Existem e Resistem!

(Des) Estigmatizar
des-estigmatizar
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3 min readNov 21, 2018

por Júlia Duarte

Mulheres acusadas de serem bruxas sendo queimadas. IMAGEM: Reprodução GOOGLE

A história da bruxaria, na qual a religião Wicca é parte, tem origens antigas. Ainda antes na formação dos reinos europeus, já se tem relatos de ritos que fazem parte das tradições wiccas. Alex Sanders, fundador da Alexandrina Wicca, afirma ser a mais antiga religião natural. Considerada Neopagã, os ensinamentos se baseiam na existência do sobrenatural e na crença do Deus e da Deusa, a figura masculina e feminina, em conexão com a natureza.

A Wicca foi popularizado nos anos 50 com os estudos e publicações de Gerald Gardner, entretanto, mesmo com explicações em livros, o peso de anos de estigmas ainda prejudica a plena liberdade religiosa pregada nos países ocidentais, que se auto intitulam defensores da liberdade de expressão. O principal perseguidor dessa religião são as ideias errôneas de ideais cristãos, fruto da sanguinária caça às bruxas na época da inquisição católica. Tidas como “adoradores do Satã” e associadas a rituais de sacrifício de inocentes, as bruxas deixaram de ser parteiras e curandeiras, até então aceitas pelos membros católicos, para morrerem queimadas vivas.

IMAGEM: Reprodução/ Tumblr

Em sua maioria mulheres, qualquer um que fosse acusado de bruxaria, sabia que a morte era o único veredito. Muito além de só praticar bruxaria, para as mulheres, apenas desafiar os costumes, não só o que era imposto, levantar a voz, podia acarretar ser enforcada ou queimada viva. Hipátia era uma filósofa grega que estudava matemática e astronomia, Joana d’Arc’, líder de revolução francesas foi acusada de heresia. Ambas mortas por aspirarem serem independentes, por querem ser mais que a sociedade esperava delas.

Estima-se, segundo estudos mais recentes, que entre 40.000 a 50.000 pessoas morreram acusadas de bruxaria. Mesmo que a perseguição explícita e instituída por leis tenha sido esquecida. A repressão ainda continua, perpetuada pelo imaginário popular reforçado por livros, filmes e séries que persistem em propagar conceitos e percepções erradas de quem são bruxas e como elas vivem.

Women’s International Terrorist Conspiracy from Hell (WITCH) — Nome de vários grupos feministas relacionados, mas independentes, ativos nos Estados Unidos como parte do movimento de libertação das mulheres durante o final dos anos 60. IMAGEM: Reprodução/ Tumblr

Praticante e estudiosa Wicca há 6 anos, Kim Silva desmistifica a principal associação quando se pensa em bruxas.

“Primeiro que a Wicca e a bruxaria natural não tem nada a ver com o demônio, as bruxas nem mesmo acreditam em demônio.”

Ela explica também que a Wicca eclética, outra versão da mesma religião, é feita para bruxas sem coven e que cada coven tem suas regras e ressalta “Na wicca tradicional tem muitas regras. Tem uma hierarquia e rituais. Não posso falar por todos porque variam de coven para coven, mas na bruxaria temos uma regra “faça o que desejar sem a ninguém prejudicar”, o respeito a natureza e a todo tipo de vida é a primeira regra.”

Eles e elas existem. Não criaturas, muito menos mitológicas. Nas séries podem ser ligadas ao Satanismo, mas não são. Não sacrificam animais nem crianças. Existem em conjunto com as forças da natureza. E resistem. Porque ainda sofrem. Kim conta “quando eu falo que sou relacionado a bruxaria tem aqueles que fazem piada e riem e tem aqueles que colocam a mão na minha cabeça para me exorcizar.” Porque ainda morrem. Fabiane Maria de Jesus foi brutalmente assassinada, em 2014, por seus vizinhos após um boato de que praticava “magia negra.” Eles e elas existem e resistem!

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