Tudo outra vez

Revista Desvario
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Published in
Feb 28, 2022

um poema de Morgana Feijão

(Casa conjugada — Iris Helena)

sonhei com você.
caminhamos por inexistências de fortaleza.
churrascaria, carros, árvores escassas, prédios altos
e sol.

pavões de penas vermelhas passavam por nós.
você segurava minha mão antes de atravessar
dizia que agora eu usava mais você do que tu,
depois de quase dez anos longe.

odisseu voltou igual,
eu não.
dali a vinte,
até que podia ser. dez ainda são tempo de mudança.

vinha o ônibus azul
em que subimos por trás
e descemos pela frente,
agradecendo ao motorista.

para onde eu olhasse, tudo se enchia das penas
dos pássaros que inventamos
e de ti.

“tu volta quando?”,
sorriso empoeirado.
impossível voltar quando nem eu nem
a cidade que deixei
existimos mais.

olhamos para cima e
no sono de uma igreja um urubu alimenta os filhotes.

Conheça o trabalho de Iris aqui e aqui

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