DESIGN, ARTE E MODA EM TEMPOS DE PANDEMIA: Processos criativos como válvula de escape.

Rafaella Oliveira
Design em Tempos de Pandemia
7 min readDec 13, 2020

É fato que a pandemia da covid-19 impactou a vida das pessoas de forma social, financeira, emocional, cultural, política, entre outras. Por conta disso, foi preciso buscar novas formas de comunicação, atividades para ocupar nosso tempo ocioso, uma nova organização financeira e busca por renda extra, tentar manter a sanidade mental e ao mesmo tempo preservar o máximo a nossa saúde e da nossa família. O que ninguém imaginava é que muitos faríamos tudo isso através do Design, da Arte e Moda.

Vamos falar sobre o ‘’DO IT YOURSELF — DIY’’!

De acordo com o historiador Jonathan Voges o termo ‘’Do it yourself’’ ou ‘’Faça você mesmo’’ surgiu em torno de 1912 nos EUA em uma sociedade de pós guerra que buscava alternativas pra se reconstruir, principalmente financeiramente, onde a mão de obra passou a ter um valor alto. Por isso, essa sociedade começou a procurar por soluções criativas para realização de seus projetos e uma forma da execução ser com as próprias mãos, resultando nesse termo, quase como um movimento social da época.

Seria impossível não associar o DIY aos processos criativos que estamos vivendo durante esse período de crise, visando que todos os projetos que temos visto ultimamente tem se voltado pra esse movimento de fazer com as próprias mãos (cultura maker) como uma forma de respeitar o isolamento social, de terapia, exercício da criatividade, complemento de renda e até mesmo pela busca de exclusividade de um objeto, roupa, decoração e etc.

Essas áreas criativas têm papéis fundamentais nesse momento tão conturbado que estamos vivendo, elas desenvolvem a nossa criatividade, nossa percepção espacial e pessoal, nos ajudam a passar o tempo, enxergar o mundo de uma forma diferente fazendo com que seja mais fácil lidar com os conflitos internos e nos proporcionando ferramentas que viabiliza a expressão dos nossos desejos, sentimentos e medos de uma maneira pessoal e mais entendível pelos outros.

Para embasar este artigo, trouxe a fala do psicólogo Torrance, que diz:

“A criatividade é o processo de tornar-se sensível a problemas, lacunas no conhecimento, desarmonia, identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando hipóteses a respeito das deficiências, testar e retestar estas hipóteses e, finalmente, comunicar os resultados”.

E do psiquiatra Paulo Amarante, que diz que a relação entre a arte e a saúde mental é comum e fundamental:

“Poucas pessoas sabem, mas o surrealismo foi criado por um psiquiatra, André Breton. A ideia do surrealismo era propiciar a emergência do inconsciente sem as limitações impostas pela sociedade, deixar aflorar os sonhos, pesadelos e desejos mais profundos. E a arte foi um dos grandes pontos do movimento surrealista, na pintura, no cinema, no teatro. Ela tem a capacidade de se aprofundar na alma das pessoas, nos desejos, nos instintos, no que há de mais obscuro e dar luz, e isso é profundamente criativo”.

Fica muito claro que nesse cenário pandêmico, essas ferramentas de criatividade se tornaram de suma importância nas nossas vidas pelo simples fato de podermos expressar tudo o que somos e materializar nossas histórias, sentimentos e ideias através delas. Estamos em um momento tão delicado, vivendo de incertezas e medos e ao longo de toda vida podemos compartilhar o peso desses sentimentos com nossos familiares e amigos, mas nesse período de isolamento e reclusão social, ficamos presos em nossas próprias cabeças e os processos criativos se tornam uma válvula de escape e uma forma de autoconhecimento.

AS ‘’VÁLVULAS DE ESCAPE’’:

MODA E PANDEMIA : A volta do TIE DYE

Essa técnica surgiu no Japão, com o nome de shibori e o registro mais antigo é datado do século VI ao VIII. Essa forma de tingimento de tecidos era bastante realizada tanto pelos asiáticos quanto por africanos e indianos e se formos pensar contemporaneamente, o ápice foi entre os anos 60 e 70 com o movimento hippie.

James Joplin — 1960

Durante o avanço do coronavírus, o TIE DYE ressurgiu em formato de tendência, aderido inclusive por várias marcas de grife em suas coleções. Essa técnica foi TÃO aceita pelas pessoas por seu processo criativo e produção caseira ser de fácil realização, baixo custo e por ajudar a ocupar o tempo ocioso de forma útil e terapêutica.

De acordo com a personal stylist Juliana Bacellar:

‘’Suas formas abstratas, até psicodélicas representam bem nosso desejo de fuga da realidade e explosão de emoções’’.

Com certeza no cenário de ‘’pós vírus’’ veremos movimentos diferentes no mundo da moda, por estarmos em casa, estamos nos acostumando com roupas mais confortáveis que tragam comodidade e optamos pela customização de peças também como uma forma de reutilização, economia e exclusividade, algo que está sendo inserido em nossas vidas e com certeza vai refletir no nosso cotidiano.

ARTE E ARTESANATO COMO COMPLEMENTO DE RENDA:

Durante a pandemia vivemos uma grande crise financeira onde várias pessoas ficaram desamparadas e desempregadas, em torno de 40% dos brasileiros tiveram sua renda mensal afetada. Um dos maiores refúgios financeiros foi se agarrar as suas habilidades manuais e suas ideias como fonte e complemento de renda, mesmo nesse cenário caótico, as pessoas não deixaram se abalar e adotaram uma atitude positiva de ‘’tomar pra si o próprio destino’’. Amigurumi, bordado com bastidor, scrapbooks, tricô, docinhos e TIE DYE, são exemplos das possibilidades aderidas para fazer uma renda extra. Ao mesmo tempo a economia criativa é o segundo nicho econômico mais afetado pela pandemia da covid-19, por conta das medidas de restrição de circulação, novas formas de comercialização estão sendo criadas e utilizadas, principalmente a venda de produtos online, que se tornou aliada dos empreendedores de todo Brasil.

DESIGN E SEU PAPEL ‘’PÂNDEMICO’’:

É indiscutível que o Design tem um papel social, econômico, político e de democratização da informação, mas porque ele se torna tão importante durante uma pandemia? Qual, como e porque os processos criativos do Design são tão importantes e necessários durante esse cenário? Porque se torna uma válvula de escape? Foram questionamento que levantei antes de escrever esse artigo e acho que nada mais justo do que respondê-los.

O Design é a mensagem e o como se comunica algo, é o fio que liga as empresas com pessoas, pessoas com pessoas e qualquer coisa que se comunique com outra qualquer coisa que se comunique! Durante a pandemia o Design foi aliado das empresas para desenvolver novas formas de interagir e se comunicar com os clientes, dos microempreendedores em divulgações de produtos, das pessoas que precisavam se divertir e se distrair e das pessoas mais necessitadas pois através dele conseguimos mover grandes campanhas.

O BOM Design foi sinônimo de cidadania, informação, conscientização e empatia. Foi através dele que muitas pessoas se alimentaram, podendo fazer mercado ou pedir comida por aplicativos, que as pessoas conseguiram pagar suas contas ou gerenciar seu dinheiro através dos bancos online, puderam se manter informados sobre os acontecimentos do mundo através de jornais online ou redes sociais que tem grande disseminação de informação e diversos outros serviços que foram otimizados. Ele é o grande responsável por auxiliar e organizar as pessoas durante essa mudança de cotidiano, por isso é tão importante sempre pensarmos no impacto dos nossos trabalhos e na responsabilidade das nossas criações.

O Design, a Arte e a Moda e seus processos criativos se tornaram válvulas de escape, não somente de uma forma psicológica, mas financeira e social. O Design com seus diversos papéis, principalmente ergonômico que busca a melhoria da qualidade de vida das pessoas. A arte como terapia, exercício de cidadania e criatividade que ajuda e ajudou milhares de pessoas a se manterem financeiramente durante essa crise. E a moda, que registra o modo de vida das pessoas diante dos momentos históricos, que é nostálgica e também estimula os trabalhos manuais, a reutilização e tem seu caráter artístico e criativo.

REFERÊNCIAS:

DW. “Faça você mesmo” e sua história na Alemanha. 2016. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/fa%C3%A7a-voc%C3%AA-mesmo-e-sua-hist%C3%B3ria-na-alemanha/a-19278728. Acesso em 06 dez. 2020.

CONVEX. A história da Cultura Maker. 2019. Disponível em: https://convexnet.com.br/historia-da-cultura-make. Acesso em 06 dez. 2020.

AJANELALARANJA. Faça você mesmo: veja como o isolamento interferiu na vida das pessoas. 2020. Disponível em: https://www.ajanelalaranja.com/faca-voce-mesmo.html . Acesso em 06 dez. 2020.

JORNALDOCAMPUS. Como é manter a arte viva em meio a uma pandemia? 2020. Disponível em: http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2020/07/como-e-manter-a-arte-viva-em-meio-a-uma-pandemia/ . Acesso em 06 dez. 2020.

COMCIÊNCIA. A arte pode melhorar estados emocionais em períodos de isolamento social. 2020. Disponível em: https://www.comciencia.br/a-arte-melhora-estados-emocionais-durante-a-pandemia/. Acesso em 06 dez. 2020.

SUPERINTERESSANTE. A volta da cultura do “faça você mesmo”. 2017. Disponível em: https://super.abril.com.br/cultura/a-volta-da-cultura-do-faca-voce-mesmo/ Acesso em 09 dez. 2020.

FAZEDORES. Você sabe o que é DIY?. 2017. Disponível em: https://blog.fazedores.com/voce-sabe-o-que-e-diy/ Acesso em 09 dez. 2020.

FOLHADOLITORAL. O artesanato em tempos de crise. 2020. Disponível em: https://folhadolitoral.com.br/colunistas/cultuando/o-artesanato-em-tempos-de-crise/ Acesso em 09 dez. 2020.

REDEJORNALCONTÁBIL. Setor cultural é um dos mais afetados economicamente pela pandemia. 2020. Disponível em: https://www.jornalcontabil.com.br/setor-cultural-e-um-dos-mais-afetados-economicamente-pela-pandemia/ Acesso em 09 dez. 2020.

CNN. Economia criativa e turismo são setores mais afetados pela pandemia, diz Sebrae. 2020. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/2020/10/22/economia-criativa-e-turismo-sao-setores-mais-afetados-pela-pandemia-diz-sebrae Acesso em 09 dez. 2020.

BOLETIM JR. 40% dos brasileiros tiveram a renda mensal afetada devido à pandemia. 2020. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,40-dos-brasileiros-ja-tiveram-perda-total-ou-parcial-da-renda-durante-pandemia-aponta-cni,70003295078 Acesso em 09 dez. 2020.

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