A estratégia da pinça eleitoral

Alex Campos
Despolitica
Published in
3 min readSep 10, 2018

Este pode ser o primeiro de muitos textos sobre política, ou o único, tudo depende do meu humor, mas achei importante alguém falar sobre os candidatos “fake” que vemos a cada quatro anos.

Seja em eleições de presidente, governador ou prefeito, uma coisa é certa: sempre teremos Bouloss(Bouloses? Bouli?) e Daciolos nos entretendo com ideias estapafurdias, dignas de qualquer gibi. A pergunta que muitos fazem é: Será que os partidos não sabem que estes candidatos não somente não tem chance, como estão lá apenas para passar vergonha? Não se iludam, amiguinhos, eles sabem bem.

Na verdade, sabem tão bem que me espanta como é difícil encontrar qualquer conteúdo sobre o assunto, portanto, tomei a liberdade de chamar a estratégia de pinça eleitoral.

Um candidato típico deste sistema é aquele o qual ninguém ouviu falar, mas que aparece como um “nome das massas”. É sempre de um partido ideológicamente extremo, alguém sem grande histórico político, mas com algum título qualquer, líder de x grupo social, ou afins. Eles não tem vergonha de passar vergonha (ou vocês acham que eles realmente são idiotas que não sabem se portar na frente de um jornalista?), sabem que não serão eleitos e nem candidatos nas próximas eleições. Eles estão lá para tentar uma candidatura menor no futuro e para servir aos partidos maiores como pinças.

Pra que servem os candidatos da pinça? Dois propósitos:

1° Tempo de mídia para atacar candidatos do grupo adversário.

Situação A: Todo bom candidato tem um tempo X de tv (definido pelo tamanho de sua coligação) e deve seguir regras de cordialidade, sem ataques diretos ou acusações dolosas para evitar complicações. Mas e se estes ataques e acusações vierem de outro candidato não relacionado?

Situação B: Todo candidato tem um número de perguntas e respostas em um debate eleitoral. Como perguntar (ou acusar) outro candidato, sem comprometer sua própria pessoa? Exato, com uma candidatura fake.

2° Indicador de bom senso.

Quantas pessoas conhecemos que votam em fulano pois ele parece o mais razoável? Pois é, estes candidatos extremos servem como caricaturas, acentuando características não tão desejadas dos candidatos “de verdade”, a fim de fazer o primeiro candidato parecer melhor.

Situação A: É, eu não concordo com a invasão de propriedades que prega a extrema esquerda… mas aquele ali que fala só dos improdutivos parece bem mais moderado. (Quem definirá o que é produtividade?)

Situação B: Poxa, eu não votaria em um cara que fala “em nome de Jesus” a cada frase, mas aquele outro ali parece um rapaz direito. (Quem definirá o “quão” laico é o estado?)

O sistema é bem simples, ambos defendem a mesma coisa, mas um tem um discurso bem mais contido que o outro. Posicionando assim o candidato principal ao centro da pinça ideológica como alguém mais racional.

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A estratégia da pinça é simples, mas funcional. Criando uma candidatura falsa, os partidos ganham em tempo de TV, ganham um testa de ferro disposto a falar o que quiser e ganham também um candidato “fake” que melhora a imagem do candidato real. A pinça transforma todo candidato em centro. Existe a esquerda extrema, a direita extrema, e os candidatos pinçados.

O que ganhamos nós? Um bando de patetas a nos divertir com propostas estapafúrdias e bordões dignos de pena. Em nome do senhor cinquenta tons de temer.

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