Queda

Clara Dias
revistadesvario
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2 min readOct 29, 2019

Poesia de Clara Dias

Ilustração de Marinna Rodrigues

Eu tinha doze anos quando vi a primeira estrela cadente

Aniversário materno comemorado na praia

Já eram tempos de solidões inóspitas precoces

Conhecimento demais, maturidade de menos

Idade da crença no invisível e do gosto vadio por grandiosidades

Desejei um amigo

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Eu tinha quinze anos quando vi a segunda estrela cadente

Moradia inédita recém-construída no centro das elegibilidades

Os tempos reviraram-se de solidões inóspitas e profundas, profundas demais

Conhecimento de menos, fé de menos

Idade da descrença no plausível e do gosto insosso por teimosias vazias

Desejei um amigo

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Eu tinha 22 anos quando vi a terceira estrela cadente

Peito aberto para inaugurações na zona das brahmas extra

Nos novos tempos solidão tem tratamento médico

Conhecimento consciente, maturidade crescida

Idade da criação do invisível e do gosto crescente por pequenezas escondidas

Já tinha um amigo

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Eu tinha 22 anos quando deixei seu cometa passar pela minha janela

Como à Terezinha, a terceira foi aquela que estendeu a mão

Só para costurar os tracejados do fogo na pele noviça

Conhecimento de guerra, maturidade secreta

Idade de saber que estrelas não se embalam para presente

Nunca desejei eternidade, meu bem

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Mas se me jura que somos estrela cadente

Que queime até a última chama antes de chegar ao chão

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Clara Dias
revistadesvario

Jornalista, metida à artista e entusiasta da solidez.