Como extrair o melhor do seu designer

EW Design Studio
Design por escrito.
3 min readNov 17, 2016

Entre a semana passada e esta semana, comecei a fazer um projeto que já é tradicional para alguns de meus clientes: um cartão de natal (digital, a ser enviado por e-mail).

Primeiro o cliente me disse simplesmente: Precisamos começar a fazer o cartão de Natal deste ano’. Pedido padrão para um job corriqueiro, parece tudo certo, não é mesmo? Então eu lhe entreguei um layout também padrão, que claro estava bem executado, contendo todos os fundamentos de um bom projeto de design, mas padrão.

Resposta previsível do cliente: ‘Queremos mais uma opção, esta ficou sem vida.’

E esta curta história (que ainda não acabei de contar) é muito comum no dia-a-dia dos designers, em diversos locais, no mundo inteiro. É frequente um cliente — quase sempre com a desculpa da praticidade e da falta de tempo — te encomendar um projeto apenas citando o nome da peça, na grande maioria das vezes, esse pedido não vem nem mesmo acompanhado de um texto (a maioria dos empresários talvez não saiba, mas existe um profissional especializado em elaborar bons textos, o Redator).

Da mesma forma que grama não dá frutos deliciosos e vistosos, um pedido que contém apenas o nome da peça a ser desenvolvida não pode gerar um resultado excepcional.

Vamos tentar transferir esta situação para um arquiteto. Imagine um cliente chegar para um arquiteto, pedindo simplesmente para ele projetar uma casa, sem dizer onde ela deve ser construída, quantos e quais cômodos, quem e quantas pessoas vão morar nesta casa e nem mesmo como ele imagina ou deseja que ela seja em geral. Uma casa, simples assim. Os arquitetos sabem como projetar uma casa, não é mesmo? Não. Não é. Os arquitetos, assim como os designers, não devem e não podem empenhar seu tempo (que é tão escasso quanto o de qualquer outro profissional) para tentar advinhar o que seus clientes desejam como resultado final de cada projeto.

“Ah, mas um cartão de Natal é somente um cartão de Natal!” Se fosse assim todo mundo usaria o mesmo cartão Natal e enviaria este mesmo todos os anos, não acha?

Cada projeto é um projeto único, mesmo sendo um projeto que acontence periodicamente. Nós sempre queremos passar uma mensagem diferente a cada momento.

Então, ao invés de dar comandos ao seu designer e esperar que ele faça como o Google e te entregue um resultado baseado em cálculos de algoritmos, tente dar ele o máximo de informações que puder.

Continuando a história que iniciei no começo desse texto, aproveitei a recusa do cliente para tentar extrair o máximo de informações que eu precisava para entender o que ele, exatamente, queria como resultado daquela peça (de comunicação), ou seja, o que ele queria comunicar, que mensagem ele queria transmitir. Disse a ele que precisava de um briefing algo que me trouxesse uma imagem mais clara daquilo que eu precisava fazer. Foi então que ele me contou uma história sobre como havia sido o seu ano, suas dificuldades, seus desafios e como ele havia se esforçado para superá-los e para tentar mostrar ao mercado que sua empresa estava, não só aguentando firme, mas estava progredindo e oferecendo mais e melhores serviços para ajudá-los ainda mais. Colocou para mim, como a saga de um ano difícil pode nos trazer ainda mais garra e esperança de que as dificuldades são passageiras e que o futuro pode ser melhor se não nos acomodarmos.

Perceberam a diferença? Agora eu tinha um Briefing (ou Brief) do projeto. Agora eu tinha até muito mais do que informações, eu tinha inspiração para traduzir uma mensagem em uma peça de design, com conteúdo, conceito, objetivo!

Resumindo: quando você quiser algo bom, surpreendente, inovador de seu designer, dê a ele INSPIRAÇÃO. É dessa matéria da qual os projetos que realmente nos encantam são feitos. Passe a respeitar mais, não somente o seu designer, mas os seus projetos. Seu designer não é um mouse, é um ser humano que trabalha com ciências humanas, que trabalha com o subjetivo aliado à técnicas de execução. Precisa ter motivação! Quando você quiser que algo tenha vida, então dê uma alma a esse algo. Um corpo sem alma, não tem expressão, não tem emoções e quem não tem emoções não pode transmití-las. Um corpo sem alma é só um corpo.

Uma peça de design sem conceito é só mais uma peça.

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