5. Qual é a caixa?

Ana Pedersoli
Des(atando) NÓS
Published in
3 min readAug 18, 2023
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Parece que duas primaveras e dois outonos já se passaram por aqui, apesar de que tenho a impressão de não haver espaço e tempo neste lugar. Nem sei sobre o que falar com vocês, batatas… Estou me sentindo um pouco aérea ultimamente.

Esses dias estava pensando nas relações humanas, nas caixinhas que as classificam e nos fios que as conectam. O artista completo não é apenas capaz de atuar, dançar, ou cantar… Ele faz de tudo um pouco, eu só não disse que faz bem. O artista etc. está conectado a arte como se a própria fosse sua alma. Mas não é sobre isso que gostaria de falar por hoje.

Em meio a toda confusão de sentimentos, tempos atrás uma amiga tentou me ensinar o método da caixa de organização. O método persiste em três esferas: emoção, razão, realidade. Por exemplo: sujeito X conhece Y, não, espera, muita matemática. Romeu conhece Julieta (se me permite o empréstimo dos nomes, Mr. Shakespeare), mas eles só tiveram uma dança, como definir o que são?

  • Emoção: Romeu sente desejo e paixão; Julieta sente algo nunca sentido antes, sem definição.
  • Razão: Julieta, que já pensou sentir amor em outros carnavais, tem receio de estar sendo enganada por seus próprios sentimentos outra vez; Romeu, tão vivido e decidido, resolve não se envolver, mas será que é assim que funciona?
  • Realidade: aqui existem duas opções…

— Opção 1: na ausência de um diálogo, Romeu e Julieta interpretam os fatos conforme suas expectativas. Romeu almeja paixão e carpe diem; Julieta, um amor de verão, outono, inverno e primavera, ela deseja que ele seja o último. Acredito que já saibamos onde isso daria…

— Opção 2: a partir de um diálogo, em que Romeu expressa a intenção de que aquilo seja momentâneo, Julieta pode decidir entre ficar mesmo que não como gostaria ou cair fora. Ela também pode achar que ficando mudará as intenções de Romeu, mas independente de todo o carinho que ele lhe ofereça, as intenções só mudam quando comunicadas e, se você assistiu “Ele não está tão afim de você”, sabe que essa é a exceção.

Mas então, voltando para o lance da caixa. Digamos que você ou eu sejamos a Julieta da história… Que almeja conhecer alguém e saber o que é ter um relacionamento duradouro, já pensou sentir amor quando na verdade era um misto de sentimentos ligados a paixão. Almeja ser valorizado e tratado como acredita merecer, como aquela frase de “As vantagens de ser invisível”, porém, a impressão que você tem é de que as histórias apenas se repetem e que este alguém não existe.

Depois de algumas paixões disfarçadas de amor e antes de vir parar aqui, conheci uma pessoa que deixou claro o que queria desde o principio… Ela tinha a parte da atração, mas não queria se envolver. E foi ai que minha amiga trouxe a coisa da caixa e me perguntou em qual caixa eu o colocaria, se na do “casual” ou na do “algo mais”. Acontece que por muitas vezes coloquei alguém na caixa do “algo mais” cedo demais, o que me gerou relacionamentos tóxicos, platonismos e terapia. Mas a caixa do “casual” tal qual este é pintado, não faz sentido para mim. Gosto do contato, do apego, do chamego, não confundindo-os com dependência emocional.

Não definir qual era a caixa dele foi o que mais me pegou, já que gosto de estar no controle da minha própria história. A impressão que tive é a de que para ele eu estava na caixa do casual, o mesmo deixou claro a não intenção de apego. Entretanto, ele também se propôs a ouvir a música da banda que comentei, assistir aquela série italiana e cozinhar para mim… Seriam estas pequenas demonstrações de querer um algo a mais? Deixei no stand-by desta vez. E fiz bem em deixar assim, pois quando não o procurei, percebi que continuei naquela caixa para ele, independente das demonstrações ou das minhas constantes procuras por contato até cansar. Ele nunca teve uma caixinha, mas poderia ter sido um “e se”.

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