O passado não existe

Mas você continua insistindo em viver nele…

Samuel de Almeida
Desen
5 min readOct 10, 2017

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A cada mínimo instante, avançamos um passo na estrada do tempo — nunca parando, nunca voltando, nunca indo mais rápido ou mais devagar.

Se o tempo tivesse sentimentos, eu diria que ele é cruel para quem teima em mudar a sua natureza constante, ao mesmo tempo em que é bondoso com quem o aceita como ele é, e aproveita a sua passagem da melhor forma possível.

Quanto mais nos apegamos ao futuro ou ao passado, mais o tempo irá nos torturar.

Se esperamos sempre pelo amanhã, ela irá usar a ansiedade para fazer tudo ficar lento, monótono, mais e mais cinza enquanto enlouquecemos à espera das cores vibrantes de um futuro idealizado.

Quando olhamos demais para o passado, os erros que cometemos, as chances que perdemos, os erros que os outros cometeram conosco, o tempo pode usar o peso da culpa, da tristeza ou da raiva para nos esmagar.

É com quem vive tentando equilibrar esse peso nos ombros que eu quero conversar. Tente colocar o seu passado de lado por um instante, e me diga o que — agora — há de errado com você?

Pode ser que você esteja no meio de um momento negativo. Lutando para superar uma doença; ajudando alguém que você ama a passar por isso; vendo um relacionamento importante desmoronar.

Mas na maioria dos casos, insistimos em relembrar a culpa, tristeza ou raiva pelo que já foi. Você foi demitido ontem, perdeu naquela prova que poderia salvar o semestre, esqueceu de pagar a conta antes que os juros entrassem, brigou com a namorada, queimou a comida…

Algo aconteceu, e não está mais acontecendo.

É passado, e não existe mais.

Claro que há uma consequência, no presente ou no futuro, para as coisas que já aconteceram. Você está sem emprego, precisa repetir o semestre, vai pagar mais caro. Sua namorada está com raiva. Você terá que cozinhar tudo de novo.

São problemas concretos, com os quais é preciso lidar, eu não seria louco de negar isso. A questão é: culpar, a si mesmo ou alguma outra pessoa, por esses problemas, te ajuda de que forma a resolvê-los?

Continuar irritado com quem bateu no seu carro hoje de manhã não vai consertar o amassado na porta. Se culpar por não ter estudado o quanto precisava não vai aumentar a nota da sua prova. Ter vergonha da sua namorada não vai fazer com que ela pare de sentir raiva.

Mandar o carro para a oficina, estudar mais para a próxima prova, se desculpar pelo que fez de errado e encontrar alguma forma de recompensá-la; isso sim irá resolver os problemas que você tem, no presente.

Acreditar que o passado não existe não é o mesmo que enxergar o presente como uma folha em branco. Ele não é; mas enquanto as consequências reais, aquilo que precisa ser resolvido, está escrito à caneta, todos os sentimentos negativos que criamos por nós mesmos e pelos outros, foi feito à lápis, e você pode apagá-los se assim quiser.

Nos casos específicos em que alguém te prejudicou, veja bem, você tem todo o direito de buscar por justiça, seja moral ou até mesmo criminal, se for o caso. Mas para conseguir a justiça você não precisa, necessariamente, nutrir um sentimento negativo por essa pessoa.

A raiva que você sente não irá produzir nenhum resultado negativo para o outro, mas vai destruir a sua própria saúde mental.

Existem algumas outras questões com as quais podemos lidar de forma mais natural, sem acumular sensações negativas, se passarmos a compreender que o passado não existe mais.

Uma delas é que você não está preso à ter que repetir o que fez ontem ou há um ano atrás, procurando ser consistente com aquilo que os outros esperam de você.

Um exemplo prático disso é alguém que, faltando apenas um semestre para terminar a faculdade, descobre que está no caminho errado e decide trocar de curso. A pressão da família e da maior parte da turma para que termine o que está fazendo antes de começar outra coisa é enorme, nesse caso.

Mas tudo que essa pessoa viveu nos últimos sete semestres (ou mais) simplesmente não é uma justificativa para o que deve ser feito daqui por diante. O conhecimento adquirido nesse tempo jamais será apagado. As amizades já foram feitas, as experiências já foram vividas, então o que resta?

Dedicar seu próximo semestre inteiro, ou mesmo que fossem apenas alguns dias, para ser consistente com o que já fez, ainda que o resultado disso (um diploma e uma festa de formatura) não tenham a menor utilidade para seus planos atuais, é algo que não faz o menor sentido.

Talvez você consiga aplicar essa mesma ideia para outro exemplo, que não envolva estar perto de se formar. De qualquer forma, o importante é saber que você não precisa se comprometer, nem por um minuto, com o seu passado.

Outro aspecto dessa liberdade que conquistamos ao encarar o passado como algo que não existe mais é deixar partir o que deu certo e hoje não funciona tão bem.

A dieta ou o programa de exercícios que te fez perder mais peso do que nunca. O método de estudos que te ajudou a ler um livro por semana. A técnica de escrita que você usou para escrever seus contos.

Talvez um dia eles deixem de ter valor, e você precisa ser rápido em trocá-los por estratégias e modelos mais eficientes para o novo presente.

O que te trouxe até aqui, não é o que vai te levar até lá

- Marshall Goldsmith

Eu espero que você tenha gostado desse conteúdo, e que ele te ajude de alguma forma a lidar melhor tanto com as lembranças e sentimentos sobre o passado, quanto com as decisões que precisa tomar no presente.

Não se arrependa por nada que não tenha feito mal à ninguém, e quando fizer, não fique escondido num canto se culpando. Peça perdão, encontre formas de ajudar a vida dessa pessoa a ser melhor, e siga em frente.

Não julgue quem você era com base no conhecimento quem tem hoje. Se você não discordasse de coisa alguma que fez há um ano, teria perdido 365 dias da sua vida sem aprender absolutamente nada.

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Samuel de Almeida
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Aquela bio com uma crise existencial por não saber me definir.