#01 Conto: Quais são as chances?

Gênero: Drama

Derek | O Garoto das Artes
5 min readMay 24, 2019
Foto por Larm Rmah em Unsplash

-Eu estaria mentindo se disse-se que não sinto falta deles. É sobre aquele maldito dia em que tudo foi tirado de mim.. tudo isso é por causa daquele dia. Droga.. você pelo menos me entende?

Diz Elisa enquanto olha para sua mão. Um grande ponto escuro - uma marca de nascença em sua mão se tornou sua melhor amiga que sempre esteve ali para ouvi-la. Mas não é uma marca comum, pois era sua única ligação com o passado no qual lhe trazia boas lembranças.

Antes do acidente de sua família, Elisa e seu irmão gêmeo brincavam com o ponto escuro. Contavam histórias quando crianças em que o ponto que os dois tinham na mesma mão, era uma ligação mágica entre eles. Poderiam até voar quando dessem as mãos no exato ponto escuro. E quando estavam longe um do outro, poderiam se comunicar através dele. Talvez fosse imaginação de crianças, não importa, era uma forte ligação que só eles dois tinham.

-As vezes.. eu só queria que você me respondesse. Como os velhos tempos.. se algum de vocês está aí do outro lado desse ponto preto.. pai? mãe? maninho? sinto saudades..

-Vamos lá Elisa! Todos já estão esperando, a competição já vai começar!

Diz seu treinador. Um cara legal que lhe adotou faz um tempo, mas isso só depois de 7 lares adotivos que passou quando criança. Ele nunca foi um pai para Elisa, e sim um grande investidor de talentos. Isso bastou para Elisa pois ele e ela nunca quiseram uma nova família. Os interesses entre os dois eram apenas profissionais. Ele sempre a treinou como nenhum outro para alcançar seu potencial, e ela, se sente serena quando consegue chegar nos seus limites ultrapassando muitos competidores como umas das melhores patinadoras do mundo. Tudo era uma tentativa de esquecer o trágico acidente do passado.

Depois de arrumar seu patins, Elisa se levanta em direção ao portão de entrada da corrida. O ano é 2092 e o patins aqui usado possui um motor elétrico capaz de garantir grandes velocidades em uma pista de corrida com viradas giratórias de 360º e inclinações que uma pessoa comum não conseguiria manter o controle enquanto subisse. Mas essa não é um competição para pessoas comuns, é a final do maior campeonato de um esporte que é uma febre no mundo todo.

Elisa está bem no placar, bem adiantada ao ponto de só faltar uma pontuação para vencer. Só precisa chegar em primeiro lugar nesse round.

A Corrida frenética começa e os 80 corredores disparam da largada. Muitos caem no começo tragicamente por esbarrarem um no outro sem querer, e alguns até se empurram de propósito com a tentativa de eliminar um concorrente. Elisa é conhecida mundialmente como sendo uma Patinadora voraz e isso a torna com certeza um alvo para muitos que tentam se dar bem de forma agressiva.

Derrubar um adversário não é o jeito certo de competir para Elisa, até porque nesse momento ela consegue se sobressair acima de tudo desviando de forma surpreendente os obstáculos humanos com manobras que animam a torcida. Na maioria das vezes eles torcem para Elisa com gritos escaldantes, mas agora parecem estarem gritando o nome de outro competidor que também está se destacando.

Depois de olhar para a torcida em sua volta, Elisa percebe um amontoado de patinadores do seu lado direito. Todos meio que nervosos tentando ultrapassar um ao outro com cotoveladas e empurrões. No meio disso tudo o patinador que se destaca pela multidão ultrapassa todos do amontoado e dispara em grande velocidade à frente para o primeiro lugar.

Elisa nunca tinha reparado nesse patinador e se surpreende em ver sua habilidade na corrida. Ele é mais um que parece não precisar empurrar seus adversários para se destacar. Com um sorriso no rosto e um olhar determinado, ela fica animada em alcançá-lo e vencer a partida que está perto do fim.

Em uma disputa acirrada em que os dois estão lado a lado em alta velocidade, o que seria perigoso para muita gente, é notório que nenhum deles pensa em trapacear. Elisa se diverte nessa situação e se sente forte ao estar ali. É nesses pequenos momentos em que ela sente como se estivesse se desgrudando do chão e finalmente voando com rodas nos pés. É uma sensação quase que mágica quando ela sente o vento batendo em seu rosto, e por um pequeno momento quando quase flutua do chão nessa velocidade, ela consegue esquecer do trágico acidente de sua família.

Estando confiante, Elisa fecha os olhos para aproveitar melhor o momento até quando escuta o Patinador ao lado gritando para ela:

-Não pense que irei pegar leve com você, garota! Isso é muito importante para mim!!

Ao olhar para o lado, Elisa percebe que no rosto do patinador há grandes marcas de queimadura. Algo bem notório mas que ela não tinha reparado antes pois estava ocupada demais.

Elisa não diz nada. Simplesmente dá um sorriso e dispara para a linha de chagada. Nesses pequenos segundos ela pensa que talvez isso tudo seja tão importante para ele quanto para ela, e que talvez seria interessante conhecê-lo depois da corrida. Talvez seja alguém que finalmente consiga entendê-la. Mas agora, é hora de ganhar.

Passando pela linha de chegada, ela percebe por um instante que logo atrás dela, o patinador na qual esteve em sua cola tropeça e cai direto no chão. Mesmo com todos os gritos da multidão pela sua vitória, Elisa só conseguiu se preocupar em dá a volta e ajudar o garoto que agora está jogado na pista.

-Hey! Você está bem? — diz Elisa ao chegar perto e oferecer ajuda pro garoto se levantar.

-Sim.. hã.. acho que sim.. — diz o garoto que estende a mão depois de retirar e jogar sua luva protetora para o lado com um pouco de raiva de si mesmo.

No momento em que o garoto estende sua mão, Elisa o segura, mas percebe algo estranho e familiar na mão dele. Uma marca de nascença. Um grande ponto escuro.

Ela segura melhor a palma do garoto chegando mais perto para ter certeza daquilo. Será possível? Pensa Elisa.

Dando um passo para trás assustada, ela reconheceria mais do que ninguém aquele grande ponto escuro. Depois de olhar novamente para a queimadura no rosto do garoto, percebe que talvez isso tudo faça sentido. Mas quais são as chances disso acontecer?

Ela retira sua luva jogando para o lado e estende sua mão aberta para o garoto. Ao meio de tanta gritaria da torcida, tudo agora parece está acontecendo lentamente e em silêncio quando grandes emoções estão prestes a transbordar de seu interior. Lágrimas caem de seu rosto.

-Edward, é você mesmo? Me diz que sim.. por favor..

O garoto que ainda se encontra no chão olha para a palma de Elisa e fica paralisado com a revelação. Lágrimas deslizam pelas feridas da queimadura que sofreu no trágico acidente de sua família. Edward diz com uma voz tremula:

-Meus deus.. eu te procurei pelo mundo todo.. e você está aqui na minha frente.. quais são as chances..?

Criado por key (Derek Cheyne)

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