Um poema de Marinés Scelta

Revista Desvario
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2 min read5 days ago

traduzido por Thainá Carvalho

(colagem de Kami Bou)

Ninguém para saciar minha fome
quando abandono o peso da viagem
descansa o corpo suas marcas
no roçar das correias
cheira a cansaço corta o ar recordar não
não me digas o nome desse pássaro
que agora cruza o horizonte como a noite

deixem-me meus olhos para me ver como fui
delicado o tato fez de minha pele um segredo
de espécies
um costume exótico

que parede golpeei
como a força que punho sangrou?

onde houve cães
enterramos os ossos e seu êxtase
uma palavra que macera sua raiz
debaixo da língua

abram-me o peito para soltar a inocência
e suas andorinhas
que queime o corte se hei de renascer depois
soltem-me o cabelo para trançá-lo
entre as ervas que só fazem crescer
tormentas como essas

se vou tropeçar com a mesma pedra
que agora saiba como cair

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Nadie para saciar mi hambre
cuando me quito el peso del viaje
descansa el cuerpo sus marcas
en el roce de las correas
huele a cansancio corta el aire recordar no
no me digas el nombre de ese pájaro
que ahora cruza el horizonte como a la noche

déjenme mis ojos para verme como fui
delicado el tacto hizo de mi piel un secreto
de especies
una costumbre exótica

¿qué pared he golpeado
cómo la fuerza qué puño sangró?

donde hubo perros
enterramos los huesos y su arrebato
una palabra que macera su raíz
debajo de la lengua

ábranme el pecho para soltar la inocencia
y sus golondrinas
que queme el corte si he de renacer después
suéltenme el pelo para trenzarlo
entre las hierbas que solo hacen crecer
tormentas como estas

si voy a tropezar con la misma piedra
que ahora sepa cómo caer.

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Esse poema faz parte do livro Así ha de ser la ausencia, El ángel editor. Quito, 2023

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MARINÉS SCELTA nasceu em Mendoza, Argentina, em 1984. É professora de Língua e Literatura além de conduzir oficinas. Faz parte do coletivo literário feminista “Write like a girl”, cujo objetivo é investigar e difundir a literatura feita por mulheres e dissidências, e a criação coletiva. Publicou “Saber lo que se pierde” (Peces de Ciudad, Buenos Aires, 2016) e “Otros territorios posibles” (elandamio edicione, San Juan, Argentina, 2021).

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KAMI BOU (Porto Alegre, RS) é uma artista independente e arte educadora. Estudante de Artes visuais (IA/UFRGS), sua pesquisa poética abrange a ressignificação de objetos e materiais gráficos. Utiliza elementos pessoais e garimpados para falar sobre questões latentes no país. Integrou exposições coletivas no Museu Érico Veríssimo e na Casa de Cultura Mário Quintana, em 2019 e 2021, respectivamente. Em 2022, realizou sua 1ª exposição individual, intitulada “Desagrado” na Fundação Ecarta.

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