa Assumpção logo cedo nesta segunda-feira. A intenção era acompanhar a ocupação da escola, feita na semana passada. Não deu tempo: os alunos da Heloisa ficaram sabendo de outra escola ocupada na região de Quitaúna em Osasco: a Coronel Antônio Paiva, que fica poucos quarteirões acima.

Fomos então com os alunos para a escola recém-ocupada. Ativistas da página O Mal Educado, que tem dado amplo apoio aos estudantes das escolas estaduais, nos acompanharam, além de um advogado.

Julia, uma estudante da escola Heloisa, levava uma caixa com alimentos para ajudar os alunos da Coronel, junto com faixas e cartazes. Um pouco de nervosismo tomava conta da adolescente, que parecia ter uma maturidade muito acima do esperado pela idade.

Quando chegamos na escola recém-ocupada, encontramos todos os portões fechados. Os alunos ocuparam, mas inspetores mantinham as grades fechadas para impossibilitar uma ocupação total do prédio. Não permitiram a nossa entrada, nem dos alunos da Heloisa, que demonstravam uma enorme vontade de ajudar os estudantes da Coronel.

Havia um grande temor de que os inspetores e a Diretoria da escola acabasse por manobrando a ocupação da escola, já que isso tudo ocorreu durante a manhã de segunda-feira, dando a possibilidade de que na troca de turnos entre alunos de manhã e tarde, a ocupação fosse desmantelada. Os inspetores, com o objetivo de esvaziar a mobilização, ligavam para os pais dos alunos buscarem seus filhos — a maioria não fazia ideia de que os alunos tinham ocupado a escola.

Para animar os alunos que estavam do lado de dentro, os três estudantes da Heloisa começaram a cantar gritos de guerra contra a reorganização e fechamento das escolas. Do lado de fora, também colavam cartazes feitos pelos alunos da Coronel, que pelo vão do portão, conseguiam passar para o lado de fora. Uma faixa foi colocada acima do muro, registrando oficialmente que a escola estava ocupada, e que os alunos só sairiam dali se o plano de reorganização do governo estadual fosse cancelado.

Demos várias voltas enquanto isso, tentando localizar portões de acesso e brechas que o muro dava para poder entrar na escola. Julia, da ocupação Heloisa, queria entrar no colégio para conversar com os alunos e ajudar no que fosse preciso — seja na alimentação ou disposição dos mesmos para continuar a ocupação.

A escola Coronel Paiva parecia um verdadeiro presídio: com muros em todos os cantos, o acesso era complicado. Do lado de dentro pouco se vê o sol, segundo uma aluna da escola que nos acompanhava, estudante do período da tarde. Mas mesmo assim é a escola deles, e eles não abrirão mão disso tão fácil.

Foto: Francisco Toledo/Democratize

Essa solidariedade entre os alunos de escolas diferentes mostra o quão forte tem sido as ocupações no estado de São Paulo. Segundo informações recentes, já são 35 as escolas ocupadas em pouco mais de uma semana de mobilização — e a tendência é que o número cresça.

Pudemos ver e acompanhar de fato que não se trata de uma mobilização de cunho partidário: eram os próprios alunos que tomavam o controle, e eles queriam deixar isso bem claro. Antes de chegarmos na Coronel, Julia e os outros dois alunos da Heloisa demonstravam uma certa preocupação de que o MTST leve bandeiras e faixas para dentro da sua escola ocupada. Queriam deixar claro que, apesar do apoio desses movimentos serem bem-vindos, essa mobilização é deles, dos alunos que serão diretamente afetados por um projeto que nem sequer foram consultados.

Nesta semana, movimentos estudantis e as ocupações prometem um dia nacional de mobilização pela educação. Uma jornada de lutas que começou com a ocupação em Diadema na segunda-feira passada, e ganhou força e reconhecimento da opinião pública quando alunos ocuparam a E.E. Fernão Dias Paes, na região nobre de Pinheiros. É esperado várias manifestações pelo estado e até mesmo pelo país, além de novas ocupações.

A juventude se mobiliza não só pela educação — mas como também pela participação nas decisões que afetam diretamente suas vidas. Essa vontade de participar e ditar seu próprio futuro tem sido a característica mais positiva dessa mobilização, que mostra que a nova geração que vem ai, os pós-junho de 2013, conseguiram captar a mensagem dos protestos que pararam o Brasil ainda melhor do que a nossa classe política atual.

Julia, aluna da E.E. Heloisa Assumpção, conversa do lado de fora do portão com alunos da recém-ocupada E.E. Coronel Antônio Paiva | Foto: Francisco Toledo/Democratize

Veja a lista atualizada de escolas ocupadas em São Paulo até o momento:

1 — EE Coronel Antonio Paiva Sampaio — R. Ananias de Almeida, 145 — Quitaúna
2 — E.E. Prof. Heloisa Assumpção — Av. Cmte. Sampaio, 1399 — KM18
3 — E.E. Stela Machado — Rua Wenceslau Braz, 1573 — Bauru
4 — E.E. Suely Machado da Silva — R. Porto Velho, 1851 — Franca
5 — E.E. Mario Avezani — R. Manoel Valério, 139 — Santa Cruz dos Palmares
6 — E.E. Professor Silvio Xavier Antunes — Rua José da Silva Martha, 150 — Piqueri
7 — E.E. Martin Egidio Damy — R. Paulo Garcia Aquiline, 406 — Brasilândia
8 — E.E. Castro Alves — Rua Francisco Bruno, 67 — Vila Mariza Mazzei
9 — E.E. João Kopke — Alameda Cleveland, 331 — Campos Elíseos
10 — E.E. Godofredo Furtado — R. João Moura, 727 — Pinheiros
11 — E.E. Fernão Dias Paes — Av. Pedroso de Morais, 420 — Pinheiros
12 — E.E. Ana Rosa de Araújo — R. Éden, 100 — Vl Inah
13 — E.E. Comendador Miguel maluhy — Estr. dos Mirandas, 40 — Vila Nair
14 — E.E. Mary Moraes/Sul 1 — Av. Mal. Juarez Távora, 257 — Morumbi
15 — E.E. Profª Neyde Apparecida Sollitto — Rua José Maria Pinto Zilli, 696 — Jardim das Palmas
16 — E. E. Professor Flávio José Osório Negrini — Rua Casimiro, 66 — Jardim Olinda
17 — EE Elizete de Oliveira Bertini — R. Avaré, 37 — Jardim Dom Jose
18 — EE José Lins do Rego — Estr. M’boi-mirim, 2463 — Jardim Ângela
19 — E.E. Professora Marilsa Garbosa — R. Paulo Lemore, 1 — Jardim São Luis
20 — E.E. Sinhá Pantoja — R. Simão de Lemos, 60, São Paulo
21 — EE Antonio Manoel Alves de Lima — Rua Pietro Casella, 7 — Jardim Novo Santo Amaro
22 — EE Padre Saboia de Medeiros — R. Américo Brasiliense, 1297 — Chácara Santo Antônio
23 — E.E. CEFAM Diadema — Rua Antônio Doll de Moraes, 75 — Centro
24 — E.E. Delcio de Souza Cunha — R. Beliza, 85 — Canhema, Diadema
25 — E.E. Américo Brasiliense — Praça IV Centenário, 7 — Centro, Santo André
26 — E.E. Professor Oscavo de Paula e Silva — R. Pacaembu, 96 — Bangú, Santo André
27 — E.E. Prof. José Augusto De Azevedo Antunes — R. Tatuí, 397 — Casa Branca, Santo André
28 — EE Antônio Adib Chammas — R. Prof. Oliveira Campos, 230 — Jardim S Cristina, Santo André
29 — E.E. Valdomiro Silveira — R. Agostinho de Campos, 80 — Jardim Silvana, Santo André
30 — EE Prof Maria Elena Colonia — R. Guadalajara, 135 — Parque das Americas, Mauá
31 — E.E. Santinho Carnevale — R. Reg. Feijó, 670 — Ribeirão Pires
32 — E. E. Cohab Inácio Monteiro III — Rua Igarapé da Bela Aurora, 435 — Cohab Inácio Monteiro
33 — EE Presidente Salvador Allende Gossens — R. Domingos Lisboa, 119 — Jardim Bonifacio
34 — E.E. Prof. Astrojildo Arruda — R. Domingos do Sacramento, 275 — Vila Carolina
35 — E.E. Roger Jules de Carnavalhomange — R. Estudantes da China, 570 — Itaim Paulista

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