Press Start to UX — Compreendendo o papel da experiência de usuário no design de videogames

Luciano Prestes
Design VML Tech
Published in
5 min readMar 25, 2024

Os videogames, cada vez mais, se solidificam como uma forma de arte. Assim como o cinema, um jogo pode combinar atuação, fotografia, música e literatura para compor uma verdadeira obra nas telas. Mas além desses elementos, ainda há um componente que fundamenta um game como experiência aos usuários: a interação. E é aqui que entra a UX.

A experiência de usuário (UX) desempenha um papel fundamental no sucesso de um videogame. Isso porque uma UX fluída e envolvente é crucial para a satisfação do jogador. Este conceito nos jogos vai além de gráficos impressionantes e narrativas cativantes; ele abrange toda a jornada do jogador, desde o momento em que o jogo é iniciado até a experiência pós-jogo.

Vamos começar pelos controles. Seja jogando em um console, PC ou celular, os jogadores esperam que os comandos sejam fáceis de compreender e sejam responsivos. É preciso saber o que seu personagem consegue fazer dentro da história, como ele se movimenta e como ele interage com os elementos do cenário. Esse é um fator chamado jogabilidade e a UX é aplicada para ensinar ao jogador como o jogo funciona. Um dos exemplos mais interessantes é de um título lançado originalmente no Super Nintendo em 1993 chamado Megaman X.

Megaman X — ©Capcom 1993

Nele, a primeira fase ensina tudo isso de forma sutil, mas eficiente. O jogador começa no meio do caos em uma cidade atacada por robôs. Ao apertar um botão do controle, ele pula, um outro serve para atirar e os direcionais fazem a movimentação. Para se defender, é preciso atirar, para atravessar obstáculos, é necessário pular e para chegar o final da fase, deve-se seguir em frente. Alguns inimigos não fazem ataques diretos, eles atingem a passarela onde o jogador se encontra, criando buracos no chão. Isso mostra que o cenário pode ser alterado durante a partida.

Próximo ao fim da fase, um robô maior em formato de abelha aparece. Quando derrotado, ele derruba parte da passarela, fazendo com que o jogador fique preso em um grande vão. Para sair desse buraco, o jogador institivamente começa a pular nas paredes, desta forma se aprende que pular em direção a elas repetidas vezes, permite escalá-las.

Tudo isso sem uma caixa de diálogo explicativo. A primeira fase de Megaman X funciona como um tutorial fluído de como funcionam as mecânicas de movimentação, conduzindo o jogador sem que ele perceba. 30 anos depois, este modelo ainda é um estudo de caso por aplicar uma didática intuitiva para explicar os controles.

Hoje em dia, a grande maioria dos títulos trazem tutoriais mais diretos e verbais. Inclusive, utilizando a condução da experiência do usuário como recurso narrativo. Jogos como a série Portal e The Stanley Parable. Este último é uma aventura de exploração, que você só precisa seguir as orientações do narrador da história. Comandos simples como “siga a linha amarela” ou “entre na sala”. O jogador tem a opção de seguir as instruções sem questionar, mas fica implícito que se um caminho diferente for seguido, outro resultado pode acontecer.

The Stanley Parable — ©Galactic Cafe 2013

Passando da introdução, é preciso que o jogo tenha uma interface de usuário (UI) bem projetada para garantir que os jogadores possam navegar pelos menus, personalizar configurações e acessar informações essenciais sem se sentir sobrecarregados. Em RPGs, especialmente os desenvolvidos no Japão, depende-se muito de opções para jogar um título efetivamente. O HUD (ou heads-up display) é a tela com os menus de ações do jogador. Quando esse recurso é utilizado de forma ruim, pode prejudicar o gameplay e, muitas vezes, afastar novos jogadores. Entre os títulos que costumam a ter problemas neste ponto estão MMORPGs, que oferecem dezenas de recursos para serem gerenciados na tela principal.

World of Warcraft — ©Activision/Blizzard 2004

Por outro lado, há exemplos que conseguem aplicar uma UI memorável no jogo, como Persona 5. Este JRPG (RPG japonês) que consegue se desprender das configurações padrão do estilo e representar o conceito da identidade visual de forma fluída em praticamente todos os menus.

Persona 5 — ©Atlus/Sega 2016

O design de UX também se estende ao processo de condução do usuário através do jogo. Uma jornada de dificuldade progressiva que contribui para uma curva de aprendizado positiva, garantindo que tanto jogadores novatos quanto experientes possam desfrutar do jogo sem enfrentar obstáculos insuperáveis. Encontrar o equilíbrio certo entre desafio e acessibilidade é uma forma de arte que designers experientes de UX empregam para manter os jogadores envolvidos e motivados.

Super Mario World — ©Nintendo 1990

O bom e velho Super Mario World é um ótimo exemplo desse balanceamento. Seu level design propõe que algumas fases servem para aprender como determinado elemento funciona, seja uma nova habilidade do personagem, parte do cenário, ou mesmo um inimigo. Uma vez dominado, essa nova competência do usuário faz com que seja possível descobrir novos segredos em fases já visitadas. Isso permite que um jogo que tem em média 5 horas de duração possa ser finalizado em menos de 30 minutos, conhecendo bem o que o encanador italiano consegue fazer. O que cria uma relação entre desafio, experiência e recompensa.

Em conclusão, a incorporação de princípios de UX no design de videogames não é um mero detalhe, mas um aspecto fundamental que molda a experiência geral do jogador. Desde controles intuitivos até processos de introdução envolventes, uma UX bem elaborada eleva o prazer dos videogames, fomentando um relacionamento positivo entre jogadores e desenvolvedores. À medida que a indústria de jogos continua a evoluir, priorizar a UX será crucial para criar experiências de jogo memoráveis e imersivas.

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