Editorial — Crença
por Guilherme Gomes
Bruxas são feias. Elas adoram o Satã. Podem não voar em vassouras, mas fazem coisas estranhas e nojentas. Espiritismo, umbanda, candomblé? Mesma coisa. A mesma bateção de tambor. Os mesmos rituais assustadores. As mesmas energias negativas. Mexem com coisa ruim. Macumba. O que se afasta do que eu conheço eu não vejo. E não quero. E não respeito.
Declarações como essas são comuns no âmbito social independente da época ou do ano. Apesar da histórica e diversa miscigenação do povo brasileiro, deparar-se com costumes e crenças diferentes do cristianismo, difundido há gerações pelos jesuítas durante o Brasil Colonial, ainda é motivo para estranhamento e julgamentos.
Os chamados “macumbeiros” povoam a imaginação brasileira como homens vestidos de branco que trazem desgraças e azar às pessoas com o uso de magia negra. Magia essa não muito diferente da utilizada pelas conhecidas bruxas, que possuem como fonte principal a adoração pelo Diabo. E os espíritas, que sempre são possuídos por espíritos malignos? Acreditar em tais histórias impedem as pessoas de conhecerem a verdade por trás de religiões ricas em conhecimentos e costumes. A natureza, os valores morais, a cultura de povos antigos, a realização e a liberdade: todos fazem parte de crenças tidas como estigmatizadas, mas que permanecem firmes em todo o território brasileiro.
Tratando-se de estigma, a palavra em questão refere-se à cicatrizes causadas por ferimentos. Já em seu sentido figurado, estigma se configura como algo indigno, ruim, desonroso ou com má reputação. Acredita-se que a palavra conseguiu essa significação devido a prática de marcar com ferro quente os braços e ombros de criminosos ou escravos. Quando se via o estigma em suas peles, já era possível identificar: o indivíduo tinha uma má reputação ou cometeu algum crime.
Trazendo para o sentido sociológico, temos o estigma social, caracterizado por um indivíduo ou grupo que segue o oposto das normas culturais e tradicionais estabelecidas por uma sociedade. Portanto, tudo que fugir do que se considera um “padrão” é tido como um estigma. Até hoje negros, homossexuais, doentes mentais e membros de algumas doutrinas religiosas são tidos como tal. Eles carregam cicatrizes, mas que crime exatamente são acusados de cometer?
O trabalho em questão traz como intuito apresentar algumas religiões e doutrinas que existem e resistem mesmo com pré-julgamentos e pré-conceitos estagnados na mente da população brasileira desde muito tempo; seja pela mídia com suas representações cinematográficas e caricatas ou por interpretações errôneas que são difundidas como certas. São elas: o candomblé, o espiritismo, e a wicca. Por meio de entrevistas, fotos, comparações com produtos da mídia e vídeos, o (Des)estigmatizar propõe combater os preconceitos da maneira mais justa e simples possível: com informação. As fake news também não podem permanecer no plano religioso.
Trabalho de Introdução às Práticas Jornalísticas — Módulo de Webjornalismo. Novembro de 2018. Professora Dahiana Araújo. Equipe composta por Cristina Soares, Guilherme Gomes e Júlia Duarte.