Editorial — Arte Urbana

(Des) Estigmatizar
des-estigmatizar
Published in
2 min readDec 3, 2018

por Guilherme Gomes

IMAGEM: DESESTIGMATIZAR/ Cristina Soares

Corrupção. Mortes. Desemprego. Educação precária. Sexismo. Racismo. Nazismo. O que fazer quando tantos problemas não cabem mais em cartazes e textos nas redes sociais? Uma das soluções encontradas não pede muito esforço para ser localizada: está no muro mais próximo.

De origem italiana, a palavra graffito significa “arranhado” ou “rabiscado”. Incorporada ao inglês, graffiti, veio para designar um tipo de arte realizada nas ruas e com forte intenção de intervenção na cena pública. Paralelo ao movimento nova-iorquino surgido nos anos 70, no Brasil uma manifestação semelhante se popularizou no final da mesma década, exatamente no período marcado pela transição do governo ditatorial cívico-militar à democracia. O grafite serviu como uma nova plataforma de direcionar críticas e realizar protestos ao regime, cujas primeiras manifestações ocorreram em São Paulo e posteriormente se difundiram nas demais regiões.

De acordo com o projeto Mídium Comunicação em Movimento, “acredita-se que a primeira manifestação de pichação tenha sido realizada em Pompeia, cidade italiana redescoberta séculos depois que o vulcão Vesúvio a deixou coberta por cinzas e lamas. Durante a investigação, arqueólogos e historiadores atentaram para vários escritos em muros feitos com carvão e contendo teores poéticos e políticos“.

Diante do cenário político caótico e em meio à tantos problemas sociais enraizados, a arte urbana desempenha papel fundamental quando se busca por chamar a atenção de uma forma direta e rápida. E está em toda parte: em colégios, em farmácias, outdoors, praças, viadutos, dentre outros. A prática do grafite e da pichação, embora diferentes em muitos aspectos, assemelha-se quando precisa de apenas uma ideia e uma lata de tinta para cumprir com seu papel: ser visto.

Ainda sob o estigma de ser um ato de vandalismo que danifica e enfeia patrimônios públicos, a pichação demonstrou ser uma nova voz que muitas pessoas encontraram para transmitir mensagens que relatassem não só os problemas que grande parte da população enfrenta, mas também mensagens de aceitação, afeto e esperança; qualidades essas que o povo brasileiro precisa mais do que nunca. Atualmente, a pichação é criminalizada em muitas cidades do mundo. No Brasil, a proibição legal foi estabelecida na Constituição de 1988, que classifica a pichação como vandalismo e crime ambiental. O grafite busca cumprir o mesmo papel, embora sua repreensão social seja consideravelmente menor.

O (des)estigmatizar, projeto criado por Cristina Soares, Guilherme Gomes e Júlia Duarte, segue sua missão de identificar e desmistificar preconceitos que se perpetuam no imaginário do público fortalezense, na intenção de demonstrar por meio de produtos jornalísticos a melhor forma de se combater a intolerância: com informação.

Porque de fake news, as cidades já estão cheias.

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