DesignOps: 5 segredos que não lhe contaram sobre estar neste papel

Alexandre Mateus
DesignOps Lab
Published in
7 min readFeb 26, 2020
Deserto do Atacama

Quando viajei para o Deserto do Atacama (Chile), realizei um planejamento para enfrentar -15 graus negativos durante um passeio específico, Gêiseres do Tatio, um espetáculo natural único no mundo, com 80 gêiseres fumegantes a 4200 metros de altura. Sabiamente adquiri com antecedência as roupas apropriadas para tal temperatura, porém meu calçado não era compatível com uma condição de neve que ocorreu inesperadamente naquela época. Afinal, como eu iria imaginar que iria nevar no deserto mais árido do mundo?

Em outra ocasião, em uma viagem com destino a Machu Picchu (Peru), ao desembarcar na cidade base (Cusco) que fica a aproximadamente 3.400 metros acima do nível do mar, fui acometido pelo “mal da altitude”, com sintomas de náuseas, fraqueza e forte dor de cabeça, que me fizeram replanejar alguns roteiros. Havia estudado previamente sobre os efeitos no organismo da exposição aguda a baixa pressão e oferta parcial de oxigênio em altas altitudes, porém muitos relatos descreviam que se tratavam apenas de uma insignificante e passageira situação. Novamente meu planejamento havia sido sobrepujado.

Algum tempo mais tarde, viajei para Ásia com destino a Bangkok (Tailândia), meu planejamento previu os temidos efeitos do “jet lag”, distúrbios do sono decorrentes da grande diferença de fuso e ainda amplificadas pelo cansaço das mais 30 horas de voos entre tantas conexões. Surpresa: Aquela sonolência que deveria durar pouco tempo se estendeu por vários e vários dias, o que evidentemente não havia sido previsto em meu planejamento.

Planejamento: Tudo é perfeito, até a primeira restrição se manifestar.

Nos últimos 7 anos de minha carreira profissional (do total de 13 anos), tive a oportunidade vivenciar inúmeras experiências profissionais, atuei como o primeiro UX Designer da companhia, depois desempenhei o papel como primeiro Lead UX Designer e recentemente como o primeiro Design Ops. Em todas ocasiões, por um lado está aquele sentimento de conquista por deixar um legado para a companhia e por ter aberto uma trilha, para que os novos profissionais se beneficiem (inclusive, novos profissionais que são muito melhores que eu). Por outro lado, nesta carreira solo, permaneço eu, meus planejamentos e uma única certeza de que “na prática, a teoria é outra”.

Na pratica, a teoria é outra.

Para você que pretende desbravar os caminhos do Design Ops, ou pretende embarcar nesta jornada carreira solo, ofereço meu testemunho que poderá lhe apoiar no seu indispensável planejamento, onde confidencio 5 segredos que não lhe contaram sobre estar neste papel.

1. Primeiro de tudo: Você não é Design Ops (você “está” Design Ops)

Quando você se hospeda pela primeira vez em um Hotel ou vai pela primeira vez em um consultório médico, em geral, ao fornecer seus dados na recepção, você já deve ter se deparado com a seguinte pergunta:

  • Qual sua profissão?

Provavelmente você colocou Designer, correto?

Ou colocou Design Ops?

Ou então, Superintendente de Operações de Design da Multinacional XYZ?

O conceito que quero explorar, é que dentro da profissão de um Designer existem diversos papéis que ele pode assumir (UX, UI, Design Ops, Design Manager, etc), porém indiferente desta sopa de letrinhas, o mais importante é entender que profissão (Designer) é uma coisa diferente dos papéis que dela derivam.

Eu mesmo já migrei várias vezes entre muitos papéis dentro de minha profissão como Designer e, atualmente eu estou atuando como Design Ops, compreendendo que é uma etapa dentro da minha carreira, me proporcionando aspirar por atuar em novos papéis futuramente, com CX (Customer Experience), por exemplo.

Na sua carreira você pode evoluir e agregar outros papéis ou mesmo fazer um rollback para aquele papel que você atuava anteriormente, UX por exemplo.

Indiferentemente da ineficaz e desnecessária massagem no ego que estes papéis possam lhe proporcionar, lembre-se que na sua profissão você ainda continuará sendo um Designer, um detalhe muito importante por sinal, pois como tal você estará sempre alicerçado para inúmeros desafios que você enfrentar.

2. Você se tornou Design Ops e agora acredita que vai resolver magicamente todos os problemas?

Talvez possa parecer que você se tornou um ser iluminado, dotado de superpoderes capazes de resolver tudo e de forma definitiva. Entenda: Você só consegue resolver uma classe de problema: o seu, também chamado problemas de locus interno (sua carreira, sua motivação, sua performance, sua habilidade técnica, seus processos, etc).

Você não é responsável por resolver os problemas dos outros, que são responsabilidades deles e/ou de outras áreas. Logo, se você não resolve problema algum. O faz um Design Ops então? Você remove as restrições, tirando-as da frente, que são aquelas pedras no caminho que estão impedindo algo ou alguém (você ou qualquer outra pessoa, área ou processo) de performar melhor.

Se hoje você remove uma restrição que esteja impedido um Designer de performar melhor pois não tem um notebook para fazer um teste em campo, daqui 6 meses a próxima restrição possa ser que este mesmo notebook esteja lento demais para os softwares que ele precisa executar. Isso ocorre porque as restrições são migratórias e surgem novas restrições a cada dia, com a mesma naturalidade com que se formam as nuvens no céu. Cabe a você atuar nas restrições e aos demais stakeholders resolverem os próprios problemas que estão gerando essas restrições.

3. Consuma seus benchmarks, com moderação

Como um bom Designer, no papel de Design Ops acredito que você também venha fazendo inúmeros benchmarks sobre o que outras empresas vem praticando acerca do papel do Design Ops. Possivelmente você também tenha feito alguns cursos ou ido a eventos que abordem este tema.

Em todos estes casos, na minha opinião, é incrível o aroma de romance que paira no ar enquanto são apresentados os famosos “Cases de Sucesso em Design Ops”, ou aquele recém lançado e faraônico “Mega Design System”. Embriagado pelo romance que acabara de ser ungido em você, enquanto você volta para casa secando suas lágrimas de emoção, provavelmente você fica pensando: Como vou colocar tudo aquilo em prática?

São inúmeras práticas e ferramentas que transbordam seu bloco de anotações e você permanece com um grande desafio: Como colocar tudo aquilo em prática dentro do cenário que você trabalha (na sua cidade, na sua companhia, com sua equipe, com seus recursos). É mais ou menos como você tentar repetir aquela receita maravilhosa do Masterchef Internacional, porém com os itens da sua cesta básica. Simplesmente, não dá!

Você precisará improvisar para conseguir harmonizar e colocar em prática aquele romance das estrelas do Design Ops do primeiro mundo, adaptado com muita sensibilidade para suas condições. (Dica importante: é isso que tornará você um Designer diferenciado para sua companhia). Se conseguir fazer tudo isso sem desanimar, melhor ainda!

Lembre-se, jogo é jogo. Treino é treino. Cinema, livros e palestras aceitam de tudo. Sua companhia, não necessariamente.

4. Você é um agente de mudança, e isso pode e certamente vai incomodar algumas pessoas

Se você trabalha em escritório, provavelmente tem uma pessoa responsável pela limpeza do ambiente, cuidando da retirada do lixo, limpeza do chão, organização da cozinha e dos demais ambientes. Rapidamente você percebe que a pessoa da limpeza faltou ao trabalho porque o lixeiro do banheiro está transbordando e já há papel higiênico sujo e jogado no chão. Ou então, você percebe que a pessoa da limpeza veio trabalhar quando ela liga o aspirador, fazendo aquele som uníssono enquanto você tenta se concentrar em algo que estava fazendo.

O Design Ops é como se fosse aquela pessoa da limpeza, o aspirador de pó é a ferramenta que ele usa para remover as restrições que possam estar impedido algo de performar melhor e o barulho é o resultado que isso gera. Afinal, para se fazer uma limpeza digna, você precisa mover as coisas de lugar, abrir as gavetas e tirar o pó e mofo com muito afinco. As pessoas mais sensíveis poderão se incomodar, mas fique tranquilo, com o tempo as pessoas vão entender a importância que a pessoa da limpeza tem em proporcionar um ambiente apto e organizado para o trabalho.

5. Você gosta de popularidade? Deixe-me avisar uma coisa: Você poderá desapontar algumas (várias) pessoas

Você terá que lidar com inúmeros Stakeholders (Gestores, Designers, Desenvolvedores, Gerentes de Produto, Scrum Masters, etc), cada qual com suas expectativas e insuportáveis dores que podem somente existir dentro do universo dos 2 metros quadrados de suas mesas. Irão clamar para você lhe concedam doses cavalares de morfina para acabar com todo sofrimento que sentem, porém sem saber que você não é médico e tão pouco um semi-deus, poderão ficar frustradas por você ter pensado no coletivo e não ter feito exatamente o que eles gratuitamente sugeriram (também traduzido como: porque você não faz o que eu digo?).

Sim, meu nobre Design Ops, você poderá frustrar as pessoas, diariamente, pois precisará remover as restrições (e não resolver os problemas que são destas mesmas pessoas), sempre pensando no coletivo e harmonizando para criar uma solução que seja melhor para companhia. Lembre-se, você só deve satisfação para uma pessoa: Seu Gestor. Se você e ele estão alinhados, siga em frente.

Você só deve satisfação para uma pessoa: Seu Gestor. Se você e ele estão alinhados, siga em frente.

Até logo mais ;-)

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