Lado num. 0 e Lado nº. Um

André Minei
/desencanto
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3 min readApr 14, 2017

A primeira frase que se ensina a um programa de computador é “Hello world”. É simples. Talvez até simples demais, mas… percebe como é corajoso? Como o primeiro choro de um bebê, se trata de uma resposta; uma forma própria de dizer “estou vivo”, que inevitavelmente provoca um sorriso em quem o gerou (técnica ou biologicamente).

Este primeiro texto é um tipo de Hello World: um tímido, mas firme “Olá, mundo”, que vem apresentar o início de um processo.

Mas, não.

Este não é o começo.

Para programar essa simples frase em um sistema, é necessário um complexo código, que atua escondido na memória do computador e demanda uma boa dose de conhecimento para ser acessado. Toda a estrutura por detrás é o que o faz funcionar: linhas de comando com caracteres, letras e números (em última instância, zeros e uns); assim como uma gestação, que leva meses e permite a formação de um novo ser, seus órgãos, tecidos, células, tudo baseado em um novo DNA (em última instância, zeros e uns).

Com o nascimento, passa-se de uma condição 0 — de retração, preparação, construção — para uma condição 1 — de execução, experimentação, vivência. Após o parto, inflam-se os pulmões, a dor e o choro: “Olá, mundo”. <Enter>

Este símbolo indica um botão de ‘Stand-by’, que serve para ativar e desativar um aparelho eletrônico. Consegue identificar os elementos que lhe dão forma?

Na informática comum, zero e um não ocupam o mesmo espaço. Mas à mesma medida em que são opostos, são, também, interdependentes:

Imagine um programa que faz zeros e uns disputarem a memória de um computador, dominando à força seus espaços, ou bits, aleatoriamente. Pois bem, em algum tempo, não haveria mais ordem e o programa ruiria, os espaços seriam todos ocupados e teríamos um computador travado, tentando rodar um sistema inutilizado pela ação predatória de pequenos soldados dos exércitos do 0 e do 1.

Zero e um, portanto, não devem ser encarados como entidades separadas, mas sim estados, fases de um ciclo, lados de uma mesma moeda. A partir deste entendimento, e inspirado no meu próprio objeto de estudo, passei a enxergar este projeto em ciclos com duas correntes. Lado num. 0 e Lado nº. Um: duas faces da mesma narrativa, mas que se apoiam em perspectivas diferentes. A primeira carrega a busca por sentido, a reflexão e os questionamentos — uma verdadeira viagem interna; enquanto a segunda trata das de suas atualizações (materializações), experimentação e técnica, ou seja a exteriorização dessa jornada — movimento, execução, vivência.

Tendo os dois lados se alternando e somando, então, fecham-se os ciclos de sentido que norteiam este projeto; assim como zeros e uns, ora um, ora outro, guiam um computador (ou uma fita de DNA) a apresentar algo (ou alguém) ao mundo.

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