Táxis, Uber e A Tecnologia Exponencial

Quando a tecnologia é boazinha com você e com o seu concorrente também

Fabio Mont’Alegre
DER UMWELT

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Li recentemente dois livros que citam passagens do manifesto do Unabomber. Ele odiava tecnologia porque achava que ela estava nos aprisionando. Na concepção dele, estávamos nos afundando num mundo de comodidades que iam, certamente, nos levar para o fundo do poço.

O mais curioso sobre ele é que, apesar de viver numa cabana recluso num estado de total abnegação das facilidades que a vida moderna nos proporciona, depois que foi preso descobriram que ele adorava ir no Walmart comprar potes e outras bugigangas para a cozinha que ele poderia, sem muita dificuldade, ter fabricado ele mesmo.

Apesar da sua demência, muitas das suas opiniões sobre tecnologia fazem bastante sentido, tanto que rendem citações em livros sobre o assunto. O maior erro dele era achar que as pessoas se sentiam aprisionadas pela tecnologia.

No fundo, as pessoas sentem um imenso grau de liberdade com as novidades que ela traz. Desde as pequenas coisas, como poder tirar uma foto de um documento ao invés de ter que entrar numa fila de uma loja com uma copiadora; até as maiores e mais intensas, como trabalhar de casa para uma empresa do outro lado do mundo. A sensação é que vivemos melhor com a tecnologia do que sem ela.

Sou um fiel usuário do 99Táxis, um dos aplicativos mais usados para se marcar corrida de táxi nas grandes capitais do Brasil. Tive uma reunião no último feriado (!) e estava conversando com um motorista que pedi via aplicativo e ele falou que o app mudou a sua vida. Ele estava ganhando mais, uns 30% a mais no fim do mês e estava preferindo trabalhar aos fins de semana e feriados, para evitar a loucura do trânsito de São Paulo — win win situation, mais grana, menos stress.

É inegável que no caso dos taxistas, as novas tecnologias de geolocalização e comunicação instantânea melhoraram suas vidas. Agora eles têm a possibilidade de escolher melhor os horários que trabalham para evitar o trânsito engarrafado, não precisam voltar para o ponto depois de uma corrida longa, podem até abandonar a sua concessão.

“Nada aconteceu no mundo até 1980. Talvez a revolução industrial.” — Steve Coast #

Só que a ruptura que essas tecnologias causam não para aí. Se o taxista agora pode largar o ponto, por que alguém com um carro não pode ir um pouco mais longe e largar a própria licença do táxi?

É isso que está acontecendo com o Uber e com o mundo, estamos vivendo uma era de tecnologia exponencial onde tudo vai mudar muito rápido.

Essa semana aconteceram novos protestos de taxistas contra o Uber em São Paulo. Mais do que está sendo reivindicado, que o Uber não paga as mesmas taxas que eles porque não é um serviço regulamentado (não vou nem falar no desconto de 30% que os taxistas têm na compra de veículos no país), o que está em jogo é a concorrência pelo usuário de smartphone.

Em alguns anos, a “corrida” vai ser para o Uber o que os livros são para a Amazon

O que parece passar desapercebido é que um serviço premium como Uber pode fazer com que mais pessoas abandonem o carro de vez e esse “bolsão de usuários” aumente várias vezes. No final, vai ter cliente para todo mundo.

O Uber deve começar a focar mais em corridas mais longas (aeroportos) e serviços (autenticação de documentos em cartório), aliás essa possibilidade é a grande razão da empresa estar avaliada em 41 bilhões de dólares. Em alguns anos, a “corrida” vai ser para o Uber o que os livros são para a Amazon.

O que quero dizer é que tem uma lição a ser aprendida quando uma hora você está comemorando que está ganhando mais dinheiro e seis meses depois você está com uma plaquinha dizendo que outro serviço vai roubar toda sua clientela (o que já falei que acredito bem improvável de acontecer).

Temos que aproveitar esses tempos de volatilidade para experimentar mais. É isso ou nada. É surfar essa onda de liberdade e pensar no que você pode fazer para se beneficiar dela. No caso dos taxistas, é a hora de talvez escolher melhor os dias e pegar menos trânsito, pensar se realmente vale a pena entrar num financiamento de 30 anos de uma concessão de ponto de táxi e, porque não, comprar um carro preto tentar o Uber, diversificar.

Já entendemos que gostamos desse novo mundo de possibilidades. Que não nos sentimos aprisionados nele. Só não sacamos que é um exercício diário observar as coisas com um pouco mais de afinco.

Acabou o “pensar fora da caixa”. Agora é a hora de pensar dentro da caixa e achar um jeito de fazer algo diferente com as limitações das suas paredes.

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