Fora Temer é consenso, mas Diretas Já ecoam pelas ruas

eDemocratize
eDemocratize
Published in
3 min readSep 7, 2016

--

Foto: Fernando DK/Democratize

Afinal de contas, qual é a voz das ruas? Fora Temer, eleições diretas, greve geral? Conversamos com alguns manifestantes no último domingo (04), quando 100 mil pessoas ocuparam as ruas de São Paulo contra o novo presidente, para entender as opiniões que mobilizam todo o país na última semana.

Por Carol Nogueira

A insatisfação popular com o impeachment de Dilma Rousseff (PT), que levou Michel Temer (PMDB) a assumir definitivamente a presidência, após manobras institucionais, parlamentares, judiciais e o respaldo da grande imprensa, mobilizou milhares de pessoas para a Avenida Paulista no último domingo (4). O local também foi palco das manifestações que pediram o afastamento da petista e o que se viu, foi um ato tão cheio e tranquilo quanto dos “canarinhos” verde-amarelo.

Há mais de uma semana ocorrem manifestações pelo “Fora Temer” e em todas a Polícia Militar reprimiu os manifestantes, uma jovem perdeu a visão do olho esquerdo, jornalistas da mídia alternativa foram agredidos, tiveram seus equipamentos destruídos e muitas pessoas ficaram feridas por balas de borracha e estilhaços de bomba. Por sua vez, Temer satirizou os atos reduzindo as milhares de pessoas para 40 e destacou “ações de vandalismo” ao invés da truculência da PM.

O ato de domingo, foi organizado pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, que são formadas pela coalizão de diversos movimentos para barrar o ajuste fiscal, o corte nos direitos dos trabalhadores e a onda conservadora no país. Inicialmente, ambas pediam Fora Temer, mas durante as manifestações anteriores surgiu a bandeira: Diretas Já que vem dando o tom das mobilizações em São Paulo.

Foto: Fotos Públicas

Nas ruas e redes sociais, percebe-se que diante da impossibilidade de renúncia de Temer, o grito por Diretas Já surge como alternativa para restabelecer o regime democrático, sequestrado com a anulação dos 54 milhões de votos nas eleição de 2014. Para Esther Solano, socióloga e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) as Diretas Já não tem grande força mobilizadora ou agregadora. “Não são todos os movimentos sociais que concordam com essa pauta.Tampouco o próprio PT aceita e pelo que me parece não terá viabilidade real,embora seja um clamor legítimo”, diz. “Acho complicado derrubar o governo Temer, dependerá da relação com a base alidada, que ele necessita para votar as reformas e da “habilidade” política que ele e Meirelles tem neste assunto. O desempenho econômico do país vai ser essencial para diminuir ou aumentar a legitimidade e Temer”, destaca.

Nos próximos dois anos, as medidas anunciadas por Temer vão atingir especificamente a classe trabalhadora, com o corte nos direitos trabalhistas como o seguro desemprego, a reforma na Previdência, que propõe aposentadoria apenas para pessoas com 65 anos, suspensão de metade dos recursos para as Universidades Públicas e redução no orçamento da saúde e educação em 2017.

De acordo com Esther existe uma janela de oportunidade com a oposição ao governo Temer. “A esquerda deveria aproveitar isso para unificar a luta contra este retrocesso, mas é importante, a esquerda deve sair da órbita petista, porque o PT continua com a mesma política de alianças e vendido aos setores mais reacionários. A mobilização progressista contra o retrocesso de Temer, da bancada fundamentalista, necessita começar a pensar fora da esfera a influência do PT”, avalia.

Veja o que mobilizou algumas pessoas no domingo:

Carol Nogueira é repórter e jornalista pela Agência Democratize em São Paulo

--

--