Praça Sete em Belo Horizonte [ fotografia: toshiro]

É por centavos sim!

Finalmente falar de política é legal.

tosh.iro
3 min readJun 27, 2013

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Nas últimas semanas, o brasileiro tem praticado algo que havia caído em desuso há décadas: discutir política sem ser provocado. Aliás, não só em desuso, mas também em um processo de deseducação do senso comum. A pessoa que ousava levantar questões políticas e jogava na roda questionamentos relacionados ao tema a qualquer hora e em qualquer lugar, era considerada chata, pedante, intelectualóide.

A referência ao brasileiro é geral e ampla, e não só aos ditos “despolitizados”, cuja participação na grande transformação social, política e cultural que se passa no Brasil tem sido duramente criticada e desmerecida.

Certo é que até poucas semanas atrás não era habitual (e nem socialmente aceito) ouvir e falar sobre política numa esteira de academia ou na fila de espera por uma mesa de bar, mas o brasileiro sempre soube discutir política muito bem quando provocado. E quando a provocação era no bolso, a discussão tornava-se tão ferrenha quanto fosse o valor a pagar. Sempre foi necessário ter um grande e bom motivo para tocar nesse assunto.

De repente e à queima roupa houve uma grande mudança no comportamento do brasileiro. Por ironia, a insatisfação passou a não mais precisar obedecer uma regra de proporcionalidade e nem ter mais que esperar uma ocasião oportuna para se manifestar.Já não era mais chato falar de política! Debater o assunto caiu no gosto popular. Centavos passaram a fazer diferença e pensando de maneira contrária ao que tem sido repetido incisivamente por aí, é por centavos sim! É por centavos também! Já não precisa ser mais só por muito.

Parece que finalmente foi compreendido que o chato, o pedante, o intelectualóide, era quem determinava prazo e lugar para debater insatisfações políticas tão comuns, e o brasileiro sentiu-se a vontade para então soltar esse grande arroto guardado por décadas e décadas de desigualdade social, exploração e abusos tributários mal digeridos.

Enganado está quem do alto dos seus textos e comentários desdenhosos atribui à grande massa de insatisfeitos vista nas ruas ultimamente o rótulo de marionetes despolitizados e influenciáveis. Trata-se do mesmo equívoco medíocre que levou esse país a achar que falar sobre política e fazer política era para poucas pessoas e em momentos específicos.

Não se pode dizer para o adolescente “despolitizado” num momento desse que isso tudo não é “pro bico dele”. Não se pode dizer para o menino brasileiro deixar os adultos discutirem e resolverem as coisas sérias do país simplesmente porque até hoje, aliás, até bem poucas semanas atrás, nada havia sido resolvido…

Finalmente falar de política é legal! O país está livre para adquirir consciência dos direitos e deveres sociais e políticos e do significado da política na vida coletiva e individual da forma que quiser. Há espaço para todos nas ruas! DESSA VEZ o espaço é para todos. A politização é uma consequência do exercício dos direitos e não pode ser transformada meramente num pré-requisito para o exercício desses.

Ser politizado não é isso. Ser politizado não pode se tornar isso.

Jovens usaram a bandeira nacional para cobrir o pirulito da Praça Sete em BH. (26/06)
Pequena manifestante posicionada no degrau do pirulito na manifestação de 26/06 em BH.
Adolescente durante a caminhada entre a Praça Sete e o Mineirão em 26/06.
Manifestação na av. Antônio Carlos em 17/06.
Crianças na av. Afonso Pena, em BH, durante a manifestação de 26/06.
Jovens durante a caminhada até a av. Abrahão Caram, em BH, durante a manifestação de 17/06.

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