Semana 9 — O prelúdio para um final insondável

Marco Rigobelli
desleiturasemsérie
3 min readJan 7, 2017
Ilustração: Brett Helquist

O penúltimo volume de Desventuras em série te coloca nos sapatos dos irmãos Baudelaire que sem mais nem menos tornam-se funcionários do Hotel Desenlace e espiões para uma facção que ainda não entendem muito bem. Parece que tudo acontece no escuro durante um livro, estruturalmente, trabalhado como prelúdio para a última história.

Começamos O penúltimo perigo ainda com mais perguntas do que respostas. Lemony Snicket parece cada vez mais pessoalmente envolvido com a história de Violet, Klaus e Sunny, ele talvez tenha até aparecido fisicamente durante essa história. Mas, como tudo mais nela, isso acaba ficando nebuloso ao final do livro. Finalmente no Hotel Desenlace, os irmãos precisam lidar com sua estrutura e organização confusas enquanto lutam para sobreviver no meio da guerra entre duas facções que parecem mais preocupadas uma com a outra do que em alcançar os objetivos. Andando de carona no meio dessa conspiração confusa, eles se vêem mais uma vez obrigados a tomar as rédeas da situação.

No duodécimo livro nós reencontramos vários personagens que apareceram anteriormente. Charles e o Senhor, Juíza Strauss, Jerome Squalor, entre vários outros que de alguma forma confirmam algo desenvolvido durante toda a história: os irmãos Baudelaire são os únicos personagens maduros de Desventuras em série. Todos os adultos se comportam como crianças, a própria Carmelita serve muito bem como base porque não é tão diferente assim dos adultos tanto em comportamento quanto em ideias. A crítica que O penúltimo perigo faz ao raciocínio binário e ao maniqueísmo é o mais incisivo de toda a série. Aqui estão todos tão preocupados com o que o outro lado planeja que no fim apenas os Baudelaire parecem interessados em alcançar um objetivo. O problema é que a confusão dos conflitos entre as outras pessoas no hotel acaba, como aconteceu nas outras onze vezes anteriores, virando um enorme problema nas mãos dos protagonistas.

O livro doze me lembrou muito de comédias sobre cortiços e hotéis nas quais ninguém naquele ambiente é normal, e toda cena é uma situação ridícula em potencial. Para isso, os personagens que já conhecíamos foram muito bem usados, assim como a estrutura física do próprio hotel que ainda conseguiu guardar um segredo só revelado nos capítulos finais. Além disso, a história e a própria linguagem faz todo o possível para reaproveitar ideias e referências a coisas vistas em livros anteriores. O fato de um disfarce tão bobo quanto concierge funcionar bem como as fantasias estúpidas do conde Olaf é um exemplo. As referências literárias são cada vez mais evidentes, com conceitos como flanêur (que na literatura é quando o narrador observa e descreve cada detalhe de uma cena sem, no entanto, fazer-se percebido) sendo muito bem explicados, demonstrados e até usados durante a narração.

Gosto de O penúltimo perigo porque é o primeiro livro na série em que de fato sinto a autonomia dos irmãos Baudelaire, quando eles percebem depois de tudo pelo que passaram: ninguém pode ajudá-los, mesmo as pessoas mais dispostas a fazer algo por eles não é capaz de livrar as crianças de suas desventuras. Ainda que seja um livro tão pessimista quanto os outros, com um final ainda mais preocupante do que os anteriores, ele ainda deixa uma pequena ponta de esperança, porque os jovens Baudelaire estão mais preparados para lidar com os próprios dramas do que qualquer tutor.

Finalmente chegamos na última semana da nossa maratona! Pelo nosso cronograma, na quarta-feira (04) começaríamos a leitura do último livro, O fim. No entanto, as coisas ficaram um pouco corridas nesse começo de ano e acabamos atrasando um pouquinho. Assim, decidimos prorrogar o período de leitura para o dia 13/01. Depois, vamos só curtir a série no Netflix! Ansiosos?

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