Náthaly Borges
Design em Tempos de Pandemia
7 min readDec 12, 2020

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IMPACTOS DA FAKE NEWS NA VIDA DAS MULHERES DURANTE A PANDEMIA

Figura 1 — Moisés Dorado sobre foto de Ketut Subiyanto / Pexels

O caminho para a igualdade e para os direitos das mulheres sempre foi uma luta constante, o termo feminismo foi empregado pela primeira vez nos Estados Unidos por volta de 1911, as expressões como movimento das mulheres passaram a ser empregadas no século XIX para representar os acontecimentos importantes na história das lutas pelos direitos e pela liberdade das mulheres.

Esta nova percepção feminista que se deu início nos últimos tempos é um acontecimento sem precedentes e está relacionada às redes eletrônicas e ao mundo virtual que ofereceram uma nova dimensão à luta e a perspectiva feminista (MIGUEL E BOIX, 2013).

Levando em consideração que nas primeiras ondas do feminismo as mulheres tinham que se reunirem pessoalmente em lugares, por muitas vezes escondidas, com a chegada das redes sociais as alternativas ficaram muito mais amplas podendo não só ampliar o público para que todos consigam se informar sobre os direitos das mulheres e suas lutas como se reunirem sem precisar estarem juntas fisicamente.

As ondas do feminismo

Precisamos de primeiro momento entender por tudo que as mulheres passaram até a chegada da tecnologia.

Em um primeiro instante, reivindicava-se a igualdade jurídica, o direito ao voto e o acesso à instrução e às profissões liberais, além da oposição a casamentos arranjados e à propriedade de mulheres casadas por seus maridos.

Durante a segunda onda buscavam incentivar as mulheres a perceber os aspectos de suas vidas pessoais como profundamente politizados e como reflexo de estruturas de poder sexista.

Na terceira onda, inicia-se as discussões sobre os feminismos e as opressões considerando as relações culturais, sociais, raciais entre outras várias questões que diferenciam as mulheres.

Durante todas essas ondas o feminismo foi representado graficamente de diversas maneiras, com a evolução da tecnologia muitas designers, feministas e jornalistas buscam por meio das redes sociais para passar suas visões. Porém, com a chegada da tecnologia que foi um grande avanço para a vida de todos, veio também as famosas Fake News, também conhecida como hoax, pós-verdades ou notícias falsas.

Figura 2 — Montagem de fotos

Fake News

Infelizmente não é de hoje que a divulgação de mentiras acontece, porém, com as redes sociais esse tipo de coisa não parou de ganhar força, ele se popularizou e infelizmente se agravou. Os motivos para a criação dessas mentiras são inúmeros vão desde a vontade de atrair acessos e se tornar reconhecido até a de reforçar um pensamento ou um sentimento, geralmente o de ódio. Apesar da internet ser apenas um reflexo do que vimos nas ruas muitas mulheres se sentem muito mais livres para falaram o que pensam no âmbito online, o que por muitas vezes não conseguiam ter essa liberdade no mundo real por se sentiram ignoradas ou até silenciadas, apesar disso ainda sim os ataques e a criação de mentiras sobre temas que envolvem as mulheres são constantes.

Temas como: aborto, feminismo, difamação das mulheres, padrões de beleza, entre outros são diariamente expostos nas redes sociais, em sua maioria trazendo informações falsas, que por sua vez milhares de pessoas tem acesso, acreditam e acabam passando essas notícias para frente.

“Os brasileiros são os que mais acreditam em Fake News no mundo. Segundo a plataforma, 7 em cada 10 brasileiros se informam pelas redes sociais e 62% já acreditaram em alguma notícia falsa.”

Avaaz (plataforma digital)

Mas como a disseminação dessas Fake News impactam a vida das mulheres?

“Mulheres são as principais vítimas das informações falsas”

Patrícia Blanco

Em 2014, uma mulher de 33 anos veio a óbito após ser espancada por notícias falsas geradas nas redes sociais sobre sequestro de crianças e a prática de bruxaria. A família da vítima acusou a página Guarujá Alerta, que se pronunciou dias antes do espancamento dizendo que as acusações contra a mulher eram falsas.

Mesmo a página desmentindo a notícia, a repercussão foi tanta dentro da população da cidade que mesmo assim a moça foi espancada brutalmente e acabou não sobrevivendo.

Figura 3 — Fonte: Página do Facebook

Com a chegada da pandemia que se deu por meio do vírus COVID-19, a crise do coronavírus não trouxe novidades, mas sim ajudou a reforçar problemas estruturais presentes não só no Brasil, as mulheres tem sido muito afetadas de diversas maneiras, e no mundo digital não é diferente.

Em 2020, passando por uma pandemia as pessoas estão mais reféns da internet e isso vem sendo uma saída para o isolamento. De modo a trazer muitos benefícios, mas também muito mais perigo principalmente para crianças, adolescentes e mulheres.

Em meio a pandemia, esse ano ocorreu as eleições e a candidata a prefeita de Porto Alegre capital do Rio Grande do Sul Manuela D’Ávila, foi a uma das principais vítima de notícias falsas durante as eleições. A candidata desde 2018 luta contra as notícias falsas que envolvem ela e também sua família, fazendo a candidata escrever até um livro “E se fosse você” sobre o assunto.

Figura 4 — Fonte: Arquivo pessoal, 2018 e 2020

Ainda diante da pandemia em julho, a bancada evangélica usou de argumentos falsos para poder arrumar empecilhos na tramitação do PL/ 1444/2020 que determina medidas emergenciais de proteção à mulher vítima de violência doméstica durante a emergência de saúde pública decorrente da pandemia do coronavírus. No discurso da banca eles traziam informações falsas, onde os mesmos estabeleciam o projeto com “abortista”, mesmo que, nada relacionado a esse assunto esteja na sua ementa.

Conseguimos ver que a criação das Fake News, impactam na vida das mulheres de diversas formas. Ela pode afastar mulheres das redes sociais, pode prejudicar a saúde mental, pode levar pessoas a cometerem crimes entre outras coisas.

Como combater as Fake News?

São diversos os cuidados que se tem que ter para identificar e combater uma Fake News, é importante ler a notícia com cuidado, verificar as datas de publicações, conferir se o portal é confiável e pesquisar mais afundo sobre o assunto visto antes de compartilhar e passar adiante.

Em 2020 o senador Alessandro Vieira iniciou o projeto Lei n° 2630 que se encontrava-se no senado foi aprovado pelo plenário, mas ainda não foi para votação na Câmara dos Deputados, no projeto diz que:

“Estabelece normas relativas à transparência de redes sociais e de serviços de mensagens privadas, sobretudo no tocante à responsabilidade dos provedores pelo combate à desinformação e pelo aumento da transparência na internet, à transparência em relação a conteúdos patrocinados e à atuação do poder público, bem como estabelece sanções para o descumprimento da lei.”

Alessandro Vieira

Após a criação desse projeto o deputado Orlando Silveira comentou em um debate virtual que defende as mudanças nesse projeto. Infelizmente o projeto ainda não tem uma data para a votação.

Considerações Finais

A internet é um instrumento muito importante, contudo também é muito violento com todos, mas não é novidade que as mulheres pertencem a grupos menorizados e com isso tendem a sofrer mais esse tipo de violência e receber esses comportamentos simplesmente pelo fato de serem mulheres.

Com a pandemia, os discursos vistos são sobre a importância da solidariedade, tolerância e carinho, e com isso venho novamente afirmar que as mulheres foram as mais afetadas com esse cenário atual então é sempre importante nos conscientizarmos e tentarmos fazer ao máximo para que a gente não propague noticiais falsas que possam causar problemas na vida de outras pessoas.

Entendemos que é um momento delicado para todos, mas acho que após lermos tudo isso a lição principal que tiramos é que devemos sim sempre que possível tentar controlar como as notícias divulgadas na internet afetam nossas vidas, e buscar sempre se certificar que estamos compartilhando notícias verdadeiras, para que a gente não contribua na divulgação de Fake News.

Referências

BOIX, Monteserrat e MIGUEL, Ana de. Os gêneros da rede: os ciberfeminismos. In NATHANSON, Graciela (org.) Internet em código feminino: teorias e práticas. Buenos Aires, La Crujía Ediciones, 2013.p. 15–38.

D’ÁVILA, Manuella. Manu fala sobre fakenews. Disponível em: <https://www.instagram.com/tv/CHy_BPOjcM_/?hl=pt-br> Acessado em: 01 Dez. 2020.

D’ÁVILA, Manuella. O tutorial de make tá diferente. Hoje vamos falar sobre as mentiras que eles inventam para me atacar! A verdade é uma só: vamos ganhar as eleições jogando com a verdade. Disponível em: <https://www.instagram.com/tv/CHYxYjbMpZI/?hl=pt-br> Acessado em: 01 Dez. 2020.

D’ÁVILA, Manuella. Não caia em ‘fake news’. Disponível em: <https://www.facebook.com/manueladavila/photos/a.129464433768692/2648943005154143/> Acessado em: 01 Dez. 2020.

Disponível em: <https://www.instagram.com/think_olga/?hl=pt-br> Acessado em: 01 Dez. 2020.

Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2242763> Acessado em: 02 Dez. 2020.

Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2020/07/11/verificamos-aborto-pandemia/> Acessado em: 02 Dez. 2020.

Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/141944> Acessado em: 02 Dez. 2020.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=COBe-JFwPHI> Acessado em: 02 Dez. 2020.

Disponível em: <Manuela D’Avila fala sobre seu novo livro, “E se fosse você”> Acessado em: 02 Dez. 2020.

Disponível em: <https://economia.uol.com.br/colunas/gabriela-chaves/2020/09/10/como-o-coronavirus-atinge-as-mulheres-da-america-latina.htm> Acessado em: 02 Dez. 2020.

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