#11 cansei das telas mas tô aqui

Carolina Bataier
Diário do fim do mundo
2 min readJun 19, 2020

Começou numa reunião. Um dos coordenadores falou: temos que pensar estratégias para quando chegar no Brasil, porque vai chegar. Magina, não chega. Essa frase, fantasiada com asinhas verdes de esperança, brincou na minha cabeça. Eu ainda curava a ressaca do carnaval.

Duas semanas depois, fim de expediente, eu colava nos murais da empresa cartazes com informações sobre os cuidados para prevenir o contágio pelo coronavírus: lavar as mãos, usar álcool gel. Quatro dias depois, eu já trabalhava de casa e lá se vão três meses. 92 dias hoje, para ser exata.

O mundo, aos pouquinhos, vai voltando ao normal. Fiquei emocionada quando os jogadores de futebol entraram em campo na Alemanha, e eu nem gosto de futebol, mas era uma fagulha de normalidade.

Não aqui, obviamente.

Lembro, nos primeiros dias, das lives do Átila Iamarino (quanto Átilas nascerão na pós quarentena?) falando de 80 mil mortes, no melhor dos cenários. A esperança, já meio cambaleante, insistia no magina, não chega, e estamos quase lá. Depois, quando notamos que algumas pessoas não se preocupavam tanto assim — entre elas, o presidente do país— alguém falou: o pior dos cenários é uma volta à rotina mas sem a segurança da normalidade.

Bem-vindos ao pior dos cenários, ele chegou.

Aprendemos algumas coisas, como confiar na ciência, conviver com o medo e as melhores técnicas para lavar os produtos do supermercado. Na minha ilha de privilégios, aprendi a alegria existente em receber pelos correios um mixer walita. Chegou hoje e tenho feito planos incríveis de receitas envolvendo frutas, iogurtes e cereais. Amanhã é dia de faxina, o que me deixa contente porque, além de me movimentar, terei ocupação longe das telas. Depois, vou pintar caixotes e ler. Escrever, talvez. Apesar de ser uma tarefa necessária, é cada vez mais incômoda, porque só se realiza diante do computador e ando exausta das telas.

Bem agora, que comecei um projeto novo, olha só, este post inteirinho era para contar que estou publicando um livro aqui no Medium. Mas tem isso, né? A ausência física das pessoas faz a gente querer falar pelos cotovelos até quando era para ser um textinho só, coisa breve para contar a novidade. Mesmo quando estamos exaustas da tecnologia, contudo, continuam sendo as telas, três meses depois, a melhor forma de aproximação com os outros seres humanos.

E aí, como faz? Na dúvida, fica em casa. E, se quiser, vem ler O mundo é pequeno para quem é piranha.

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