Não existe uma realidade, apenas a sua interpretação

Um cego não é capaz de ver os objetos, mas isso não quer dizer que eles não existem. E você, o que é incapaz de perceber?

Samuel de Almeida
Desen
4 min readMar 9, 2018

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Foto: Ivy Barn | Unsplash

Tudo que vemos, ouvimos ou cheiramos, além das coisas que podemos sentir na pele ou na língua, criam a história que conhecemos como realidade.

O mundo é, para nós, da forma que o sentimos.

Para uma pessoa cega, toda a variedade de objetos iluminados não “existe” da forma que podemos interpretar. Da mesma forma, para alguém surdo não existe a fatia da realidade que interpretamos como sons.

As luzes e sons continuam presentes, mesmo que eles não vejam ou escutem.

Eis uma questão interessante, pensando nisso: Quantas outras variações dessa mesma realidade existem, mas nenhum ser humano é capaz de perceber?

Imagine que o seu corpo é como uma casa qualquer. Por essa casa estão passando sinais de TV, rádio e internet. Mas sem um aparelho de TV, um de rádio e um computador, nada disso pode ser observado.

Ok, talvez a nossa conversa não precise ir tão longe — afinal, se ninguém é capaz de perceber todas essas possíveis partes da realidade, podemos considerar que elas não são parte da “realidade humana”.

Trazendo a discussão para algo mais perto do nosso dia à dia, segue uma boa questão: quanto do que é posto à frente dos seus olhos você realmente vê?

Estranho, não é? Acreditamos que certamente podemos ver tudo, afinal de contas estamos olhando.

Que tal um rápido teste para comprovar essa afirmação?

A imagem acima é parte do quadro “As meninas” do pintor espanhol Diego Velázquez. Você certamente viu que é uma pintura retratando pessoas bem vestidas em uma sala ampla, provavelmente a realeza em seu palácio.

É fácil observar as crianças fortemente iluminadas ao centro, o pintor olhando para a frente, e o homem misterioso ao fundo.

Você também percebeu que na parede ao fundo, a imagem mais iluminada é na verdade um espelho, retratando as pessoas para quem o pintor e os demais personagens na cena estão olhando?

Ok, vamos agora à parte difícil.

Não vale voltar e contar, hein?

  • Quantas pessoas estão na cena?
  • Quantos quadros estão pendurados na parede ao fundo?
  • Qual é a cor do cabelo de cada pessoa retratada?
  • Quantos quadrados existem na porta que separa o homem ao fundo da imagem?
  • De que cor é o cachorro?

Provavelmente você sente dificuldade para responder pelo menos uma dessas questões. Isso acontece por nosso cérebro ser incapaz de armazenar toda informação que chega até ele — seria necessário uma fonte de energia ilimitada, já que o cérebro, mesmo operando de forma “seletiva”, consome 20% do que é gerado em nosso corpo.

Por isso que você certamente não sabe quantas telhas ou pisos existem na casa em que mora há anos; sabe apenas que existe um telhado e um chão.

É como se nossa mente armazenasse as informações num filme rodando em péssima resolução.

Lembramos que duas pessoas estavam conversando sobre determinado assunto no ônibus semana passada, mas quais foram as palavras exatas que elas usaram?

Isso demonstra o ponto desse texto — não existe algo como uma realidade absoluta, o que temos é apenas uma interpretação.

Conflitos acontecem o tempo inteiro por alguém dizer X quando na verdade estava tentando dizer Y. A pessoa que ouviu não teve a menor chance de entender o que a outra quis dizer, mas a que falou tinha certeza de que seria bem entendida — afinal a mensagem era clara.

Pelo menos na cabeça dela.

Acredito que isso seja motivo suficiente para entender e aceitar que ninguém percebe o mundo da mesma forma que nós. Nem mesmo dois irmãos, gêmeos idênticos e criados no mesmo ambiente, vão ter a mesma opinião sobre todos os assuntos.

Imagine pessoas com experiências diversas, que acabam alterando a interpretação sobre a mesma fatia de realidade. Alguém que mora no Nordeste tem um conceito de frio e calor bem diferente de um paulista, por exemplo.

Moral da história: Respeite a interpretação que as outras pessoas estão fazendo da realidade. Ela certamente vê algo que você não enxerga, escuta algo que você não ouve, e, definitivamente, não viveu as mesmas experiências que você viveu.

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Samuel de Almeida
Desen

Aquela bio com uma crise existencial por não saber me definir.