Como as redes sociais auxiliam as lutas sociais durante a pandemia
As lutas sociais estão presentes na nossa sociedade desde o momento em que a classe trabalhadora decidiu se rebelar contra a exploração de seus patrões, a partir de então, vários outros grupos de minorias marginalizadas se organizaram para lutar contra o sistema que as oprime. Com o passar do tempo e com o avanço da tecnologia, essas lutas começaram a ter mais voz, e as redes sociais hoje, são grandes aliadas desses movimentos em razão da sua abrangência mundial. Principalmente em tempos de pandemia da COVID-19, em que o isolamento social é uma das coisas mais importantes e aglomerações são os maiores focos de disseminação do vírus e por isso, devem ser evitadas ao máximo possível, o papel das redes sociais se amplifica tornando-se de vital importância para a permanência e existência dos movimentos sociais organizados.
Mas antes de falar do papel das redes sociais em relação aos movimentos sociais, precisamos entender quais são essas lutas e como elas começaram:
Desde a passagem do século XIX para o século XX, as lutas sociais estão presentes na história mundial. Elas tem início na época da revolução industrial, com os sindicatos institucionalizando-se para proteger os trabalhadores da exploração patronal, mas foi na década de 60 que as lutas sociais começaram a tomar força, não mais lutando apenas pelos direitos dos trabalhadores (que naquela época eram, em grande maioria, homens, brancos, cisgêneros e héteros), agora as minorias sociais se revoltaram e se organizaram para lutar pelo seus direitos. A população negra se rebelou contra o sistema de segregação racial, que tratava-os como inferiores e garantia privilégios aos brancos. As mulheres se organizaram em coletivos para lutar pela sua liberdade sexual e o tratamento igualitário entre gêneros. A população LGBTQIA+ também começou a se manifestar reivindicando o direito de ser quem são e poder se expressar livremente sem julgamentos. Além disso, adeptos da causa ambiental também começaram a se organizar em protestos em prol do meio ambiente e da necessidade de preservação da natureza.
Essas lutas sempre utilizaram muito as ruas, se apropriando de lugares que antes não eram ocupados pelos mesmos, na busca de mostrar para o restante da população quem eles eram e o porque lutavam, as redes sociais pré pandemia, eram utilizadas para a organização dos eventos e como meio de conscientização básica e prática sobre os movimentos. Mas em 2020, com a chegada da COVID-19 o mundo precisou se redescobrir e reinventar, as ruas não podiam mais ser ocupadas e aglomerações se tornaram um possível foco de contágio. Então, mais uma vez, os movimentos sociais precisaram ocupar um lugar público, onde a sociedade em geral circula, sendo assim, se retiraram das ruas e começaram a habitar, se organizar e estruturar eventos dentro das redes sociais.
Como a internet e as redes sociais surgiram?
A internet foi criada durante a Guerra Fria, em 1969 com fins militares, com o tempo começou a ser utilizada pelo meio acadêmico como plataforma de troca de mensagens entre professores e alunos, e apenas em 1990 se popularizou, adentrando nas casas da população em geral. Com isso, começaram a ser desenvolvidas as primeiras interfaces gráficas possibilitando a criação de sites visualmente mais atrativos e dinâmicos, fazendo com que a internet evoluísse rapidamente. Com o avanço da internet, navegadores foram criados e consequentemente, sites e portais com as mais variadas finalidades, tudo isso fez com que o contexto social começasse a mudar, tornando a internet algo indispensável na sociedade atual. Após a criação de sites, portais e blogs, começaram a ser desenvolvidas as redes sociais digitais, que são sites ou aplicativos que permitem o compartilhamento de informações entre pessoas e/ou empresas. Essas, por sua vez, se tornaram os maiores meios de comunicações mundial, já que conectam pessoas do mundo inteiro simultaneamente. Existem registros do princípio dessas redes em meados de 1994, mas o primeiro site considerado uma rede social foi surgir só em 2002, o Friendster. Após seu lançamento, outras redes sociais foram surgindo, algumas tiveram o seu “boom”, mas depois acabaram sendo desativadas. Como é o caso do Orkut, que após a popularização do Facebook, começou a ser menos utilizado até ser desativado. Hoje, as redes sociais mais utilizadas no mundo todo são o Facebook e o YouTube, como podemos ver no gráfico abaixo. E tendo ideia da abrangência dessas redes, entendemos o quanto elas são importantes e porque se tornaram grandes aliadas das lutas sociais, principalmente durante a pandemia.
E como as redes sociais estão auxiliando as lutas sociais durante a pandemia?
Como exposto anteriormente, nas últimas décadas as redes sociais e as lutas sociais começaram a se unir, a primeira sendo utilizada como suporte pela segunda, mas por causa da pandemia as redes sociais se tornaram ainda mais necessárias para esses movimentos, tendo em vista que o isolamento social se tornou indispensável. Os eventos e protestos que geralmente são presenciais, tiveram de se modificar para aderirem ao contexto digital, da melhor maneira possível. Assim, é possível compreender que as redes sociais se tornaram indispensáveis neste cenário de luta, pois conectam as pessoas ao redor do mundo. E por sua grande abrangência, são ótimos veículos de suporte para os movimentos sociais, já que elas facilitam a comunicação entre movimentos em diferentes cidades, estados e países, viabilizando comunicação mais direta (mesmo que online) com a população não familiarizada ou ativa dentro das lutas sociais. Além de auxiliar na comunicação com o público, essas plataformas também ajudam os movimentos a se organizarem em momentos de manifestação que, se bem organizados, podem ter uma ótima resposta e atingirem muitas pessoas. Alguns exemplos dessas ações são as campanhas e eventos virtuais, dentro das redes sociais que foram criados, e/ou alimentados durante o período de pandemia:
A Semana do Orgulho Lésbico de Pelotas, promoveu palestras via Youtube e perfis em redes sociais criados com intuito de dar mais visibilidade à luta das mulheres lésbicas e bissexuais de Pelotas e abrir discussões sobre assuntos de interesse das mesmas para a conscientização de todes.
https://www.instagram.com/visibilidadelesbica.pelotas/
O movimento Black Lives Matters foi um dos eventos de maior destaque durante a pandemia, ele começou após a morte de um homem negro, George Floyd, por um policial branco. Esse movimento que pede, principalmente, o fim do racismo e da violência policial contra a comunidade negra, teve grande abrangência nas redes sociais e também nas ruas de todo o mundo. Em um terça-feira ocorreu o movimento Blackout Tuesday, vinculado ao BLM, que tinha como objetivo ampliar a voz de pessoas negras que são marginalizadas e ignoradas, mas infelizmente grande parte da população apenas postou uma imagem em preto, o que fez com que o movimento acabasse perdendo um pouco do seu sentido. Após o ocorrido, grande parte dos artistas populares dentro das redes sociais, emprestaram as suas contas para pessoas negras falarem sobre a causa, o que fez com que mais pessoas soubessem da realidade de pessoas negras marginalizadas.
Rede social Instagram na Blackout Tuesday:
O Fashion Revolution é um movimento que foi criado após o edifício Rana Plaza, em Bangladesh, desabar em 2013, o desabamento causou a morte de mais de 1.100 trabalhadores de confecção e deixou mais de 2.500 feridos, as vítimas trabalhavam para marcas globais e em condições análogas à escravidão. Esse movimento no Brasil, criou a hashtag #quemfezminhasroupas que provoca o público a questionar as marcas de quem consumem sobre quem são seus trabalhadores e em que condições trabalham. Tendo em vista que muitas marcas se aproveitam de países menos desenvolvidos para a exploração da mão de obra barata e muitas vezes análoga a escravidão. Esse movimento pede maior transparência das marcas sobre o processo de fabricação de suas peças, desde o início da produção, até sua distribuição e condições de trabalho de seus empregados.
Um dos eventos mais importantes, em caráter mundial, para a comunidade LGBTQIA+, a Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo, pela primeira vez em 24 anos, não foi para a Avenida Paulista. Em 2020 ela precisou alterar seu modelo e foi para as redes sociais. Sua maior ação foi uma live no YouTube, com acesso liberado para todo o público, apresentando vários convidados, e teve mais de 8 horas de duração. Porém uma grande crítica da própria comunidade é a falta de homenagem aos nomes que iniciaram a luta LGBTQIA+ no Brasil.
Link da live: https://youtu.be/Qkidg6b8GM8
Assim, podemos ver que as redes sociais estão sendo um grande suporte para as lutas sociais durante a pandemia, sem elas os movimentos poderiam acabar perdendo a sua força, já que seria mais difícil expor essas lutas e elas terem adesão da população. Vemos que são utilizados todos os suportes possíveis que as redes sociais oferecem, desde posts e hashtags, até lives e isso é muito importante para a participação do público em geral. Também vemos, que se não forem bem planejados e comunicados, alguns atos acabam não saindo como planejado já que as redes sociais oferecem maior liberdade ao público e menos controle aos organizadores dos atos. Contudo, se bem planejados, os atos nas redes sociais tem uma força inimaginável, já que atingem todos os lugares do mundo, mesmo, infelizmente, excluindo a parte da população mais pobre e sem acesso a internet, que é um pouco mais de 40% da população mundial — de acordo com o site wearesocial.com.
Referências:
https://resultadosdigitais.com.br/especiais/tudo-sobre-redes-sociais/#
https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica/article/view/24360
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/movimentos-sociais-breve-definicao.htm
https://www.fashionrevolution.org/south-america/brazil/
https://www.tecmundo.com.br/redes-sociais/33036-a-historia-das-redes-sociais-como-tudo-comecou.htm
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/06/14/parada-lgbt-online.htm
https://wearesocial.com/blog/2020/01/digital-2020-3-8-billion-people-use-social-media