Como foi a experiência de fazer um Teste de Usabilidade remoto?
O cenário era o que menos esperávamos. Estávamos frente a uma pandemia que não recomendava o contato entre as pessoas. A empresa não tinha a cultura de trabalhar remotamente, estava em processo de transição. Por mais caótico que possa parecer, lidamos bem com a ideia, o importante era manter o foco e continuar com as entregas.
Lembrei das aulas que tive no Tera com testers experientes (e ótimas, diga-se de passagem), que haviam tocado em situações quando os testes eram feitos com pessoas de outros países.
No nosso caso, a barreira não era oceanos de distância e horas de avião, mas uma questão que nem poderíamos enxergar.
Preparativos
Minha dupla nessa experiência foi o Vinicius Ramalho, que é QA na Praxio Tecnologia. Ele ficou responsável por achar pessoas para que pudéssemos fazer os testes e cuidaria da parte de explicar o negócio do projeto. Nós alinhamos como seria conduzido através do Discord e do Slack, ferramentas que nos ajudaram muito para tornar tudo mais fluído.
Toda a revisão do protótipo que seria testado foi feito em conjunto e montamos um formulário onde seria explicado passo a passo das etapas que a pessoa precisaria fazer.
A ideia do formulário era algo já estabelecido na empresa, e isso ajudou muito. Com isso, nós nos preocupávamos apenas em conduzir a entrevista, anotar insights e entender as ações.
Horários mais espaçados
Depois de conseguir as pessoas, separamos por horários com espaço de folga para o caso de problemas durante o teste, como conexão ou dificuldade de entendimento, e para que também, eu e o Vinicius conversássemos rapidamente sobre o que achamos do teste e se há algo que possamos melhorar no próximo, afinal era algo novo para todos nós.
O teste remoto
Antes de tudo, revisei o protótipo e o formulário, separei água, caderno, lápis, caneta e chequei se a minha internet estava funcionando. Pode parecer bobo, mas o básico é preciso ser revisto para que não haja nenhum problema. Testei também a plataforma que eu usaria e a de backup, se por acaso a primeira desse problema.
Abrimos uma sala (free) na plataforma Zoom. Convidamos o usuário e pedimos para que abrissem a câmera e compartilhasse a tela. Informamos que iríamos gravar o teste para que pudesse ser revisitado depois e reforçarmos que:
“O que está sendo testado é o protótipo e não você.”
Eu e o Vinicius nos dividimos onde eu conduziria o teste e conversaria com o usuário para entender o que ele está sentindo, enquanto o Vinicius respondia dúvidas de negócio, já que o que estava sendo testado era justamente um projeto da Squad dele.
Como trabalho com duas telas, dividi uma para acompanhar o teste, tendo a visão da pessoa e a outra do protótipo. No celular, deixei o Slack aberto para o caso do Vinicius querer apontar alguma questão.
Durante o teste, tivemos alguns questionamentos relevantes que contribuíram para o desenvolvimento do projeto como um todo, o que fez com que tivéssemos que revisitar e contactar a P.O. sobre a viabilidade técnica de algumas sugestões.
Percebemos que pessoas que entendem pouco do negócio, ainda assim, conseguiam fazer ações, o que fez com que a gente entendesse que mesmo com ressalvas, o protótipo era claro. Para aqueles que já tinham pleno conhecimento de como funcionava o negócio, fomos questionados sobre a possibilidade de agregar novas features, relatando sobre casos mais complexos.
Notamos que haviam um padrão sobre o que era fácil e difícil dentro do protótipo e as palavras usadas para descrever eram muito similares. Outro ponto visto era que mais da metade dos usuários não liam as tarefas solicitadas no formulário e saíam clicando. O ponto positivo? Mesmo sem ler a tarefa, eles sabiam o que fazer dentro do protótipo, reforçando a ideia de que era muito intuitivo.
Os resultados
A impressão que tive é que as pessoas se sentiram muito mais confortáveis fazendo o teste de forma virtual, pois estavam no conforto dos seus lares e usando os seus próprios aparelhos. Alguns tiveram problemas de conexão, e se sentiram nervosos por isso, mas ao fim, a pessoa entendeu que todo mundo estava no mesmo barco e ela se sentiu mais acolhida.
Com a ideia da gravação pelo Zoom e o envio do formulário, a documentação se tornou fácil. Foi apenas preciso digitalizar alguns pontos que eu tinha anotado a mão (que apenas é um gosto pessoal).
Revisando plataformas usadas
Discord — para a comunicação corriqueira e para o debrief. Usamos também lá para reportar para a P.O. como foi o teste, apresentando também algumas gravações.
Slack — para pontuar alguma questão do que está acontecendo durante o teste.
Zoom — para conduzir todo o teste, assim como para gravar. Como tínhamos uma ideia de 20 a 30 minutos, com folga, por teste, os 40 minutos free nos eram suficientes.
Google Form — montamos o passo a passo do teste por lá, e o usuário preenchia e avaliava como tinha sido a experiência.
Hangout — como o plano B, para o caso do Zoom apresentar problemas.
Por fim, eu aprendi que…
- Não é uma experiência comum para todo mundo, por isso a importância da paciência;
- Fazer com que o teste fosse descontraído foi primordial, tornou tudo mais leve e dinâmico;
- Podemos entregar sem nos apoiarmos na desculpa que “não temos a versão paga” (para esse caso);
- A importância de ter uma dupla! Principalmente nesse momento, se uma das pessoas que estão conduzindo perde a conexão, a outra pode conduzir sem que haja impacto no teste;
- Mesmo remoto, você se diverte! Eu adoro ter que aprender como as pessoas pensam e entendi que a gente consegue fazer isso mesmo atrás de câmeras.