Um outono de mudanças

Sobre a nova casa do Despautada

Fernanda Eggers
despautada
Published in
7 min readMay 28, 2024

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Nas redes sociais, todo mundo já sabe. Só me faltava o anúncio formal: estou de mudança. Migrei a casa do Despautada daqui do Medium para o Substack. Eu gosto daqui, gosto da aparência, mas não resolvia todas as minhas questões. E uma mudança de vez em quando é bom. Mudar é necessário e eu sou uma dessas pessoas loucas por um projeto novo. Mas vamos às minhas questões:

Tudo espalhado

Comecei o Medium do Despautada porque eu já escrevia uns textos aqui de vez em quando, no meu perfil pessoal e não queria que o podcast ficasse sem uma “casa”, um lugar para onde direcionar as pessoas para além da página do podcast no lugar que eu estivesse usando pra fazer a distribuição. A aparência clean e a suposta facilidade do Medium me agradaram. O mais adequado, na época, teria sido montar o blog+podcast no Wordpress, mas a trabalheira que ia dar me cansou antes de eu começar. Nunca achei o Wordpress fácil. E meu primeiro blog era feito todo no código, pra ficar do jeito que eu queria.

O podcast sempre foi experimental em tudo. Mudei de casa até cansar, descansar, e mudar de novo. Testei diversas formas de gravar e vou alterando o formato episódio a episódio. No início mal tinham blocos, agora tem as musiquinhas pra indicar os blocos mesmo que eu não os anuncie, por exemplo. E quanto à distribuição, comecei no SoundCloud. Quando vi, ia precisar pagar. Mudei pro plano gratuito da Megafono, armazenando o áudio no Archive.org. Vacas gordas vieram, passei a pagar o Megafono, na época valia muito a pena. Vacas magras vieram, voltei ao método gratuito do Megafono.

Mas ficou incrivelmente cansativo. Fazer upload no Archive.org, puxar pro Megafono, fazer texto pra descrição do podcast, pro Medium e pras redes sociais; fazer arte pro podcast, pro Medium e pras redes sociais; colocar o episódio publicado para tocar embedado no post do Medium… e pandemia. Zero energia. O podcast foi parando, parando, até que parou.

Eu senti saudades à medida que a energia foi voltando, mas precisava simplificar. Saí do Megafono e “vendi minha alma”: fui pro Anchor, já adquirido pelo Spotify. Pelo menos me permite publicar de forma gratuita. Reduzi um dos meus trabalhos. Perdi todas as métricas dos episódios anteriores. Não consegui confiar nas métricas que o Spotify me apresentava.

E continuava fazendo 3 textos, 3 artes, puxando link de publicação de um canto pro outro e sonhando em publicar podcast e blog num canto só, única e exclusivamente porque gosto da ideia e sei que não vou fazer algo a não ser que me agrade. Acredite, já conversei comigo mesma muitas vezes pra tentar me convencer a largar isso de fazer 3 textos e me concentrar apenas no corpo da descrição do podcast. Porém eu tenho a sensação de que ninguém lê a descrição dos episódios de podcast. No fundo, no fundo eu sou uma escritora e quero ser lida. Mesmo que esteja desanimada com a atividade e o exercício da escrita. Era o que eu sempre soube fazer e, se não fazia bem, fazia ao menos de forma satisfatória. Então foi o que vendi no mercado de trabalho e escrevi nos meus empregos até ter crises de ansiedade quando pensava em escrever por mim e para mim. Mas isso é assunto para um outro post.

Eu também sou uma matraca, que comecei a falar cedo demais e nunca mais calei a boca e também quero ser ouvida. E quero ouvir os outros pra ter ainda mais o que falar e a conversa não acabar nunca. Acho que daí vem minha paixão com podcasts, também.

Tudo num canto só

Já vinha paquerando com o Substack tem um tempo. Virou um nicho de escritoras brasileiras resgatando a crônica como um estilo literário feminista (esse estilo antes tão tido como masculino) e comecei a acompanhar algumas por lá. O aplicativo é bacana, bonito, intuitivo. Me lembrou os agregadores de RSS por onde eu acompanhava os blogs. Já bateu a nostalgia. A página das publicações tem um aspecto padrão bem clean e é possível editá-las. Algumas que eu olhei para me inspirar tinham um ar de blog do Wordpress atualizado para os anos 20 do novo século. Já fui me sentindo em casa.

E me permite publicar o podcast junto com o texto. Num canto só. Cria para mim as artes para postar nas redes sociais. Formatinho 1:1 e 9:16. E tem a newsletter, tão na moda, como o carro-chefe do serviço.

Numa madrugada de edição dessas, eu migrei o feed sem nem pensar muito. Impulsiva, eu? Imagina…

Perdi o acesso à todas as métricas do Spotify, óbvio. Fiquei com uma home meio bagunçada. Se eu quisesse vender o espaço para anunciantes, já não teria nada pra apresentar: de acordo com as novas métricas do Substack, eu comecei hoje, não em 2018, e não tenho nenhum ouvinte. Assim como quando saí do Megafono para o Anchor/Spotify. Tem problema não: nos agregadores e nas plataformas de áudio todo o conteúdo está disponível e sei que o/a Ouvinte continua comigo.

Outra coisa que o Substack apresenta é a possibilidade de ter um feed exclusivo para assinantes. Então o podcast continua gratuito para geral, mas posso criar o feed paralelo para justificar o apoio de quem quiser colaborar para a manutenção do Despautada. Já dá pra fazer umas coisinhas diferenciadas. Dá pra permitir que apoiadores de outros cantos, como o apoia.se e o kofi, recebam esse feed exclusivo também. Oras, dá até pra permitir apoiadores aleatórios via pix por um tempo limitado (desde que a pessoa providencie seu endereço de e-mail na mensagem do pix).

Tem várias outras coisas que o Substack oferece como serviço e pretendo explorá-las com o passar do tempo. Vou ficar muito feliz em receber cada um na nova casa! De resto, continua tudo como sempre: seu episódio no agregador, as aleatoriedades no Instagram e as informações extras no texto do blog — que agora será a descrição do episódio também.

Se você é dessas pessoas que estão abraçando o retorno das newsletters com alegria, poderá receber o episódio no seu e-mail toda semana.

Alma vendida é alma vendida

Claro que o Substack não é um sonho. É uma empresa que, como qualquer outra nesse mundo capitalista em que vivemos, visa o lucro. E todas as coisinhas legais que oferece para seus usuários, inclusive a possibilidade de eles ganharem algo com as bobagenzinhas que escrevemos e outros acham interessantes, é para que eles possam ganhar ainda mais dinheiro e atrair os usuários com promessas de lucro, porque afinal de contas os boletos não se pagam com likes, amor, gentileza ou conhecimento.
Mas se a Energisa estiver aceitando, estou pronta para pagar a conta de luz do mês com uma bela palestra sobre a cor azul.

Olá, eu gosto de dinheiro

Vi um texto que falava que assim como o GoogleReads matou o feed RSS, o Medium matou os blogs e o Spotify está matando os podcasts, o Substack veio para virar sinônimo de newsletter e, no fim, matá-la. Mas é isso que o sistema político-econônimo em que vivemos faz: mata aquilo de que se alimenta e parte para a próxima vítima. Não sei, no entanto, se qualquer dessas grandes corporações capitalistas matou qualquer uma dessas coisas.

Porque veja: o espírito do blog continua aí. O Medium não exterminou o Wordpress, muita gente continua produzindo lá. Várias empresas mantém seus próprios blogs para serem vistas e reconhecidas como referência em suas áreas. Várias pessoas começaram suas pequenas empresas por causa de seus blogs, que continuam ativos. O próprio Substack pode ser visto como uma plataforma de blog.

O podcast segue existindo em milhares de plataformas para além do Spotify e muitos deles não estão tocando na empresa sueca. Vários daqueles que se tornaram “exclusivos Spotify” na ação que a empresa fez na tentativa de se tornar a “casa do podcast” se arrependeram ao término do contrato. Ganharam novos ouvintes, mas a base se foi por um tempo (depois voltou, porque o importante é que a gente sempre volta para o que gosta). Precisaram de alguns meses para angariar novamente os assinantes que faziam com que seus podcasts fossem viáveis.

O Google não matou o RSS, afinal a distribuição de blogs, podcasts, videocasts e afins continua sendo feita através desse caminho.

No fim das contas, o ser humano quer se comunicar. A gente flui como maré para este ou aquele meio; leva nossas criações para uma plataforma ou outra. E isso não começou no blog, na internet. Quantos zines não existiam antes? Folhetins feitos em casa, recortados, colados e xerocados nas gráficas para distribuir? Impressos em casa mesmo, mais tarde? Quantas formas a gente não já inventou de distribuir uma ideia de forma barata, até que se tornasse cara por ter se profissionalizado? Ou justamente o caminho inverso, foi ficando mais barata pela popularização?

Se tem algo que o curso de Comunicação me ensinou é que mídia nenhuma morre. Ela muta, se modifica, se reinventa. O cinema não passa mais jornal nem novela. Mas segue aí. Acho que não se ouve mais novela no rádio também. Mas a radionovela encontrou novo lar, décadas mais tarde, no podcast. E continuamos a ter rádio. A TV está na Internet, mas segue sendo transmitida por ondas e captadas por antenas, disponíveis e acessíveis caso você conecte seu aparelho no cabo no dia em que sua Internet faltar. Livros, revistas, até mesmo o jornal impresso. A duras penas, até ele continua veiculando.

O Medium pode acabar. Wordpress fechar as portas. Substack encerrar ativides. Google, Spotify e Amazon podem pegar fogo. Se houver internet, o blog e o podcast continuam. Se não houver, teremos todos os formatos analógicos, que gestaram os digitais, prontos para serem reaprendidos.

Li o texto que falava do Substack depois de já ter migrado o feed, mas não tenho arrependimentos. Quando a gente tem grana, pode fazer do jeito que quiser. Se manter livre e à parte das corporações. Quando a gente não têm, precisa dançar a dança, nem que seja um pouquinho. Não dá é pra achar que elas são donas da gente. Ou mesmo deixar que seus CEOs achem que elas nos possuem ou às nossas criações.

Obrigada pelos peixes

O texto era pra ser curto, apenas indicar o novo lar, avisar que vou parar de atualizar o Medium, mas ele continua aberto, acessível e cheio de referências para os episódios. Vou fazer tudo pelo Substack, mas continua gratuito. Acabou virando um desabafo sobre mídias e comunicações.

Espero que tenha sido, ao menos, um desabafo agradável de se ler e aguardo você no próximo episódio!

https://despautada.substack.com/

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Fernanda Eggers
despautada

Jornalista, podcaster, fotógrafa, curiosa e ávida leitora. Sempre buscando novos horizontes.