Cuidado, é assim que nasce o autoritarismo

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3 min readNov 1, 2018
Foto: UOL Notícias

Pense bem, cuidado, é assim que nasce o autoritarismo: militares e juízes se tornam políticos, ministros se transformam em “super-ministros”, presidentes são chamados de “mitos”. E você?

Por Francisco Toledo

O que é uma democracia?

Em tese, ainda vivemos em uma.

Elegemos um presidente através do voto, assim como temos o direito de escolher nossos representantes na Casa do Povo. Deputados federais, estaduais, senadores e vereadores. Temos um Ministério Público, um Supremo Tribunal. Analisam e julgam.

Na prática, isso tudo faria sentido. O problema é que o ser humano é falho, e as teses não se concretizam na prática.

E se elegermos um presidente que promete mudar as estruturas de poder do país? Em tese, isso seria positivo. Afinal, nossa sociedade — até globalmente e não restrito ao nosso país — se demonstra cansada, exausta e indignada com os rumos que estamos tomando.

Mas e na prática, qual é o efeito disso?

Um presidente não é mais um presidente. É um mito. Um homem que aponta o dedo para quem apontar uma falha sua. Não um homem, perdão. Um ser extraordinário que cria a sua própria verdade, passando por cima de qualquer análise que contrarie a sua. É um semi-Deus, que estampa camisetas na multidão que o segue, que acredita na sua verdade, independente de quem aponte o dedo e diga “não é bem assim”.

Um ministro do governo não é mais um simples ministro. Sob sua responsabilidade, não estão mais assuntos burocráticos que lhe correspondem apenas uma pasta qualquer. Eles se tornam “super-ministros”. Agora, não lideram apenas a Agricultura. Junto, ele pode comandar o Meio Ambiente. Duas contradições em uma função? Não. Ele é um super-ministro. Um individuo que carrega em suas mãos um poder tão importante quanto o mito que ele ali representa.

Um juiz de primeira instância já não é mais um juiz qualquer. Ele é o super-ministro da Polícia. Já não importa mais a contradição em sua história e discurso. Ele tem nas mãos a chave que prendeu um ex-presidente. Não o mito, apenas um mero ex-presidente. Essa chave não servirá para abrir as grades. Agora, ele é um super-homem. E a oposição, escolhida para ocupar os cargos que já não importam mais, estão sob sua jurisdição — e seu olhar atento.

Se lembram do PSDB? Esqueçam. São apenas homens. Não são semi-deuses. Não são super-homens. Não são mitos. Serão engolidos aqueles que não terão mandato para se proteger. De Temer até Geraldo Alckmin. Homens falhos que se prenderam em práticas antigas.

E os militares?

Para eles, nosso juramento. Não faremos igual os nossos vizinhos, que sob democracias falhas os recolhem nos quartéis. Aqui, eles terão uma cadeira especial. Não, uma não. Algumas. Ou todas? Se é assim que nosso vice-presidente General quiser, obedeceremos.

Digo, não vivemos mais uma democracia prática.

Não aceitaremos mais as práticas do ser humano comum. Elas são falhas, repletas de erros e enganos. Elas machucam, decepcionam, causam indignação. Não queremos, não aceitamos mais isso.

Agora queremos um governo que aceite apenas uma verdade: a dele mesmo.

Queremos viver teses. Não aceitaremos nada menos do que isso. Uma tese não machuca, uma tese não decepciona, uma tese não compromete a imagem daqueles que escolhemos.

Uma tese é a verdade absoluta.

E assim nasce o autoritarismo.

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