Fortaleza

Revista Desvario
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2 min readJan 23, 2023

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um poema de Luiza Leite Ferreira

Interno, plano médio. Sobre uma bancada quadrada branca, há duas formas feitas com arame farpado. A da esquerda se assemelha ao formato de uma cabça em pé,  sendo mais aberta, enquanto a da direita é mais vertical e cerrada. Elas estão conectadas por um fio do arame farpado que vai de uma à outra. Ao fundo, parede branca.
(arte de Patricia Guerreiro)

No pôr do sol do terceiro dia
escalamos as falésias
a cada passo
nossa fortaleza ruía

Ao fim da subida,
desfeito o castelo de areia,
escorregamos nas dunas até cair no mar

E sob a luz da meia-lua e o manto de estrelas
navegamos numa canoa quebrada até a baía de
Guanabara
onde escalamos concreto
percorremos asfalto
e batemos contra um muro de cimento

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Esse é um poema do livro É na Cacofonia que eu me escuto, da Caravana Editorial, que você pode adquirir aqui

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Testemunha Muda: uma breve apresentação da arte de Patricia Guerreiro, por ela mesma

O arame farpado tem em sua natureza segregar, impor limites, dividir e ferir a quem ousar transpor. Não importa raça, idade, credo ou gênero, ele está presente em todos os recantos deste planeta.
E em pleno século XXI continua a desunir seres. Evoluímos?
Assisto diariamente cenas de seres humanos e animais em fuga, presos, enclausurados ou marginalizados com o arame farpado em sua volta desafiando a liberdade .
Quanta esperança habita quem o quer transpor? Ultrapassar seus limites?
Essa esperança é que alimenta minha arte.
Um trabalho que me leva ao cerne da questão da segregação que não vê quem ou o quê.
Homens, mulheres, crianças, animais… vidas. Seres vivos.
É difícil conviver com essa realidade. Assim, resolvi esculpir. O arame farpado que machuca também pode virar arte e ser sinônimo de liberdade.

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Foto e bio. LUIZA LEITE FERREIRA nasceu no Maranhão, em 1990, e vive em Niterói. Formou-se em jornalismo e especializou-se em tradução. Em 2020, coorganizou a antologia de contos “Debaixo do mesmo céu”, com André Diniz. Em 2022, integrou a equipe de poetas da Fazia Poesia. “É na cacofonia que eu me escuto” é seu 1º livro. Foto: interna, close. Luiza tem cabelo castanho escuro longo e pele morena. Usa batom vermelho e sorri. Usa blusa branca. Tem olhos escuros. Atrás, há uma estante de livros

Conheça o trabalho de Luiza aqui , aqui e aqui

Foto e bio da artista. PATRICIA GUERREIRO vive e trabalha no Rio de Janeiro. Em seu trabalho, aborda a objetificação e a violência do corpo como resultado de diversas intervenções e interpelações. Sua pesquisa se amplia para as questões de violência sobre o corpo segregado, populações excluídas e movimentos migratórios. Foto: Interno, estudio, plano médio. Patricia está de pé, com as mãos nos bolsos. Ela tem cabelos longos, ondulados, e castanho escuro. Ela tem olhos escuros e sorri.

Conheça o trabalho de Patricia aqui

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