Cardinal
Poema de Dia Nobre
A Bárbara Matias
descendo a ladeira de costas
lá vem a mulher que sangra pelos olhos-boca-peitos-vagina
vagina vagina vagina
ela anda em compasso-amordaçada-algemada,
cambaleia, buscando no ventre, a força
a força a força a força
ela pensa
nas que vieram antes e nas que virão depois
depois depois depois
ela é fêmea-irmã-mãe-esposa-amante
e nas mãos segura o coração amolecido
como cacto afogado pela chuva
mas que ainda bate
bate bate bate
ela é mulher-raiz-cúrcuma-beterraba
tubérculo úmido que escurece na dor
carcaça de vaca encontrada no meio da caatinga mugindo
mugindo mugindo mugindo
ela é prosa, rima e poesia
pássaro-urutau-mãe-da-lua melancolia
melancolia melancolia melancolia
de noite, acocorada no terreiro
sonha com milhões de mulheres
e lambe suas pegadas,
chupa suas feridas
come a dor de seus corações
no dia seguinte acorda, apaga a luz do lampião
e olhando pro céu firme, resiste.
resiste, resiste. resiste.
Conheça o trabalho de Dia Nobre aqui
Conheça o trabalho de Anne aqui