Mulheres no mundo de TI

Por que elas criaram e depois sumiram da Programação

Fabio Mont’Alegre
DER UMWELT

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Ada Lovelace, filha do poeta Lord Byron, é considerada a primeira pessoa a escrever um algoritmo. Em 1843, Ada publicou a transcrição de uma palestra sobre a máquina analítica de Charles Babbage, que foi o primeiro computador de uso geral, e criou códigos que podiam ser rodados na máquina.

Quarenta anos depois, em 1881, o mercado de trabalho americano passava por um momento interessante. O telégrafo, a grande sensação tecnológia da época, passava a ser operado quase que totalmente por mulheres. Os homens, que o operavam antes, irlandeses na sua maioria, bebiam muito e erravam os códigos que encurtavam as mensagens, e acabavam truncando o conteúdo delas.

Foi a melhor decisão para os empregadores: além de serem muito mais produtivas que seus maridos, elas ganhavam menos.

Deu tão certo que, quando a rede de telefonia foi implantada, as operadoras de telégrafo viraram as telefonistas. E quando os grandes computadores começaram a ser usados, as programadoras, perfuradoras de cartão, eram em sua maioria, também mulheres.

O número de mulheres programadoras começou a diminuir com a criação do PC, o computador pessoal. Vendidos em revistinhas de meninos, o marketing vendia os PCs como um kit de ferramentas.

Quando chegavam na universidades, as mulheres acabavam encontrando uma horda de nerds que já sabiam programar. O medo de achar que não iriam se adaptar, a chamada síndrome do impostor, batia forte e elas acabavam optando por outro curso.

E assim o mundo da programação foi dominado por homens até os anos 90, quando apareceu a Internet. As meninas, que até então não tinham muito interesse no PC que o irmão usava, aprenderam que aquele barulho que não as deixavam usar o telefone eram pessoas conversando, pelos computadores.

Com a explosão das .com, o interesse feminino em computação aumentou bastante, mas as universidades americanas não estavam preparadas para recebê-las. Com um budget que não previa tamanho crescimento na demanda por vagas, a maior parte das universidades resolveu dificultar as primeiras fases do curso para dar uma peneirada. As mulheres, tendo que competir por vagas com os homens que em geral já sabiam programar, mais uma vez procuravam mudar de curso.

Hoje em dia, a situação tá começando a mudar. A demanda por programadores nunca foi tão grande e os salários iniciais são uns dos melhores do mercado. As mulheres hoje vêem a programação como uma área com oportunidade de crescimento numa economia instável.

Mas elas têm que enfrentar uma certa cultura já estabelecida por anos de dominação masculina.

É o que se chama de Brogramming. Uma cultura de clube do bolinha, “os bros”, que é vista com um certo ar de misoginia hoje em dia à luz de um tempo que pede igualdade.

Nos EUA, a coisa é séria. As conferências e feiras de negócio de TI pararam de contratar as gostosas dos stands, por exemplo. Isso é um começo, mas muito ainda precisa ser feito para tornar essa indústria menos desconfortável para as programadoras.

Eu e Rafa Spoladore discutimos sobre isso no último episódio do Umwelt , que você pode ouvir no player abaixo ou assinar o podcast via iTunes.

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