A importância do design socialmente responsável no contexto de pandemia

Stéfani Krolow
Design em Tempos de Pandemia
6 min readSep 6, 2020

Vivemos diante de um novo cenário de vida desde o primeiro trimestre do ano, enfrentando novas rotinas, muitos lidando com uma maneira de trabalhar diferente da convencional, além da crise sanitária, econômica, cultural e social. Todos esses problemas, além de muitos outros, perpassam esse momento que estamos inseridos de uma forma muito rude. Em cumprimento do isolamento social, passamos a consumir muitos canais de comunicação, principalmente as redes sociais, pois são os meios de interação mais práticos que temos, o que nos fez mergulhar ainda mais no digital.

A partir desse contexto pandêmico, não podemos deixar de notar a importante atuação do design em vários âmbitos. A partir disso, vamos ver como o design vem tendo um papel relevante nessas circunstâncias de crise e de que forma tem feito o uso das oportunidades de fazer a diferença, bem como dos meios digitais, como uma poderosa ferramenta a partir de um design social responsável.

Fonte: United Nations COVID-19 Response

A VISÃO DO QUE É O DESIGN TEM MUDADO PARA A SOCIEDADE?

Com o avanço dos meios de comunicação, houve, por consequência, um crescimento do trabalho do designer, principalmente a partir do surgimento da internet e das mídias digitais. Além de produções comuns à profissão (como cartazes, logotipos, folders, embalagens, etc.), o designer envolveu-se na criação visual de aplicativos e sites, trabalhando com UX, banners, propagandas, motion, cards para redes sociais, entre inúmeros outros segmentos. A versatilidade e diversidade do design, portanto, ganha muito espaço no mercado de trabalho e faz com que pessoas busquem os serviços ofertados pelos profissionais da área.

De acordo com o contexto no qual estamos inseridos, há uma necessidade de comunicação que passa pelo elo entre a informação e a arte que o designer expressa. A responsabilidade, a partir dessa realidade, nos torna imprescindíveis para o desenvolvimento do presente e também do futuro, não só como comunicadores e criadores, mas também como peças importantes na conscientização e transformação da sociedade.

Nesses dias, o design tem tido a oportunidade de demonstrar muito mais do que ser simplesmente uma área voltada ao visual ou que produz artigos de luxo. Nesse sentido Joaquim Redig (2011, pg. 87) descreve como somos (ou éramos vistos): “Quase nunca nos colocam como profissionais indispensáveis à sociedade, instrumentalizados para atender às relações cotidianas entre as pessoas e o mundo utilitário e comunicativo”. Apesar de toda consequência econômica gerada por conta do isolamento, lockdowns, desempregos, há uma grande demanda para suprir todas as novas necessidades que surgiram durante esses meses de pandemia. E, então, o design entra ocupando o espaço como um solucionador de problemas, tornando a função mais valorizada. “[…]muitos entendem a atividade de design (projeto) como uma solução (resposta) para um problema (pergunta)” Vassão (2010, p. 13).

O POSICIONAMENTO DO DESIGNER NA PANDEMIA

Nós, designers, precisamos entender e nos posicionar de acordo com o que a profissão exige: influenciadores e solucionadores. Redig (2011) fala que não há design que não seja social. Por vezes, assusta pensar na responsabilidade e influência que temos como profissionais da área do design.

“Nosso trabalho vai além de fazer uma interação linda que será admirada por pessoas do mercado de design. Tudo que estamos vivendo agora, nos ensina muitas coisas sobre o trabalho e o papel de um designer na construção de uma sociedade que se sinta acolhida de forma única.” (Peireira, 2020)

O design tem expressado a sua relevância e compromisso com a sociedade através de muitas áreas diante da mudança de vida que nos foi imposta. Hoje, juntamente com a inovação e tecnologia, as soluções advindas do design tem ajudado muitas pessoas a organizarem e se adaptarem às suas rotinas, e isso atravessa a esfera do trabalho, da educação, e também a pessoal. Essas ações vão desde a criação de embalagens, produtos, bem como interação do usuário, cartaz informativos, mídias de incentivo ou consolo, reestruturação de marcas, entre outras.

O design reafirma uma cultura ou reage a ela, de acordo com Juliana Proserpio (2019). O principal requisito de um designer é ser empático, uma vez que, quando entendemos, analisamos e somos sensíveis à situação, nos propondo a estar inseridos no contexto em questão, nossas soluções para os problemas são muito mais eficazes. As redes sociais, por exemplo, foram um meio no qual os designers utilizaram para ajudar, incentivar e conscientizar seus seguidores. Através de seus softwares, com suas ideias e sensibilidade criaram publicações aconselhando as pessoas a ficarem em casa caso pudessem, a utilizarem todos os protocolos de higienização, muitos destes com cartazes educativos, além de comunicar mensagens de aconchego.

Um dos inúmeros projetos que tem feito a diferença nesse contexto pandêmico é o perfil no Instagram chamado de “Covidesigners” (@covidesigners). A iniciativa engloba em vários âmbitos o design socialmente responsável. Em uma entrevista, o fundador do projeto, Sam Profeta, fala um pouco sobre o objetivo da iniciativa e reflete uma visão de um design social responsável e transformador tanto no que diz respeito à visão da sociedade sobre a área, quanto a vida das pessoas: “A intenção foi tirar um pouco esse papel muito mercadológico do design que a gente tá acostumado e que o nosso trabalho não serve só para agregar valor a marca, aos produtos e as embalagens, também serve pra provocar mudança na vida das pessoas.”

Fonte: https://evoe.cc/covidesigners/

Com o sentimento de impotência e de angustia, Sam teve a ideia de chamar alguns amigos designers e artistas para criar cartazes e canalizar essas ansiedades em algo que fosse, de fato, eficaz, fazendo a diferença para a vida de quem está sendo atingido pela doença. Esses convidados passaram a criar cartazes positivos e inspiradores para trazer, primeiramente, aconchego e, após uma seleção dos cartazes, as peças foram impressas em isografia. Por meio da campanha de um financiamento coletivo, os cartazes são como um agradecimento aos doadores e todo o valor arrecadado será doado para os grupos sociais mais afetados pelo COVID-19. Incrível, não é?

Do design gráfico ao design de produto, analisemos a seguinte máscara desenvolvida por uma empresa americana chamada Bilio:

Fonte: https://pande.com.br/inspire-se/tecnologia-e-inovacao-na-pandemia-exemplos-de-marcas-que-vem-se-destacando/

Produzidas por uma empresa que produz bolsas sustentáveis, as máscaras Bilio são reutilizáveis, se adaptam a vários tipos de rosto, tornando o uso dela confortável. Além disso, a máscara é altamente tecnológica e não gera resíduos.

A partir destes dois breves exemplos, percebemos o design atuando diretamente na mudança e na vida das pessoas, facilitando a adaptação ao momento. De acordo com Juliana Proserpio (2019), “Nossa sobrevivência está profundamente relacionada à nossa habilidade de adaptação. Mais do que isso: possuímos inteligência o suficiente para não apenas conseguirmos nos adaptar constantemente como também para transformar a realidade.”. O design tem esse poder de transformar. O design pode informar, conscientizar, questionar, levar a sociedade a uma reflexão, além da mudança prática, palpável, facilitadora.

“O mundo precisa de mudanças graves e urgentes, e os designer têm muito a contribuir para isso. O que nós podemos fazer, nenhum outro profissional fará. Nossa metodologia de trabalho se baseia num enfoque abrangente dos problemas, para que as soluções sejam definitivas, e não paliativas.” REDIG (2011)

Nós, designers, podemos contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade, criando, através de serviços ou produtos, soluções que atendam as suas deficiências e podemos ver essa expressiva importância em momentos como esse de adversidade.

Referências

REDIG, Joaquim. Design: responsabilidade social no horário do expediente. In: BRAGA, Marcos da Costa. O papel social do design gráfico: história, conceitos & atuação profissional. São Paulo: Editora Senac São Paulo. 2011. 185 p.

PEREIRA, Rogério. A importância do bom designer. 2020. Disponível em: https://brasil.uxdesign.cc/a-import%C3%A2ncia-do-bom-design-diante-de-uma-pandemia-699022b953b1

COVIDESIGNERS, 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/covidesigners/?hl=pt-br

Tecnologia e inovação na pandemia: exemplos de marcas que vem se destacando. 2020. Disponível em: https://pande.com.br/inspire-se/tecnologia-e-inovacao-na-pandemia-exemplos-de-marcas-que-vem-se-destacando/

PROSERPIO, Juliana. O poder do design. 2019. Disponível em: https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms/files/10183/1593524913Echos_o_poder_do_design.pdf

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