A Seleção Natural e os Negócios

Esley Henrique
Livework São Paulo
5 min readMar 4, 2016

por Esley Henrique e Lucas de Toledo

Segundo Darwin, os organismos melhor adaptados a determinado meio possuem maiores chances de sobrevivência. Acreditamos que assim como a natureza, o mundo dos negócios, com uma concorrência cada vez mais feroz, tem feito com que os produtos e serviços que melhor se adaptem às necessidades das pessoas, sejam selecionados pelo seu ambiente.

Um modo para compreender o meio

Imagine que um determinado organismo, talvez um dinossauro beirando a extinção, pudesse, junto de toda a Natureza, desenvolver as características de seus descendentes adaptadas às condições do ambiente, aumentando assim as suas chances de sobrevivência ao meio existente. Seria bom, não?

Sessão de cocriação durante o Período Cretáceo onde diversas espécies interessadas em manter a linhagem da mãe dinossauro se reúnem para gerar soluções para as características de seus descendentes.

Diferente dos organismos naturais, uma organização pode adaptar as características de sua oferta ao contexto que pertence — desde sua concepção à constante atualização. Em outras palavras, é possível construir um produto ou serviço adequado às necessidades das pessoas e mantê-lo assim através de mutações de suas características para que sigam sendo relevantes no dia a dia dos consumidores, em seu ambiente.

Colaborar com seus clientes em novas soluções para o seu negócio e ouvir o que eles tem a dizer é extremamente valioso, pois, esse entendimento é determinante para o seu sucesso. Fazer isso lhe ajudará a construir tanto sua estratégia de negócio quanto seus produtos e serviços. Porém, apenas ouvir o que os clientes tem a dizer não é suficiente, é preciso gerar soluções que façam sentido para a organização enquanto a mantêm viva.

Há hereditariedade nos negócios

Vivemos em um momento onde as pessoas procuram no mercado ofertas que atendam às suas expectativas de modo consistente e assertivo. Características e funcionalidades de serviço que satisfaçam as necessidades dos clientes e, de modo geral, atendam seus desejos, possuem maior chance de serem selecionadas e, consequentemente, a permanecerem existindo — seja como inspiração ou simplesmente cópias realizadas pela concorrência (que não garantem o seu sucesso).

Uma boa ideia não é sinal de uma excelente experiência para o seu cliente.

Muitos são os casos onde as organizações simplesmente se apoderam de determinados traços já existentes no mercado, ou seja, adaptam determinada funcionalidade ou característica de um concorrente ao seu portfólio de serviços. Não existe nenhum problema nisso pois, afinal, o traço mais adaptado tende a gerar mais “descendentes”. Porém é preciso se pensar na experiência ao longo da jornada desse “novo serviço”, já que é exatamente esse o grande diferencial em um mercado em constante evolução.

Novas soluções financeiras vem surgindo em diversas regiões, cada uma delas adaptadas ao seu contexto. O Nubank não foi o primeiro a pensar em um serviço financeiro totalmente digital, porém soube construir uma experiência diferenciada em um setor com diversas falhas e um mundo cheio de burocracia.

Se adaptar para sobreviver

Assim como um animal adaptado ao clima quente, úmido e escuro de um pântano muito provavelmente morrerá ao ser inserido em um deserto, não transmitindo o seu código genético, uma empresa bem sucedida em seu mercado local que deseje expandir sua operação para outros países, corre um grande risco ao não rever a sua oferta diante dessa nova cultura.

Muitas multinacionais tiveram que se adaptar para fazer sucesso com o público brasileiro, de montadoras a empresas de higiene. Duas empresas que enfrentaram muita resistência para entrar no nosso mercado foram as Norte-Americanas KFC (Kentucky Fried Chicken) e a PizzaHut. A primeira pelo simples fato dos brasileiros abominarem pegar comida com as mãos: enquanto nos Estados Unidos é muito comum pedir um balde cheio de frango frito e se lambuzar, aqui queremos talheres, arroz e feijão. Desde 2012 a KFC serve frango frito com arroz e feijão, e olhe só, com talheres! Em 1989 a PizzaHut resolveu trazer suas pizzas para terras tupiniquins, exatamente como em suas unidades americanas, mas não deu certo. Levou um certo tempo para descobrirem que massa fofa, de pão, e sabores como carne moída e pimentão, não eram apreciados por aqui, além do preço, que era mais caro do que em outras pizzarias.

Além de se adaptarem a um certo tipo de público, as empresas devem ter em mente que precisam, ainda, se adaptar à evolução do mundo. Não apenas pelas novas tecnologias e tendências em si, mas também pela maneira como elas mudam as expectativas das pessoas. Como casos famosos de falência temos a Kodak e a rede Blockbuster, empresas que sabiam que o mundo estava evoluindo e que poderiam utilizar novas tecnologias para disponibilizar uma evolução do serviço que já entregavam. No entanto, como já sabemos, isso não foi feito e novas organizações, mais adaptadas, surgiram, como o Netflix e telefones com câmera.

A evolução para gerar valor

A Blockbuster, por exemplo, não soube aproveitar a evolução do mundo. Enquanto ela ainda era sucesso, uma outra empresa, iniciava seus trabalhos com um serviço de entrega de filmes por correio. O seu nome? Netflix. E com a evolução da tecnologia, principalmente o streaming, o seu negócio foi totalmente transportado para o meio digital, evoluindo para se tornar o que é hoje, um serviço acessível através de vários canais, barato e que cumpre bem o seu propósito: dar aos seus clientes a possibilidade de assistir a filmes e séries onde e quando ele quiser. Ao fazer isso, a empresa chegou ao patamar de ocupar quase 40% da banda utilizada por toda a internet nos Estados Unidos.

Evolução (natural) dos negócios.

Assim como a Netflix, empresas como Uber, AirBnB e Nubank também trouxeram a comodidade digital para os seus clientes. Hoje sequer percebemos o quão incrível é ver o carro do Uber chegando através do mapa, por exemplo. Você já parou para pensar o quão futurista é entrar em um carro, chegar no lugar que você queria e sair “sem pagar”? E fazer tudo isso sem ter que procurar o dinheiro na bolsa ou ficar com medo do cartão de crédito não ter limite disponível? Fora o atendimento, que dispensa comentários.

É preciso se manter atento ao mercado, às novas tecnologias e às necessidades e desejos das pessoas, pois, é através deles que surgem novas oportunidades de negócio com potencial para impactar o dia a dia das pessoas e consequentemente o resultado nas organizações. São as organizações que melhor se adaptarem ao seu ambiente que sobreviverão.

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Esley Henrique
Livework São Paulo

Gosto de cães, comida bem temperada e futebol bem jogado.