O Cavalo
É uma visão desconcertante, daquelas que fazem a espinha gelar e os olhos procurarem alguma outra coisa para olhar. O sangue coagulado descendo pela lateral de seu corpo como um pequeno rio vermelho cujo fluxo era desviado, aqui e ali, pelas cicatrizes, antigas e altas.
É um cavalo. Seu corpo grande e forte, coberto por uma curta pelagem castanha escura, os dentes fechados sobre seu instrumento de flagelo e os olhos vidrados, cansados e tristes, olhando na direção do Draconiano.
O instrumento com que o cavalo bateu tantas e tantas vezes em suas costas marcadas é uma espécie de chicote com diversas pontas que terminam em esporas de metal afiadas e manchadas de vermelho escuro. A visão deste instrumento faz Bronn tremer e se entristecer, imaginando quem poderia ter feito essa arma adaptada para que um cavalo aprendesse a utilizá-la.
- Eu sinto muito pobre amigo. — O draconiano fala, enquanto tira o chicote da boca do cavalo, cujos olhos lacrimejantes quase parecem agradecer.
Bronn passa suas garras pela lateral do pescoço do ser que se contrai a sua frente, contorna o cavalo até ficar cara a cara com ele e sussurra umas poucas palavras.
- Essa necessidade de se machucar, sem nem saber que está se machucando, ela deve acabar, meu caro amigo. Se você pudesse ver o sofrimento que vejo em seu corpo e em seus olhos, se você pudesse falar, será que perceberia?
O cavalo relincha nervoso e desvia o olhar, parecendo compreender que era algo difícil de se ouvir e o Draconiano suspira e aponta sua garra para o chicote, fazendo com que ele desapareça.
- A escolha é sua e somente sua, eu só posso lhe mostrar a alternativa, mas é você que tem que tomar a decisão de seguir. — Bronn fala como se recitasse um antigo ditado e com a ponta de uma de suas garras começa a traçar o contorno de uma porta no ar.
A porta se materializa no espaço onde antes não existia nada e o Draconiano a abre, revelando um campo verdejante iluminado pelo sol da tarde. Uma brisa fresca e o som de água corrente pode ser ouvido vindo de lá.
O cavalo vira seus olhos cansados naquela direção e sente o aroma de flores, de grama e de vida atravessando a porta e se espalhando pelo ambiente estéril onde ele se encontra ainda.
- Lembre-se amigo, é sua escolha. — Bronn da um primeiro passo para fora da porta e caminha sem olhar para trás e o cavalo, mesmo hesitando por alguns segundos, vai atrás.