Sobre a pureza das coisas

Não importa quanta impureza se acumule em volta, o ouro continuará sendo o que é. O mesmo vale para você!

Há vários séculos, um homem trabalhava como mineiro. Certo dia ele encontrou uma bela pedra de ouro, do tamanho de seu polegar, e ao invés de entregá-la ao chefe da mina, como era sua obrigação, decidiu fugir com o achado. Era a única chance de mudar de vida.

Infelizmente, não conseguiu ir muito longe, foi encontrado e levado de volta. Pouco antes de ser capturado enterrou a pedra; pois sabia que se ela fosse descoberta, o seu castigo seria muito maior.

Aquele pequeno pedaço de ouro, tão valioso, ficou esquecido em meio à mata onde foi enterrado. Durante centenas de anos, muita lama se acumulou em cima dela. Poucos anos atrás, uma cidade que se ergueu perto dali passou a utilizar o local como lixão.

Agora a pedra está presa sob toneladas de terra e lixo.

O mas interessante de tudo é que, se alguém souber dessa história e estiver disposto a retirar todo o lixo e terra acumulados em cima do ouro, ele ainda estará lá, puro e valioso como sempre foi.

Da mesma forma, a sua mente nasceu pura, como o metal mais valioso. Talvez você tenha passado por algumas experiências negativas, a perda de alguém querido, um erro do qual se arrepende até hoje, uma doença com a qual luta todos os dias.

Tudo isso se acumula em torno da nossa mente, e vai fazendo com que ela pareça cada vez mais suja, mais enterrada, mais perdida entre tantos medos, frustrações, arrependimentos e saudades.

Mas não importa quanto “lixo” seja jogado por cima dela, se você tiver disposição, paciência e força para limpar o terreno, vai encontrá-la da mesma forma que sempre foi — tão pura quanto uma pedra de ouro.

Essa é uma metáfora que eu aprendi com o livro Alegre Sabedoria, do monge budista Yongey Mingyur Rinpoche, com algumas adaptações.

Uma outra imagem em que eu pensei enquanto lia as anotações do monge é a mente como a superfície de um lago. Nós a olhamos e ela está limpa, perfeita, refletindo exatamente tudo à sua frente.

Se o lago é perturbado, seja quando atiramos uma pedra, um barco passa ao longe ou um peixe salta da água, as ondas irão modificar aquilo que o espelho mostra, distorcendo e borrando as imagens.

Quando você se olhar, pode ser que veja a sua boca e seus olhos meio tortos, ou dependendo de quanta agitação se formar na água, o seu rosto inteiro pode parecer uma aberração digna de um filme de terror.

Mas assim que a perturbação se desfaz e a água volta ao estado de calma, vemos o nosso reflexo exatamente como ele deveria ser.

Pense em quantas vezes você já ouviu sobre alguém sentir raiva e ver tudo vermelho à sua frente. Ou aquela história de que quando estamos tristes tudo fica meio cinza. São perturbações na superfície da nossa mente.

Não conseguimos enxergar as coisas como elas realmente são, e aí pode ser que um ciclo negativo nos prenda nessa “realidade” falsa. Estamos tristes com algo, o mundo fica cinza, e então nada de alegre que acontece à nossa volta nos faz sorrir como deveria.

Procure cuidar melhor da sua mente, e manter a tranquilidade para que ela possa refletir a vida da forma que ela realmente é. Diferente da água, que depende da natureza para se acalmar, nossa mente depende de nossos próprios esforços.

Não importa quanto lixo tenha se acumulado, o ouro ainda está lá.

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