O que é Design Disruptivo

Com tantos termos usados ​​hoje no mundo da inovação, você provavelmente já ouviu falar sobre design e sobre disrupção. Descubra por que escolhemos esses termos para nos referirmos ao nosso coletivo de facilitadores de mudança e direcionar nossas ações para a resolução de problemas sociais complexos.

Integrantes do Nodo Lima do Coletivo de Desenho Disruptivo (maio, 2018)

Começando com o primeiro: O QUE É DESIGN (ou desenho)?

Sua importância reside no poder que tem sobre nossas vidas, relações e escolhas; é o roteiro invisível que guia, limita e orienta nossa realidade.

Você já pensou em como surgiram os produtos que você usa, seus serviços favoritos, os ambientes nos quais você realiza suas atividades ou os sistemas aos quais você pertence?

A forma como nosso espaço de trabalho, por exemplo, foi desenhado determina como colaboramos como equipe ou quão produtivos podemos ser de acordo com nossas características individuais. Quando esse ambiente é desenhado, esses resultados devem ser intencionais, e não apenas condições aleatórias.

Digamos que desenhar é um ato intencional de criar um produto, serviço ou sistema que incorpore algum grau de mudança.

Você acha que seu espaço de trabalho foi desenhado para incentivar a colaboração? A concentração? Ou você não encontra propósito no desenho do seu escritório?

O QUE É DISRUPTIVO?

Muitas vezes a mudança é necessária, desejada, esperada, mas ainda assim não acontece. A disrupção é uma interrupção no status quo. É sobre gerar uma perturbação com a intenção de mudar um sistema.

É muito comum ouvirmos de disrupção no mundo das startups e das inovações tecnológicas como um termo voltado para a captação de um mercado que não foi atendido antes ou até mesmo criar-lo. No entanto, nós a vemos como uma oportunidade para permitir mudanças sociais sistêmicas e positivas.

O DESIGN DISRUPTIVO

A principal premissa do Design Disruptivo é que podemos gerar mudanças sociais e ambientais mais profundas ao compreender a complexidade dos problemas que buscamos resolver e as pessoas com as quais queremos trabalhar, e sendo capazes de absorver essas aprendizagens no desenho de intervenções que promovam essas mudanças.

Leyla Acaroglu, fundadora da Unschool of Disruptive Design, tem sido a nossa sensei sobre este tema, e o define da seguinte forma:

“Design disruptivo é a criação de intervenções intencionais em um sistema preexistente com o objetivo específico de alavancar um resultado mais provável a gerar uma mudança social positiva”.

Disruptive Design Masterclass de Leyla Acaroglu no México (maio, 2016)

OS FACILITADORES DE MUDANÇA

O Design Disruptivo é para qualquer pessoa que reconhece que o estado atual ou futuro das coisas não é o mais ideal, justo ou sustentável, e está agindo para mudá-lo, não só para si, mas também ao seu redor. Consideramos essas pessoas incríveis facilitadoras da mudança.

Isso pode acontecer de diferentes perspectivas. Talvez os facilitadores da mudança mais conhecidos são aqueles que estão empreendendo o seu projeto como ativistas, através de uma organização sem fins lucrativos ou um negócio social.

Mas há também aqueles que procuram desempenhar o seu papel de provocar a mudança social dentro de grandes instituições, como o governo, a academia, as agências internacionais ou os corporativos - aos quais chamamos de intraempreendedores.

E, finalmente, há aqueles que se dedicam a apoiar os empreendedores e intraempreendedores sociais para desenvolver suas habilidades e suas iniciativas - essas pessoas podem trabalhar em fundações, agências de desenvolvimento, incubadoras, aceleradoras, fundos de investimento, como consultores e facilitadores, entre outros. Nós chamamos essas pessoas de atores do ecossistema para a inovação social.

Os facilitadores da mudança social poden ser de funcionarios públicos a empreendedores sociais. Na foto, participantes do Bootcamp de Design Disruptivo na Cidade do México (junho, 2018).

MENTALIDADES x METODOLOGIAS

Consideramos que o Design Disruptivo não é uma metodologia, mas sim uma abordagem para identificar e contribuir para a resolução de problemas sociais e ambientais complexos. Tem menos a ver com seguir uma receita correta e mais com a mentalidade com a qual nos aproximamos de um problema e procuramos mudar as realidades.

Para desenvolver essa mentalidade, podemos contar com uma série de conhecimentos, metodologias e ferramentas que, com o tempo, nos ajudam a construir as competências para aplicar o Design Disruptivo com mais naturalidade.

O PENSAMENTO SISTÊMICO

Considerando a definição de Design Disruptivo que mencionamos acima, uma das mentalidades fundamentais que precisamos para criar “intervenções intencionais em um sistema preexistente” é o pensamento sistêmico.

O pensamento sistêmico é importante para evitar as famosas e controversas situações em que, apesar das boas intenções, surgem conseqüências não desejadas.

É o caso das redes mosquiteiras em muitos países africanos, distribuídos gratuitamente pelos organismos de ajuda internacional e governos para combater a malária, mas que acabou servindo como rede de pesca, tecido para decoração e até mesmo véu de casamento. A distribuição gratuita acabou com o poder da produção local de redes mosquiteiras, pois ninguém estava disposto a pagar pelo produto. E o uso inadvertido de redes mosquiteiras como redes de pesca em rios e mares causou a destruição dos ecossistemas aquáticos, devido ao fato de serem quimicamente tratados.

Desenvolver essa mentalidade leva tempo e muito exercício. O pensamento sistêmico inclui ampliar as perspectivas para além do problema que procuramos resolver ou da solução que queremos implementar. Inclui a identificação de mais elementos, considerando que tudo está interconectado, procurando relações entre os diferentes elementos e identificando funções que esses sistemas estão buscando cumprir.

O pensamento sistêmico é fundamental para ganhar perspectiva antes de tomar decisões e intervenções, e mesmo assim, não garante previsão ou controle sobre seu comportamento.

A cientista, professora e escritora Donella Meadows explica que a idéia de obrigar um sistema complexo fazer exatamente o que você quer só pode ser conseguido temporariamente, na melhor das hipóteses.

Mas, se somos facilitadores da mudança social, o que resta para nós fazermos? De acordo com Dana Meadows, não podemos controlar os sistemas, mas podemos dançar com eles!

Entrar no ritmo do pensamento sistêmico significa, antes de interromper um sistema, observar como ele se comporta. Isso nos ajuda a nos concentrar em fatos, não em suposições. É sobre estar ciente do que é importante, não apenas do que é quantificável. Concentrar-se no bem do todo, não apenas nas partes. E, principalmente, celebrar a complexidade.

O PENSAMENTO DE DESENHO (ou Design Thinking)

No Design Disruptivo, procuramos combinar o pensamento sistêmico com o pensamento de desenho, mais conhecido como Design Thinking. Ambas as mentalidades têm muito em comum, mas também são bastante complementares.

Pensar como designer significa fazer boas perguntas, ser empático e criativo e impulsar-se à ação.

A mentalidade do designer evita a paralisia que a complexidade pode nos causar. Enquanto no pensamento sistêmico nós temos uma infinidade de caminhos a seguir, o pensamento de desenho nos ajuda a conectar pontos que geram entendimentos além do óbvio — os insights. Esses entendimentos nos permitem escolher caminhos de pensamento com mais oportunidades de intervenção. Insights são a base fundamental para fazer boas perguntas, e com isso poder conduzir um processo criativo baseado no que realmente importa.

Além disso, a abordagem qualitativa nos permite aprofundar as motivações, necessidades e desejos das pessoas. Essa visão é bastante complementar ao pensamento sistêmico, que busca a visão mais ampla, identificando os padrões no comportamento de um sistema.

O design nos ajuda a focalizar no que podemos fazer sobre tudo isso que está acontecendo, e combinado com o pensamento sistêmico, nos permite desenhar intervenções sistêmicas que contribuam de maneira mais significativa para resolver problemas sociais complexos.

Finalmente, pensar como um designer é um exercício constante de otimismo, o que nos leva a não só manter uma posição analítica, mas entrar em ação: gerar ideias, testá-las, validá-las e continuar em uma condição permanente de iteração e aprendizagem.

OUTRAS MENTALIDADES DO DESIGN DISRUPTIVO

Embora o pensamento sistêmico e de desenho sejam fundamentais para o Design Disruptivo, estamos sempre procurando incorporar perspectivas complementares para atingir nossos objetivos.

Portanto, além da complexidade dos sistemas que estamos envolvidos como sociedade, o Design Disruptivo busca se aprofundar também na complexidade interna que temos como seres humanos.

Muitos dos problemas que temos como sociedade incluem o comportamento como um fator-chave: do abandono escolar à obesidade, da poluição ambiental à corrupção. Em todos esses exemplos, existem muitas intervenções sistêmicas que podemos fazer para contribuir para o bem comum, mas sem entrar na motivação das pessoas e na maneira como elas tomam decisões, é impossível gerar mudanças concretas.

Neste sentido, procuramos sempre refletir sobre como o desenho de produtos, serviços, ambientes e sistemas podem interferir no comportamento das pessoas, e a partir disso compreender suas motivações e garantir uma boa experiência para incentivar a mudança positiva de comportamento.

APRENDER E PRATICAR MAIS

Participe do nosso Bootcamp de Design Disruptivo no Rio de Janeiro, de 22 a 31 de outubro, no nex coworking: https://www.sympla.com.br/bootcamp-de-design-disruptivo-em-rio-de-janeiro__356977.

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Este artigo foi escrito em colaboração com Diego Del Moral.

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Cristina Yoshida
Design Disruptivo para a Mudança Social

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