Queda
Poesia de Clara Dias
Eu tinha doze anos quando vi a primeira estrela cadente
Aniversário materno comemorado na praia
Já eram tempos de solidões inóspitas precoces
Conhecimento demais, maturidade de menos
Idade da crença no invisível e do gosto vadio por grandiosidades
Desejei um amigo
-
Eu tinha quinze anos quando vi a segunda estrela cadente
Moradia inédita recém-construída no centro das elegibilidades
Os tempos reviraram-se de solidões inóspitas e profundas, profundas demais
Conhecimento de menos, fé de menos
Idade da descrença no plausível e do gosto insosso por teimosias vazias
Desejei um amigo
-
Eu tinha 22 anos quando vi a terceira estrela cadente
Peito aberto para inaugurações na zona das brahmas extra
Nos novos tempos solidão tem tratamento médico
Conhecimento consciente, maturidade crescida
Idade da criação do invisível e do gosto crescente por pequenezas escondidas
Já tinha um amigo
-
Eu tinha 22 anos quando deixei seu cometa passar pela minha janela
Como à Terezinha, a terceira foi aquela que estendeu a mão
Só para costurar os tracejados do fogo na pele noviça
Conhecimento de guerra, maturidade secreta
Idade de saber que estrelas não se embalam para presente
Nunca desejei eternidade, meu bem
-
Mas se me jura que somos estrela cadente
Que queime até a última chama antes de chegar ao chão