Inteligência Emocional para Inovação por Rodrigo Vergara — Livework Entrevista

Livework Brasil
Livework São Paulo
6 min readNov 1, 2017
Markus L. Fourier (esq.) e Rodrigo Vergara (dir.) são sócios da RIA — Improvisação Aplicada. Rodrigo nos explica como a Improvisação pode contribuir para que a Inovação aconteça.

Continuamos a série Livework Entrevista, uma série de entrevistas com colaboradores e parceiros da Livework. Abordaremos temas, teorias, ferramentas e habilidades que compõem um projeto de Design e que devem fazer parte do repertório de qualquer profissional que queira desenvolver projetos de inovação de impacto.

O segundo entrevistado da série é Rodrigo Vergara, jornalista e consultor de Branding, e sócio de Markus L. Fourier na RIA — Improvisação Aplicada, consultoria que visa aprofundar vínculos entre membros de equipe, despertar a criatividade e a consciência necessárias à inovação, promover a vivência de valores, além de apoiar mudanças na cultura e turbinar as práticas de colaboração.

Livework: Nos fale um pouco sobre você e o Markus. Qual o background de vocês e como chegaram até o campo da Improvisação?

Rodrigo: Iniciei como jornalista, trabalhando em grandes veículos de mídia impressa. Após esse período, recebi uma proposta para trabalhar na Natura e lá atuei com Branding, cuidando da marca corporativa. Após um bom tempo lá, abri minha própria consultoria de produção de conteúdo, estratégia de comunicação e Branding, onde atuei por 5 anos. Foi quando decidi tirar um período sabático, pois estava cansado de me deixar guiar por obrigações auto impostas e o desejo de ser alguém. O intuito era aprender a tomar decisões baseadas no que eu realmente queria. Passei 3 anos no sabático. Nesse período, eu queria encontrar algo que eu realmente gostasse, me colocar a serviço dessa vontade e me deixar fazer o que eu quisesse fazer. E eu fui fazendo, fazendo até que virou o que eu faço. E, neste período, o que mais me chamou atenção foi a improvisação. Realizei alguns cursos relacionados ao tema e me conectei muito, pois percebi que havia muito potencial para conectar as pessoas com a espontaneidade, a fim de se conhecerem melhor e gerar empoderamento. E tudo isso de um jeito divertido. Eu sempre busquei algo que eu pudesse brincar mas, ao mesmo tempo, executar. Desde então, tenho executado isso, mas ainda estou no começo, ainda estou aprendendo muito porque é todo um mundo de pesquisa a respeito da improvisação.

O Markus é formado em Administração de Empresas e trabalhou um tempo em uma empresa familiar e depois, por ser muito interessado por Psicologia, foi estudar sobre o tema. Na mesma época em que ele estudava Psicologia, fazia teatro. Foi quando percebeu que havia uma grande similaridade entre as aulas de improvisação que fazia no teatro com o Psicodrama, que é uma linha da Psicologia que bebe muito da possibilidade de interpretação de papéis, sabendo que nós estamos sempre interpretando um papel, e que não existe um “eu” absoluto, mas sim, vários “eus”. E a saúde vem de nós conseguirmos enriquecer nossa jornada passando por vários papéis. Portanto, ele decidiu se aprofundar no Psicodrama e, junto com alguns amigos, começou a trabalhar com isso e criou uma abordagem totalmente nova com aplicação da improvisação. E, desde então, vem atuando com essa temática. Nos conhecemos em um dos cursos que fiz no meu período sabático e nos conectamos desde o princípio.

L: Mas afinal, o que é Improvisação?

R: A improvisação acontece em relação. Não é algo pensado, mas sim, praticado. Ela permite que se teste abordagens. A improvisação é composta de jogos e isso torna a relação com o mundo binária, na qual o elemento mais importante deixa de ser o mundo e passa a ser eu. E diante dessa relação binária, percebemos como nos comportamos e nos conhecemos melhor. Podemos realizar uma mesma atividade, com as mesmas variáveis, tendo resultados diferentes somente por causa da mudança de comportamento. E tudo isso em tempo real. Tudo isso com um clima bem descontraído. Nesse processo, as pessoas lembram de quando elas eram crianças, período no qual manifestavam quem realmente são, por ser o período de máxima espontaneidade. Depois perdemos contato com essa fonte, pois são jogadas sobre nós diversas regras dizendo que aquilo não pode, que aquilo outro está errado, etc.

L: Qual a relação entre o Psicodrama e a Improvisação?

R: O Psicodrama usa histórias reais, já a Improvisação trabalha com a ficção. Basicamente, o Psicodrama olha para as histórias reais e as reinterpreta. A Improvisação é composta de jogos com histórias fictícias que nos ajudam a nos conhecer melhor.

E, mesclando as duas abordagens, pegando histórias fictícias e colocando dentro da abordagem do Psicodrama, conseguimos fazer a avaliação da forma, a qual diz muito sobre nós. Estamos cheios de padrões, sejam eles comportamentais, emocionais ou cognitivos. Não importa qual é o conteúdo que entra, o mecanismo é o mesmo. Geralmente a abordagem psicológica olha muito para o conteúdo, enquanto nós olhamos para o mecanismo. Sempre questionando se podemos mudar este mecanismo.

O fato de não trabalhar com um conteúdo real torna a experiência mais leve, pois entramos no jogo sem o medo de estarmos nos expondo, que é o conteúdo. Mas é a forma que nos revela mais coisas.

L: Como vocês estão usando as técnicas de improviso nas organizações?

R: Basicamente, o que fazemos é improvisação aplicada, que é pegar os princípios da improvisação e aplicá-los a contextos específicos e produtivos. Trabalhamos muito aplicando essa abordagem em processos de desenvolvimento humano e organizacional. A improvisação é aplicada porque ela é um gênero dentro de um espetáculo; é arte. Pegamos esse princípio e trazemos para uma aplicação específica que dá um resultado desejado.

L: Como as técnicas de improviso podem contribuir para os projetos de inovação?

R: As abordagens de inovação mais frequentes tratam muito de processos, da sequência de atividades que deve ser feita, falam muito do uso de novas tecnologias, mas a pessoa que está dentro desse processo poucas vezes é acessada, pois não é comum que o modelo de desenvolvimento lide com as pessoas. E é isso que nós trazemos como proposta, pois seja na abordagem do duplo diamante, seja nos momentos específicos de cada projeto, há sempre uma pessoa que está passando por essas etapas. E os padrões dentro dessa pessoa importam nesse processo. No momento de exploração, por exemplo, existe o desconforto de abrir sem saber o que você irá fazer com tanta informação. Este é um processo que gera muita ansiedade. Nós tentamos ajudar a pessoa a passar por esse momento sem sofrimento. Estar tranquila à frente de um universo que ela não tem controle.

Outro exemplo é o momento de fechamento que também gera ansiedade, pois é necessário abrir mão de ideias que se tem apego. A inovação é sempre feita em conjunto e vai gerar conflitos de ideias. Como eu me preparo para aceitar que as coisas nem sempre vão acontecer da forma que eu acho melhor? O processo de desapego também é um processo emocional que pode gerar sofrimento, se não estivermos preparados para isso. Como eu aceito aquilo que é e não fico pensando em como eu gostaria que fosse? Se isso acontecer, não estaremos nos dedicando inteiramente àquilo que é, àquilo que decidimos e o resultado final será comprometido. E isso acontece a todo momento em processos de inovação. Terão vantagem competitiva os profissionais que se conhecerem.

L: O que nos impede de gerar inovação?

R: São os padrões que nos prendem. E por que eu crio padrões? Para me proteger. Mas toda proteção me limita. Ao longo da vida, vamos criando diversas proteções, mas é provável que hoje a maioria delas não nos sirvam mais. Porém, nem sequer sabemos que as temos, pois convivemos com elas desde que nos recordamos como pessoa. Essas limitações nos impedem de chegar onde desejamos. Dentro dessa zona de proteção tem tudo o que já sabemos, o que já testamos e o que já conhecemos. A inovação não está aí. O novo, o diferente, a inovação, está fora disso, está fora da nossa zona de proteção e, às vezes, é um processo dolorido, pois criamos essa proteção justamente porque algo lá atrás nos magoou. Queremos fugir desse sofrimento. Para conquistar o novo, precisamos romper estes padrões. Se não somos capazes de encontrar o novo dentro de nós, não somos capazes de encontrar o novo em nossa área de atuação.

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