Como usar a ciência para lidar com as emoções negativas?

Samuel de Almeida
Desen
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6 min readFeb 27, 2018

A primeira coisa que devemos ter em mente sobre as emoções negativas é que elas são uma parte natural do ser humano.

Sentimentos como raiva, medo, tristeza, inveja e culpa são tão próprios da nossa condição como a felicidade, o amor e a gratidão. Então a lição número #1 para lidar com as emoções é: sentir algo negativo de vez em quando não te faz pior do que ninguém.

O problema com elas é que podemos não conseguir controlar seus efeitos, agindo de forma que, normalmente, não gostaríamos — gritar, bater ou jogar coisas quando sente irritação, deixar de buscar o que deseja quando tem medo, se retrair e não fazer nada de positivo quando está triste.

Felizmente, existe uma maneira de lidar com esses efeitos indesejados e impedir que as emoções assumam o controle das suas ações — o que vai exigir uma certa dose de ciência.

Escapar de Marte é fácil, comparado ao desafio de escapar do controle imposto por suas emoções

Nosso cérebro, lugar onde todas as emoções ganham vida, possui uma característica conhecida como neuroplasticidade, ou plasticidade cerebral. Essa função permite que as conexões entre os neurônios possam ser modificadas constantemente.

Uma forma de “forçar” essas mudanças é quando nos dedicamos à aprender ou memorizar alguma informação nova. Quanto é dois mais dois? Qual o nome de seus amigos? Como é a letra da música que você mais escuta?

Provavelmente você não guardou essas informações de forma imediata — logo que conhece alguém novo, talvez esqueça o nome dessa pessoa vez ou outra, mas depois de alguns dias mantendo o contato, você não precisa mais fazer um esforço para se lembrar.

Da mesma maneira, ao longo do tempo, as ligações menos usadas do cérebro começam a se enfraquecer, então precisamos de alguma “ajuda” para nos lembrar do que ficou pra trás — talvez você não saiba de cor o nome de todas as pessoas na sua turma de quinta série, mas provavelmente consegue se recordar caso veja uma foto de cada um.

Pense no seu cérebro como um computador muito bem organizado — com uma área de trabalho onde estão os programas mais usados, e algumas pastas. Dentro de cada pasta, existem novas pastas, novos programas, e outras informações diversas.

Se você usa um programa todos os dias, dificilmente ele vai estar escondido em uma sequência com oito pastas; ele certamente terá um atalho na área de trabalho, ou pelo menos em uma das pastas principais, ao alcance de um ou dois cliques.

Essa comparação nos ajuda a entender como as emoções podem assumir o controle do que fazemos, vez ou outra.

Vamos usar a raiva como exemplo.

Durante a nossa vida inteira, a visão que temos de pessoas irritadas são olhares cortantes, gritos e agressões. Essa é a informação a que fomos expostos, dentro de casa, nos filmes, novelas, e assim por diante.

Certamente as pessoas podem se sentir furiosas em outros momentos, mas não demonstram dessa maneira, portanto não temos como perceber esse sentimento.

Dito de outra forma: nem todas as vezes em que as pessoas estão com raiva, vamos saber disso, mas todas as vezes em que elas estão gritando e jogando objetos na parede, podemos imaginar o que se passa em sua mente.

Nosso cérebro então aprende que essa é a melhor forma pela qual ele pode reagir quando percebe a raiva: gritar, atirar coisas, não dar ouvidos ao que o outro quer falar.

É como se, voltando à metáfora de um computador, um arquivo “agressividade” fosse repetido tantas vezes que vai parar na área de trabalho, e agora ele é aberto sempre que um alerta de fúria é disparado.

Mas também podemos reagir de forma mais calma, certo?

Sentir raiva e, mesmo assim, manter o controle sobre o nosso corpo — evitar discussões, manter a respiração tranquila, tentar entender o ponto de vista do outro é uma possibilidade que não pode ser negada; afinal existem muitas pessoas que reagem dessa maneira.

No entanto, como quase não usamos essa reação, ela vai parar em um lugar qualquer dentro de nossa mente, bem escondida dentro de várias pastas.

Alguma situação dispara o alerta de irritação em nosso computador. Racionalmente, nós até gostaríamos de ter a reação mais contida — mas o nosso cérebro é programado para não procurar muito, e sempre acaba rodando o programa que está mais à vista.

Essa é a grande dificuldade que temos ao tentar controlar nossas emoções — acreditamos que é possível usar “força de vontade” no momento em que a raiva nos faz explodir, como se pudéssemos encontrar o arquivo “manter a calma” perdido entre aquelas fotos de quinze anos atrás.

Infelizmente, a programação do cérebro já está tão acostumada a reagir sempre da mesma forma, que leva apenas milésimos de segundo para transformar o sentimento de raiva na reação impulsiva de agressão (verbal e/ou física).

Então como a ciência pode nos ajudar a derrotar essa Matrix?

Se sabemos que a plasticidade do cérebro conecta informações, e quanto mais essas informações são usadas, mais poderosas as conexões se tornam, o que podemos fazer é praticar diariamente.

Precisamos nos sentar e programar o nosso próprio cérebro, repetindo para ele algo como: “quando a raiva surgir, eu desejo manter a tranquilidade, respirar com calma e não ser agressivo com ninguém”.

Mas é só isso? Simples assim?

A resposta pode ser dividida em duas partes: sim e não.

Sim, é simples — você pode praticar essa conversa e com algum tempo o seu cérebro vai trazer a reação desejada para cada vez mais perto da área de trabalho, deixando ela ao alcance para quando for necessário.

Ao mesmo tempo, “ninguém consegue no primeiro pulo”. A mudança não é tão simples porque requer repetição constante e demora até gerar resultado, o que pode te levar a desistir após alguns dias ou semanas.

Essa é uma situação muito comum: você decide que vai fazer esse exercício, mas quando a emoção negativa chega, a reação é a mesma de sempre. Você pensa então que seu esforço não serviu de nada, e se não há nenhuma novidade na reação, é melhor parar de treinar.

O problema é que desejamos mudar em dias um comportamento que foi enraizado no cérebro durante décadas. A neuroplasticidade é real e poderosa, mas essa mesma força que nos torna capazes de ter reações positivas mesmo quando sentimos emoções negativas, é exatamente a força que nos tornou habituados a nossa reação atual.

A mudança é possível, mas requer esforço e paciência.

Honestamente, eu não gostaria de falar isso, pois pode desanimar algumas pessoas logo de cara, mas talvez só depois de meses, talvez quase um ano, no meio de uma crise de raiva, ou algo semelhante, você vai ouvir uma voz no fundo da sua mente dizendo “respire fundo e mantenha a calma”.

Se eu tivesse o conhecimento de algum processo mais rápido, estaria falando sobre ele nesse texto (caso você conheça algum, por favor, compartilhe nos comentários comigo e com quem está lendo, pois todos nós precisamos!).

De qualquer forma, por mais que os resultados demorem, é importante lembrar que esse tempo vai passar, independente de qual atitude tomarmos. Em alguns meses, podemos estar finalmente no controle das nossa reações, ou continuar sendo dominados pelas emoções.

Não é uma lição vazia, é ciência.

Vai exigir esforço e paciência, como eu já disse, mas se você fizer as contas, certamente vai perceber: ter controle sobre as suas próprias ações é um resultado que definitivamente vale à pena!

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Samuel de Almeida
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Aquela bio com uma crise existencial por não saber me definir.