Será que você pode conhecer alguém, de verdade?
Talvez estejamos mais próximos de um constante “conhecia” com todos aqueles ao nosso redor…
Algumas vezes, pessoas com quem convivemos há anos nos surpreendem — de forma positiva ou negativa.
Elas podem nos trair, seja em um relacionamento amoroso ou em uma parceria de algum outro tipo. Elas também podem fazer algo de importante para nos ajudar, sem dar a menor pista de que estão trabalhando para isso.
Na maioria das vezes, essas surpresas são coisas mais simples, a outra pessoa passa a gostar de uma comida, uma música ou um filme que até então só recebia críticas negativas da parte dela. Demonstrar uma opinião política que é contrária ao que ela mesma defendia. Cortar o cabelo de forma radical. Começar um curso em uma área totalmente nova, para ela.
A sensação acaba sendo a de que nunca poderemos conhecer alguém de verdade; e se pensarmos bem, isso faz todo sentido — não somos capazes de conhecer plenamente uma outra pessoa, suas preferências, desejos e medos.
Estamos mais próximos de um constante conhecia com todos aqueles ao nosso redor, que precisa ser atualizado frequentemente para manter os bons relacionamentos.
Afinal de contas, todos estão mudando suas ideias e gostos, cada um no próprio ritmo; já que ninguém é um objeto acabado, empacotado e imutável — pelo contrário, estamos sendo impactados por novas mensagens de instante em instante.
Família, amigos, parceiros(as), colegas, chefes, imprensa, publicidade, políticos, líderes religiosos, livros, e até mesmo aquela pessoa que escutamos por dois minutos no ponto de ônibus, na fila do supermercado ou em um vídeo no Youtube.
Todos eles estão interagindo conosco e expondo as respectivas opiniões. Vez ou outra, vamos absorver algumas delas e modificar os nossos próprios pontos de vista sobre um ou outro assunto. Obviamente, também causamos esse efeito nas pessoas ao nosso redor.
Algumas vezes, são mudanças simples, como dar uma chance para aquele(a) artista que ela não valorizava. Esse tipo de “transformação” pode acontecer por conta de apenas uma opinião — alguém explica com bons argumentos porque gosta de uma banda, e ela pensa que talvez esta banda não seja tão ruim.
Outras alterações são muito mais profundas — mudar de emprego, defender uma nova visão política, ir morar em outro país — e parecem ter acontecido de uma hora pra outra. Você mesmo(a) pode tomar uma decisão assim e acreditar que isso surgiu do nada.
No entanto, mudanças como essas costumam ser o resultado de uma série de impressões que se acumulam ao longo de muito tempo, talvez até mesmo alguns anos.
Todos os dias, seu amigo leva uma bronca do chefe, nunca consegue colocar as próprias ideias em prática, realiza um trabalho que considera ser entediante.
Ele encontra um blog de alguém que vivia a mesma situação e conta a nova vida em um ambiente de trabalho mais saudável e passa a acompanhar as histórias dessa pessoa.
Meses depois, quando ele conta que vai largar o emprego, você pode pensar que ele ficou maluco, que essa ideia não faz o menor sentido.
Isso acontece porque, na superfície, nada havia mudado — enquanto que por trás das cortinas, dentro dos pensamentos deste amigo, esta mudança se construía aos poucos, como um copo se enchendo gota à gota.
Então não se surpreenda quando alguém demonstrar uma transformação, pequena, no dia a dia, ou enorme, levando ela para uma vida totalmente nova; provavelmente essa pessoa não ficou louca.
Lembre-se: ninguém é um pacote fechado e isolado dos demais. Estamos todos ligados por fios (hoje em dia, de uma forma completamente literal) através dos quais nos comunicamos, somos impactados e podemos impactar outras vidas.
Encare todos os seus relacionamentos desta forma; um eterno conhecia junto de um infinito estar conhecendo a outra pessoa.
Isso te dará muito mais empatia para entender o que se passa com ela, e evitar discussões numa situação em que alguém poderia te pegar de surpresa com uma ideia nova.
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Isso também indica que eu devo escrever mais sobre o assunto, já que você se interessa por ele!
