“Não é possível que só existe a gente fazendo design industrial no Brasil”

tati ferrucio
Design Industrial Brasil
5 min readJun 1, 2021

Esse título foi repetido inúmeras vezes em conversas que tive com meu mentor e grande amigo, Guilherme De Baère, antes de criarmos o DI BR.

Logo Oficial do DI BR (Criação do Hermano Monteiro).

Ao longo do tempo em que trabalhei na Indio da Costa A.U.D.T., eu e o Gui sempre discutimos sobre as nossas referências no design nacional e a importância de se estabelecer uma comunidade de designers no Brasil. Como nós dois tínhamos feito intercâmbio nos Estados Unidos, a gente teve uma experiência similar de vivenciar uma conexão sólida e dinâmica do meio acadêmico com a indústria. Ambos tivemos a chance de desenvolver projetos patrocinados por empresas dentro na faculdade, além de participar de outras iniciativas que fomentam o design em escala nacional… E o tema do nosso almoço sempre voltava para a possibilidade de conectar os designers industriais de uma maneira similar no Brasil.

Eu contava para o Gui como era frustrante estar na faculdade e ter tão poucas referências de times de design no contexto nacional. Na faculdade, a minha geração foi apresentada a nomes de sucesso, mas nunca a equipes ou escritórios. E por muitas vezes, eu me perguntei: e para onde que vão todos os estudantes formados em design industrial no Brasil? Não é possível que trabalhar na Indio da Costa é a única opção.

Quando eu me mudei para os Estados Unidos definitivamente em 2018, eu tive a oportunidade de me conectar com mais pessoas fora da bolha da universidade, e isso me abriu portas que eu jamais imaginaria. Tanto a comunidade acadêmica quanto profissional contam com a presença de diversas associações e organizações que fomentam a dinâmica universidade-indústria pelo país.

Um exemplo importante é a IDSA (Industrial Designers Society of America) — uma das principais organizações de design dos Estados Unidos. Fundada em 1965, essa associação promove grupos de discussões, eventos, prêmios, bolsa de estudo, dentre outras iniciativas, tanto no eixo educacional quanto profissional. A IDSA me permitiu conhecer designers em todo território americano. Através das suas iniciativas, eu pude aprender sobre diferentes trajetórias profissionais, bem como buscar feedback no meu portfolio, encontrar novos mentores, dentre outras oportunidades.

Apesar do protagonismo da IDSA em fomentar o design nos Estados Unidos, a organização que de fato me acolheu na comunidade design americana foi a Advanced Design. A AD começou em 2016 por uma iniciativa de alunos da University of Illinois at Chicago (UIC) e hoje promove o design através de inúmeras iniciativas — conferências, eventos, palestras, cursos, podcast, publicações e rede sociais. Atualmente, a organização colabora com mais de 50 estúdios, educadores, escolas e profissionais de design nos Estados Unidos e internacionalmente.

A Advanced Design me trouxe não só colegas de profissão, mas também grandes amigos. Em 2019, tive a oportunidade de participar da conferência Square One (SQ1) e estar no evento foi um grande divisor de águas no meu entendimento do que é uma comunidade de design. Nesse ano em especial, a conferência trouxe palestrantes com um background similar ao meu — de origem latina. Presenciar a história desses profissionais me fez perceber o quanto a representatividade importa — faz o sonho se tornar possível.

A SQ1 me abriu portas como profissional, mas também me mostrou como a construção de uma comunidade é importante para que os alunos possam traçar suas metas durante a faculdade. Se as referências não são acessíveis, como esperar que os estudantes possam atingir o mercado de trabalho?

Colagem de imagens que tirei durante a conferência Square One (SQ1) em São Francisco, 2019.

A exposição radical a essa comunidade, que conta com tantos núcleos como a IDSA, Advanced Design, Unif-ID, Women in Industrial Design, Minor Details, dentre outros, me abriu o horizonte para nunca mais estar desconectada. As oportunidades eram tantas que a não-existência de um modelo similar no Brasil incomodava cada vez mais.

Há muita verdade em se dizer que a inovação nasce da frustração. O encontro desse novo universo me motivou a pensar em maneiras de viabilizar essa comunidade brasileira, onde poderíamos discutir temas diversos sobre a prática de design industrial no Brasil e mundo a fora.

Eu e o Gui continuamos a nossas discussões por mais alguns meses, juntamos mais amigos e designers na iniciativa e resolvemos dar o primeiro passo em 2020. Passamos os primeiros dias do ano pensando em como criar o grupo, qual plataforma usar, como convidar outros colegas, etc. Decidimos que o WhatsApp seria o nosso principal canal de comunicação — justamente por ser uma plataforma familiar a qualquer brasileiro — e o Discord seria um diretório para conversas mais organizadas e estruturadas.

O grupo começou a partir dos primeiros integrantes (Gui, Marcus, Jon e eu) convidando outros designers, que convidaram outros designers… E por aí vai. Nos primeiros dias, já tínhamos atingido os profissionais do Rio, com algumas exceções para colegas que moravam no exterior. Até que um mês após a criação do grupo, eu fiz uma divulgação no meu LinkedIn com o seguinte texto:

O post ganhou uma dimensão que nenhum de nós esperava. Profissionais do Brasil inteiro entraram em contato, pedindo para participar. O grupo, que começou com quatro designers cariocas, passou a contar com profissionais de todas as regiões do Brasil, além de outras localidades do mundo — Noruega, Singapura, Inglaterra, Portugal, Estados Unidos, Canadá… E muito mais.

Hoje, o DI BR tem 256 membros no WhatsApp e 172 no Discord, compartilhando suas experiências de vários lugares do mundo, sob diferentes níveis de experiência. A comunidade cresceu a partir de uma dinâmica tão orgânica que permitiu colaborações entre os membros, troca de informação, networking, compartilhamento de vagas, etc.

O grupo, que nasceu da necessidade de se conectar com outros profissionais da área, se tornou uma plataforma horizontal capaz de fomentar iniciativas impacto direto… E hoje, existe um orgulho imenso dentro de mim por ter colaborado na construção dessa comunidade.

As iniciativas não param de crescer e o nosso próximo passo será a geração de conteúdo 100% nacional através da nossa publicação no Medium. A idéia é que todos possam contribuir com textos e artigos para a plataforma.

O time de administradores do DI BR fará uma curadoria dos materiais recebidos, assim como dará suporte aos autores para formatar seus artigos para o padrão do Medium.

A equipe do DI BR agradece imensamente a participação dos seus integrantes e nós mal podemos esperar para divulgar o conteúdo de vocês. Obrigada e mãos a obra :)

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