Por que todo Produto deveria investir em Formação de Hábito

Fabiano Meneghetti
Design RD
Published in
5 min readDec 8, 2017

Todos nós temos hábitos, alguns deles criamos de forma consciente, já outros só nos damos conta depois de um certo tempo. E assim como muitos hábitos são difíceis de se criar, eles podem também ser ainda mais custosos de se perder.

Por definição, hábito é:

“Tendência ou comportamento, geralmente inconsciente, que resulta da repetição frequente de certos atos; rotina; automatismo”.

Do livro O Poder do Hábito, Charles Duhigg diz que “todo hábito tem um gatilho disparador que o antecede e uma recompensa final.” E complementa que [(…)] “para que a mudança de hábito tenha sucesso, é necessário identificar estes dois mecanismos.”

A neurociência explica o hábito afirmando que o cérebro possui uma parte que é responsável por novos pensamentos, voluntária e capaz de aprender novos modelos — e por isso mais lenta. Porém, além dessa, existe outra área, mais veloz, involuntária, impulsiva — esta área é a que usamos em nossas rotinas habituais. Por causa dessa subdivisão, essencialmente fisiológica, precisamos de um grande esforço inicial pra criar um hábito. Por isso que, após fixado, mantê-lo fica gradativamente mais fácil e o cérebro começa a executar a rotina de forma automática, gastando assim menos energia.

“Once a habit is formed, the user is no longer considering whether they should open an app — they check the app every day, automatically, without thinking much about it.” — Nyr Eyal.

Hooked

A partir desse conceito, as marcas que utilizamos diariamente estão enxergando a formação de hábito como uma grande estratégia para nos manter o maior tempo possível “consumindo” — nos mantendo fisgados dentro de seus produtos. O objetivo não é mais fazer com que se conheça e se consuma. A ideia é consumir ou utilizar com frequência com o intuito de fazer com que, com o decorrer do tempo, essa rotina se torne involuntária, automática e nos forneça uma onda de prazer a cada vez que a executamos.

Em geral é 5 vezes mais custoso atrair um novo cliente do que manter um atual, o que em ambiente de produto chamamos de User Retention (retenção de usuário). Claramente temos um motivo e uma relação direta entre formação de hábito e retenção, diminuindo custo de aquisição e engajando a pessoa a se conectar de forma mais profunda com a marca.

Foi a partir dessas estratégias para manter o usuário dentro do produto que surgiu o framework chamado Hooked, idealizado por Nyr Eyal. A partir de uma série de estudos ele identificou que, para o usuário criar o hábito e manter-se uma pessoa ativa e engajada com o produto, é necessário que ele passe por 4 etapas, começando com um gatilho e terminando com uma recompensa:

1. Trigger: O gatilho começa com um trigger externo, algo que leve para dentro do produto. A tendência é que esse gatilho se torne automático e o usuário, de forma autônoma, vá atrás daquilo que ele quer.

“À medida que os usuários vivenciam situações assim, o produto passa a ser associado a gatilhos internos como solidão, tédio e medo”, diz Eyal.

2. Action: É a ação realizada antes da recompensa. Por exemplo, pessoas seguem fazendo scroll no Instagram pois sabem que verão sempre um novo conteúdo. As ações devem ter o menor esforço possível e a recompensa deve vir o mais rápido possível.

3. Reward: É a recompensa por ter realizado aquela ação. Mas, além disso, ela deve ser instigante a ponto do usuário querer algo a mais. A imprevisibilidade da recompensa e, acima de tudo, a sua aleatoriedade é o que mais nos motiva a puxar a alavanca (trigger) novamente.

4. Investment: Pessoas investem pensando em um benefício futuro, como dinheiro, informações pessoais, status social, tempo e esforço. É o investimento que irá puxar o próximo trigger.

O modelo Hooked é bem aprofundado no livro, procurei então fazer um resumo visual e colocamos na parede do nosso andar de produto no RD Station.

Hooks na prática

Pra demonstrar a aplicação de alguns hooks, peguei 3 serviços que são referência em engajamento de usuário e acredito que você que está lendo é fisgado por pelo menos um deles todo dia (se não por todos):

“For example, on Facebook, you scroll through the feed. Then, you learn how to post a photo, and then a status. Each one of these is an additional hook: Facebook offers users one hook after another.” — Nyr Eyal.

1. Facebook:
facebook.com

2. Duolingo:
duolingo.com

3. Slack
slack.com

For good and for bad…

Hoje faço parte de um time focado em formação de hábito aqui no RD Station. Já começamos a aplicar o modelo e confesso que na teoria é bem mais simples.

Porém, algo que temos sempre que pensar — e que o próprio Nyr provoca no livro — é no objetivo e no valor que estamos trazendo com o hook proposto. Como queremos engajar o usuário o ideal é usar todas as estratégias do modelo para melhorar a experiência, pois facilmente é possível fisgá-lo para o "lado ruim da força", o que não é nada legal.

Eyal então propõe o que ele chama de Manipulation Matrix pra validar se estamos fazendo 2 coisas:

1. Estou fazendo algo que eu usaria?
2. Isso traz valor e ajuda de alguma forma a pessoa que utiliza o produto?

No mínimo uma pergunta deveria ser respondida sim, se forem as duas então é uma ótima aposta de hook.

Recomendo demais a leitura para quem quer estudar mais sobre o assunto. Por último, deixo uma última frase para refletir: não pense apenas em como aplicar o modelo, pense em qual é a real recompensa que o nosso usuário está procurando?

“Only by understanding what trully matters to user can a company correctly match the right variable reward to their intended behavior.”

Quer integrar a equipe de design do RD Station? Acesse:
http://shipit.resultadosdigitais.com.br/trabalhe-conosco

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